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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

A Trilogia de Auriga: M36, M37 e M38



Auriga é uma das 48 constelações ptolomaicas. Para nós , bem abaixo do equador, ela marca o limite norte da Via Láctea que se estica para Cassiopéia já escondida da maioria de nós, Australis. A própria Auriga não é visível a partir de 34º sul.
Capella é sua estrela mais brilhante e se apresenta baixa no horizonte norte carioca.  
Auriga é a palavra latina para Cocheiro e a constelação representa Erichthonius, filho de Hephaestus e que foi criado por Athena. Muito inteligente foi o inventor da Quadriga, uma biga puxada por quatro cavalos, que foi primeiramente utilizada em batalha contra o usurpador do trono de Atenas Amphyction. Por causa deste evento Erichthonius foi feito rei de Atenas e como a Quadriga foi feita a semelhança da carruagem do Deus Sol Zeus o colocou entre as estrelas.
Sendo banhada pela Via Láctea diversos aglomerados abertos se hospedam nesta Carruagem celestial.
Mas três deles são clássicos que não deveriam deixar de ser conhecidos por qualquer astrônomo amador possuidor de aparelhos de qualquer tamanho.
Os três foram descobertos Giovanni Batista Hodierna anteriormente a 1654. Usando um refrator bastante modesto...
Para Localizar M 36, 37 e 38 primeiro localize Capella (Alpha Aurigae). Depois localize El Nath (Beta Tauri). Com elas localizadas perceba as mais discretas Theta Aurigae e Iota Aurigae.  Estas estrelas formam um inequívoco pentágono no horizonte norte.
Na Buscadora você conseguirá perceber os três DSO. Ainda que pequenos e apagados.
Ao sul de Capella e aproximadamente no meio do caminho entre Iota e Theta você vai localizar M36. Movendo pouco mais de meio campo de Buscadora para o oeste e levemente ao sul você vai perceber M37. E Meio campo a leste e um pouco a norte vai achar M38. Encontram-se bem próximos.
M36 vai parecer um disco de estrelas levemente mais denso e mais brilhante em direção ao seu centro. Perceba uma bela dupla no centro do aglomerado. Quanto maior seu telescópio mais estrelas vão se resolver. Em telescópios pequenos as estrelas mais brilhantes ficarão envoltas em uma bruma brilhante. Da trilogia Messier em Auriga M36 é o mais interessante em pequenos telescópios.  Use pouca magnificação.
M 36 possui cerca de 60 estrelas que se espalham por uma área de cerca de 15 anos luz. Esta localizada há 4000 anos luz de nós.  A maioria de seus membros são estrelas do Tipo B. Brilhantes, azuis e quentes...
M37 se apresenta para pequenos telescópios como uma nuvem oblonga de luz com poucas estrelas se resolvendo (cerca de cinco). Uma estrela alaranjada junto a seu centro irá se sobressair.  Assemelha-se a um globular em meu 70 mm. No 150 mm começam a se resolver muitas estrelas e desaparece a sensação de uma nuvem de luz. Utilize maiores magnificações. Em telescópios grandes M 37 é o mais interessante da Trilogia.
Este aglomerado é bem maior que M36 composto de centenas de estrelas com cerca de 150 ao alcance de meu 150 mm. As estrelas se espalham por cerca de25 anos luz e se encontram há aproximadamente 4500 anos luz.
M 38 se resolve mais facilmente que M37 e, em pequenos telescópios, se apresenta como uma nuvem de luz com certa granulosidade onde cinco estrelas se resolvem facilmente com visão direta e uma dezena de outras com periférica. Dependendo de quão escuro for seu céu elas se resolverão com direta também.
Difícil de perceber pela buscadora ele se apresenta como uma coleção meio frouxa de estrelas mesmo ao telescópio. Não percebo nenhuma estrela dominante no aglomerado. Mesmo com o 150 mm não o resolvo completamente.
Este aglomerado é composto de cerca de 100 estrelas e se espalha por 20 anos luz. Esta há 4000 anos luz da terra.




segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Astronomia , um Punk Velho e Sir Patrick Moore



