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terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Astrofotografia: A primeira foto


IC 2391
 IC 2391 é conhecido também como o aglomerado de Omicron Velorum. Fica logo ao lado de Delta Velorum, uma das estrelas que forma o conhecido asterismo do Falso Cruzeiro.


É um aglomerado que tenho uma forte relação sentimental. Foi o primeiro aglomerado que descobri. Ou pelo menos redescobri.

Na época o Nuncius estava dando seus primeiro passos na arte de olhar os céus. Tinha comprado meu primeiro telescópio e passado uma temporada realizando um trabalho na Serra do Mar. Céu escuro e eu tentando entender como funcionava uma cabeça equatorial. Logo após este serviço eu consegui uma nova colocação em um filme que me levaria até Foz do Iguaçu. Na tríplice fronteira, consegui ir até o Paraguai em um dia de folga.

Um amigo já tinha ido até lá e me contara que tinha visto um binóculo enorme. E que era muito barato. Eu, inocente, puro e besta, fui direto à loja que ele indicara. Era uma beleza. 80 mm com um zoom de 15 até um numero impossível de ser verdade. Suas as lentes eram “coated” com mercúrio cromo (diziam que era ruby coated, aquelas lentes vermelhas...). Mas era barato. E eram 80 mm. O Trucuçu como veio a ser conhecido achava muitas coisas pelo céu, afinal um 80 mm é um senhor diâmetro para um binóculo. Na verdade o Trucuçu tinha suas qualidades. Mostrava tudo que eu apontasse. Com certa aberração, mas mostrava. No universo tudo tinha um desvio para o magenta...

Então fui para Buzios levando o “brand new” Trucuçu e comecei a olhar o céu.

Era bem iniciante e possuía um Telescópio  com quem ainda não tinha me entendido muito bem, um atlas estelar e o Trucuçu com suas lentes ”Mercúrio cromo coated”.

Comecei a vasculhar o céu junto ao falso cruzeiro e não demorei a avistar o belo aglomerado em forma de M.

-Uau, um aglomerado aberto bonitão!

Depois de muito olhar fui ver o Atlas. Não havia nada no local. O Atlas na verdade não era exatamente um atlas . Era um daqueles genéricos que tem entre seus capítulos uma coleção de mapas mensais com destaque para alguns objetos em cada constelação. Um bom Livro até: The Star Guide de Robin Kerrod. Usei então o programa que viera junto com o telescópio e nada lá também. Pronto achei meu primeiro DSO e rapidamente batizei de BZ 1.

Posteriormente descobri a verdade, mas aí eu já tinha curtido o barato de descobrir um DSO.

Talvez por tudo isto e por estar no lugar certo na hora certa eu resolvi que IC 2391 seria o alvo para meu primeiro experimento de verdade em astrofotografia.

Preparei tudo com calma. Montei os motor-drives na cabeça do meu 150 mm. Depois fiz um alinhamento polar. Provavelmente o mais cuidadoso que já fiz. Coloquei tudo a mão e preparei a câmera, T Ring e mais todos os cacarecos necessários para o evento. Estava esperando por isto a mais de um mês.

Malditas nuvens!

Eram 19h47min quando comecei a alinhar a buscadora com Venus. Este vinha caindo a oeste.

IC 2391 não era uma escolha totalmente sentimental. Eu sabia que era um aglomerado bem “claro” com uma magnitude de 2.5. Sabia também, graças às observações feitas na véspera que estaria bem na frente de minha janela entre 23h00min e 00h30min.

Primeiro fiz alguns testes para o foco usando Miaplacidus (Beta Carina). Aguardei até que a posição fosse ideal e apontei o telescópio para a vitima. Fiz algumas exposições para afinar o foco. E sentei o dedo.

É fazendo que se aprende. Fiz diversas exposições com 15 seg. E depois varias com 30 seg.
30 seg.


15 seg.

Pode-se perceber nas fotos que as com 15 seg. são menos afetadas pela poluição luminosa e que o numero de estrelas não muda. Como é um aglomerado muito brilhante acredito que é melhor fazer um “stack” com mais fotos de 15 do que de 30 seg.

Preciso evidentemente ainda aprender a usar dark frames e fotografar em raw, mas fiquei bastante feliz com o resultado destas primeiras fotos. Pensando friamente tudo pode ficar melhor. Mas ainda assim deu mais certo do que eu esperava e nem doeu. Pretendo fotografar todo o catalogo Lacaille. Creio que será uma boa escola.

Depois fiz o Stacking com o Rot and Stack. Um programa divertido, mas que usa de licença poética. Na verdade creio que se eu fizer um crop cuidados do mosaico final possa até mesmo parecer com o que se observa. Mas em todo caso ficou bem bonito. Esse mosaico é quase uma nova descoberta. Seria um lindo Aglomerado.
Rot n stack



Mas definitivamente a ferramenta certa para o trabalho é o Deep Sky Stacker. Ainda engatinho no uso deste. Mas a interface é até amigável.

Para não perder o habito vai aqui um mapinha para quem quiser conhecer este belo aglomerado galáctico registrado por Lacaille em 1752. Ele o descobriu bem antes de mim. É um excelente alvo para os astrônomos urbanos. Sua observação visual também é linda e o aglomerado possui diversas duplas que o tornam ainda mais interessante.


Continuamos andando...

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