Julian Temple e Dona Rosa - Morro do Cantagalo

O Texto é sobre astronomia. E sobre como ela deve estar presente no seu cotidiano.
É também uma homenagem.
Este mês se iniciou de uma forma bastante ativa e caótica.
Desta forma, achei, as chances de realizar qualquer tipo de atividade astronômica ficaram adiadas para o final do ano.
Passei dezesseis dias acompanhando um diretor inglês de renome (Julian Temple) na realização de um documentário para a BBC, uma TV britânica. Este cidadão foi o diretor de um famoso filme intitulado “The Great Rock and Roll Swindle”. Este conta à história da celebre banda Punk “Sex Pistols”. Ele mesmo ainda um Punk de carteirinha, apesar de sua já mais avançada idade...
O conceito de nosso documentário, batizado de " The Children of Revolution", seria apresentar a Cidade do Rio de Janeiro e sua história recente através da musica. Ou algo assim
 Parecia claro para mim que meu caro diretor não tinha a menor ideia de que filme ele estava fazendo. E eu menos ainda.
 Nossos dias consistiam em jornadas de 12 horas nas quais, às vezes, tínhamos uma ou mais entrevistas agendadas com alguma autoridade ou alguém do meio musical. Estas poderiam acontecer ou não.  Nos intervalos se filmava toda e qualquer coisa que aparecesse pela frente.
Mesmo entre deslocamentos por meio a um transito totalmente engarrafado nosso câmera man permanecia filmando através do para-brisa de nosso veiculo. E o nosso genial diretor também. Com sua pequena câmera amadora.
Este habito lhe rendeu o carinhoso apelido, por parte da equipe brazuca, de “O Tarado da Camereta”.  
Em seu quebra cabeça “filmográfico” nosso gênio criativo tinha uma tara especial por ar-condicionado. Filmávamos e capturávamos o som de diversos ares condicionados pela cidade.
 Uma completa loucura.  
 Este processo orgânico de criação era extremamente estressante para ao fotografo deste evento, Steve Organ. E este, que conhecia nosso diretor de outros carnavais, me alertou para o fato. E como seu assistente fui instruído a tentar manter um mínimo de ordem com relação ao nosso equipamento e ao que fosse filmado.
Desta forma eu mantinha sempre comigo uma mochila onde levava as lentes, baterias (duas sempre carregadas) e todo o “film Stock”. Cada uma das coisas em bolsos pré-determinados. E mais alguns acessórios. Fora o equipamento de iluminação. Este era um problema meu. Conseguir fazer tudo caber na mala da van também.


Ainda devo ser capaz de pendurar uma câmera em qualquer posição e utilizando diversas "traquitanas". Sempre que faço isto me lembro de minhas montagens para o meus telescópios. E percebo diversas possibilidades . Tanto para câmeras como para telescópios...
Este processo me lembra bastante as minhas aventuras astro fotográficas.  Nestas eu vivo um conflito de sistemas. Algo entre o processo orgânico de nosso diretor e o cartesianismo de meu querido fotografo.
Em geral quando vou fotografar eu tento (e quase nunca consigo) manter um “plano de filmagem”.
 Eu costumo iniciar o processo visitando um programa planetário e determinando quais serão as “entrevistas” da noite.

Localizar DSO discretos, para mim, é um processo orgânico e caótico.
A “La Mister Temple”.
 Eu tento localizar um alinhamento de estrelas e a partir destas achar o DSO.
Este só será percebido (se for) através da Ocular. No caso minha 25 mm.
 Isto me dá apenas 1º para acertar este “Chute”.
Na verdade é também um habito que você desenvolve com o tempo e o conhecimento das distancia quando vistas pela sua buscadora que vão tornar isto rápido (ou não).
Que nem as entrevistas do documentário...
Agora vamos à parte mais cartesiana do meu processo “criativo- astrofotografico”.  A “La Steve Organ”
Em primeiro lugar eu gosto de me certificar que possuo um alinhamento polar ao menos razoável. Em casa isto nem sempre é fácil devido às limitações espaciais do observatório.  Assim eu mantenho algumas marcas no chão e evito mexer na cabeça equatorial. Desta forma após fazer algumas fotos testes eu em geral consigo obter um acompanhamento com um mínimo de dignidade sem grandes sofrimentos.
Mantenho também, todo o equipamento necessário para a operação em uma mesa próxima a telescópio.
O “T-Ring” vive montado no telescópio. Desta forma após localizar o objeto e centralizar este eu retiro o porta ocular carinhosamente e com o auxilio de uma chave Allen acoplo a câmera com carinho a fim de não deslocar o telescópio.
Alguns procedimentos anteriores a tudo isto também me são caros.
Checar que as bateria do motor estão novas.
Que o Cartão da câmera esteja vazio e formatado.
Que as baterias da câmera estão carregadas.
Que a exposição já esteja realizada. Em geral 15 ou 30 segundos.
Que o Timer esteja “pré setado”. Preciso comprar um disparador remoto...
E que eu já tenha realizado marcas na cremalheira para auxiliar no foco.
Qua a buscadora esteja bem alinhada.
Que a buscadora Red dot tenha bateria.

Evidentemente que  sofro de algum gene bagunceiro em meu DNA.  Sempre  esqueço algum destes itens. É ahistória do astrônomo desastrado de novo...
Mas novamente sou obrigado a retornar a figura de meu diretor.
Foram 16 dias de filmagem onde eu não vislumbrava nem de longe o fio da meada que conduzirá o documentário
Apelidara o filme, a esta altura, de “Caos at the Temple”. Afinal, como já disse, diretor é Julian Temple.
Eu não tinha esperança de realizar nenhuma fotografia astronômica até o fim da empreitada. Mas...
E é aí que a astronomia se apresenta. Ela sempre se apresenta. Habita o céu sobre nós.
Desta forma, no ultimo dia de filmagem, eu tive uma luz.
Tínhamos feito a ultima entrevista do documentário com Dado Villa- Lobos na véspera ( e gravado uma nova versão , meio tosca, de Geração Coca-Cola . Veja no video acima). E eu nada de entender o filme. 
Nos dois dias (na verdade noites) finais eu sabia que filmaríamos diversas projeções de filmes brasileiros. Iríamos projetar filmes em diversos locais da cidade maravilhosa e filmar estas projeções. Um esporte chamado de “Vídeo-Arte”. Me parecia mais um nosense do “tarado da camereta.”.
Video Arte de Kombi

Desta forma projetávamos filmes sobre o cinema ODEON , dentro de um telefone publico com anúncios de travestis, no toldo do “Amarelinho” e pelas paredes dos armazéns do cais do Porto. Neste ultimo com o projetor e toda a equipe montada em cima de uma Kombi aberta e em movimento.
E nada de astronomia... E nem de entender a porra que eu estava filmando.
Finalmente chega o ultimo dia e continuaríamos na missão Video-Arte.
Mais Video Arte- Pedra do Arpoador

Primeira locação do dia é o teto de um hotel na praia de Copacabana.
E finalmente se faz a Luz.
 Projetávamos filmes de vários períodos da história da cidade sobre a lamina d’água da Piscina na cobertura. E com o deslumbrante cenário do Morro do Leme e o oceano atlântico ao fundo.

Como dizia se fez a Luz. Entendi que as projeções seriam o fio condutor do Caos. As perguntas das entrevistas seguiam sempre certa ordem cronológica. Ainda que feitas totalmente fora de ordem.  Como era o Rio na sua infância, ou nos anos 70. O que você ouvia nos anos 80 e etc...
Ele iria quebrar a monotonia de uma coleção de entrevista pontuando estas com imagens muito loucas, filmadas sobre diverso cenários cariocas, de filmes dos respectivos períodos, ou de imagens que remetessem a descrição daquele tempo pelos entrevistados. Desta forma as projeções de imagens de Tropa de Elite representariam os anos 90. Carmem Miranda os mais pacíficos anos 30. E por aí vai.
Do teto deste hotel se fez a luz. Logo... Astronomia.
Olhávamos para o Leste e conforme anoitecia pipocavam luzes. A Primeira a surgir: Júpiter. E pronto. De uma forma totalmente sem planejamento eu faço uma fotografia astronômica que embora limitada técnicamenete apresenta o gigante de uma forma clara e poética. E ainda apresenta a geografia da cidade com o pão de açucar emoldurando o céu. Júpiter e a Terra se encontram . Isto é astronomia. E usando um Telefone celular.
Júpiter: astronomia do cotidiano.

E apesar de nenhum “Plano de filmagem”, sem ter formatados cartões, sem alinhamento polar e sem nada disto tirei a primeira foto do mês e ainda fiz minha primeira sessão de observação. Usando apenas meus olhos e meu celular...
Aprendo que nem sempre é necessário planejar. Astronomia e astrofotografia podem ser um processo totalmente casual e Orgânico. Elas são frutos de se olhar para o céu e de poder captar estes momentos. Não dependem de equipamentos caros ou de um conhecimento especial. Você aprende fazendo. E que apesar de minha obsessão uma foto dita "Astronômica" não implica na presença de um obscuro DSO com um nome em forma de sigla e de baixíssimo brilho de superfície...
E assim além de fazer uma foto que é bela pelo simples motivo de que o Rio e o firmamento são belos eu ainda pude apresentar para minha equipe de filmagem algumas das belezas do firmamento.
Meu caótico e caro diretor, inglês, adorou saber que a bela estrela avermelhada próxima a Júpiter era chamada de Aldebarã.
Conforme ia escurecendo a imagens da projeção ia ficando mais definidas e mais estrelas pipocavam pelo céu. Sirius logo se apresenta também. Betelgeuse é a próxima que percebo. E conforme elas pipocam mais encantados vão ficando os amigos.

Finalmente chegamos a Patrick Moore. Um dos maiores divulgadores da astronomia do UK, recentemente falecido é invocado. E tanto o diretor como o fotografo falam dele como um velho amigo. Afinal o documentário é para BBC e Sir Patrick Moore apresentou seu show por décadas na companhia ( Entre Abril de 1957 e janeiro de 2013, quando será apresentado o ultimo episodio gravado por P.M. do "The Sky at Night"). Além de que é uma figura do imaginário coletivo inglês. E eu me choco como dois velhos Punks tem tanto carinho por um astrônomo.
Fiz minha foto e aprendi que astronomia deve fazer parte do cotidiano das pessoas. E como Patrick Moore fez disto algo comum a todos os ingleses.

                                               R.I.P. Sir Patrick Moore

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Cometa C / 2012 S1 ( ISON)- Será que é desta vez?

   Ikeya-Seki (1965)- O mais brilhante do Seculo e quiçá em milenios
(Mag. -10)


Eu comecei a observar o céu de uma forma mais obsessiva quando descobri um catalogo elaborado por um caçador de cometas. Desta forma sempre que um cometa se apresenta eu tento avista-lo. Quando me dizem que este vai ser o cometa mais brilhante de todos eu fico doido. Talvez mais brilhante que o Ikeya. Como cantam por aí: Tomara meu deus tomara...
O cometa C/2012 (ISON) irá se encontrar em seu periélio em exatamente 1 ano (escrevo estas linha no dia 28 de novembro de 2012) e se anuncia como o cometa mais brilhante visto por algum ente vivente.
Ele foi descoberto pelos astrônomos russos Vitali  Nevsky e Airton Novichonok com imagens obtidas  em 21 de setembro de 2012. Eles usavam o telescópio de 400 mm  do Observatório Kislovodsk , o qual faz parte da “ Russias International Scientific Optical Network.”  ISON..
Cometas já fizeram de bobos astrônomos de muito mais experiência que eu. Mas o astrônomo é antes de qualquer coisa um forte. E como um bom conquistador do inútil a esperança é o que nos move.
Desta forma vamos ao que importa. Como serão as condições de observação do que pode vir a ser o maior espetáculo da terra em 2013.
Nunca é suficiente lembrar que é perigoso olhar objetos muito próximos ao sol. Use de prudência. Como dizem os americanos:“at your own risk”...

Como já diz o nome o periélio é o momento que o cometa se encontra mais perto do sol Assim sendo o cometa vai estar a menos de 2º do sol. Cuidado para não ficar cego. Mas ele provavelmente dará um show no amanhecer. Seu horizonte leste tem que ser limpo. No Rio eu recomendo estar na Pedra do Arpoador. Brilhando (segundo o Stellarium) com impressionantes -6.37 ele vai ser visível e espetacular mesmo com o sol atrapalhando. Ele estará extinto para -2.8. Ou seja, visível mesmo de dia. E sua cauda vai ser uma coisa de doido...
Amanhecer de 28 de Novembro 2013

Mas meu plano de voo começa bem antes disso.

20 Outubro de 2013

Um pouco mais de um mês antes disso, no dia 20 de outubro, ele vai se encontrar do lado de marte no horizonte leste. E estará brilhando com 8ª Magnitude bem perto de marte. Fácil alvo Binocular.
04  Novembro de 2013

No dia 04 de novembro de 2013 ele cruza a barreira da visibilidade a olho nu em ambientes escuros. Estará cruzando o reino das Galáxias entre Leão e Virgem e brilhando com Magnitude 5.9.
Agora as coisas começam a acontecer bem rápido. Ele vai pular uma magnitude a cada três dias ou menos.
18 de novembro 2013

No dia 18 de Novembro ele se encontrará ao lado de Spica (Alpha Virgo) e Brilhando com 2.8 de Magnitude.

E este é meu esboço de observação.  Baixe os elementos orbitais do ISON no Stellarium ou no CdC e fique , assim como eu,tentando descobrir qual será o melhor momento par ver o show...
Grosso modo em outubro e novembro ou eu só vou dormir quando amanhecer ou eu vou ter de acordar por volta das 04h00min AM.
Depois do Periélio...

Depois do periélio a posição vai ficar ruim especialmente aqui das terras austrais. Embora sua cauda enorme provavelmente ainda possa fazer o show. Ele vai estar se pondo antes do sol e você deve aí ir buscar um horizonte oeste liberado. Cuidado com o sol.
Aguardando ansioso...
P.S- 25 de agosto 2013 . Tudo indica que o espetáculo será bem mais modesto do que o previsto...

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O Falso Cruzeiro


               

              A primeira constelação que aprendi a reconhecer foi o Cruzeiro do Sul. E assim achei que nunca mais ia me perder. A segunda não era uma constelação. A Falsa Cruz, ou o Falso Cruzeiro, é um asterismo formado por estrelas de Carina (Quilha) e Velorum (Vela).  E assim aprendi que se perder pode ser bem fácil.

            O Falso Cruzeiro é maior e suas estrelas são menos brilhantes que as do original.  O truque para não confundi-los é procurar pelas brilhantes estrelas Alpha e Beta Centauro. Estas apontam para o Verdadeiro.
            O Falso Cruzeiro é formado por (ordem de magnitude) Delta Velorum, Avior (Épsilon Carina), Aspidiske (Iota Carina) e Kappa Velorum.
            Delta Velorum é um sistema múltiplo. Sua componente A tem uma magnitude aparente de 1.97 e sua companheira B tem uma magnitude de 5.5. Seu período orbital é de 142 anos. A estrela A seria ainda uma dupla espectrográfica e assim o sistema se mostra bem complexo. Delta Velorum é a mais brilhante binária eclipsante conhecida.
            Sua estrela principal já abandonou a sequencia principal e possui 2.5 a massa do sol e é 56X mais luminosa que o Sol.

Avior

            Avior (Épsilon Carina) é um sistema duplo. Seus componentes são separados por 0.46´arcsec. Em tese ao alcance de telescópios de 250 mm segundo Dawes e de um pouco maiores segundo Rayleigh.  O mais interessante sobre Avior é que seu nome, apesar de toda a pompa, não é clássico em sua origem. A estrela foi escolhida, no final dos anos 30, pela RAF (Royal Air Force) como uma das estrelas guias de seu Air Almanac. Das 57 estrelas escolhidas apenas duas não tinham nome. E assim, por vontade de sua Majestade, Épsilon Carina virou Avior e Alpha Pavo virou Peacock...
            Aspidiske por sua vez é grego e vem desde a antiguidade. E a estrela é batizada “Scutulum” em latim e “Turais” (تُرَيْس) em Arábico.   Todos estes nomes significam “escudo”. É uma estrela de magnitude 2.2 e é uma estrela super gigante (Tipo A9). Esta situada há 690 anos luz de nós.  Iota Carina vai ser a Estrela Polar sul por volta do ano 8100.
            E finalmente vem Kappa Velorum, que responde (às vezes) também pelo nome Árabe de Markeb. Isto pode ser traduzido como “Algo para se montar”. Trata-se de uma binária espectrográfica que nunca foi resolvida. Se orbitam em cerca de 116 dias e o par se apresenta sob o tipo B2 IV. Uma subgigante que já consumiu o hidrogênio em seu núcleo.  Markeb substituirá Aspidiske e será a Estrela Polar Sul em 9000.
            Mas o mais interessante sobre a Falsa Cruz é que ela traz dentro de seus campos estelares alguns dos mais belos aglomerados abertos que vão se apresentar no horizonte Sul durante o verão.  E isto quer dizer que ,no Observatório  do Nuncius Australis , serão as estrelas da temporada. E, como bons aglomerados abertos, isto significa um monte de estrelas... O Horizonte sul é o mais protegido da poluição luminosa .

            Vamos então tratar dos DSO´s que cercam o Falso Cruzeiro e tentar não se perder em tantas possibilidades.

10x15sec 

            Ngc 2516 é conhecido também pelo apelido de “Aglomerado do Diamante” por seu brilho. É facilmente percebido a olho nu no prosseguimento do eixo maior da Falsa cruz. Junto a Avior.  O aglomerado cobre a mesma área que uma lua cheia e brilha com 3.8 de magnitude.  Deve ter algo como 135 milhões de anos e já apresenta algumas estrelas gigantes vermelhas. É um aglomerado bem colorido e com diversas duplas. É uma descoberta original de Lacaille em sua viagem para a Cidade do Cabo em 1751-52.

IC 2391 10X 15 sec 

            Seguindo no sentido anti-horário chegamos a Delta Velorum e logo ao lado você perceberá Omicron Velorum. Ele é o membro mais brilhante de IC 2391. Este foi o primeiro DSO que eu “descobri”. E assim um eterno favorito. Ele me lembra da constelação boreal de Cassiopéia e o chamo carinhosamente de “Little Cassiopéia”.
            Antes de mim descobriram o aglomerado Al-Sufi por volta de 964 e o Abbe Lacaille novamente em sua viagem (1751-52). Com a magnitude de 2.5 e com cerca de 30 membros ele se esparrama por 50´. O aglomerado é um jovenzinho de 50 milhões de anos.

DSS

            Bem próximo, a menos de 1´, se esconde de forma mais discreta NGC 2669. Com apenas 12´ e brilhando com magnitude 6.10 este é uma pequena joia e demanda mais atenção para ser observado. E também céus mais escuros.  Este é um desafio para astrônomos urbanos e nunca o vi com menos de 150 mm.  Este é uma descoberta de 1834 feita por John Herschel (o filho) e existem relatos de ter sido percebido a olho nu por AL-Sufi. Seria um feito incrível...
            Outros achados de John Herschel, na contramão do belo Ngc 2516, habitam o prolongamento do eixo maior da Falsa Cruz. Ou seja, próximos a Kappa Velorum. Um é Ngc 2910. Pequenino com apenas 5´deextensão ele é desafio para binoculos e pequenos aumentos . E tem como vizinho Ngc 2925que com 12´é maior, porém mais tênue. Avistar ambos no mesmo campo (ou quase...) é um desafiobinocular para céus bem escuros.


            Junto a Aspidiske você irá localizar a bela e avermelhada estrela N Velorum. E logo a seu lado reside outra descoberta do Abbe Lacaille. IC 2488. Ao contrario do que se pensa o Index catalog elaborado por Dreyer também apresenta alvos para amadores com pequenos telescópios. Não muito, mas este é um deles. Magnitude 7.0 e com 15´de tamanho este DSO é um belo alvo emoldurado por N Velorum. E foi descoberto e redescoberto muitas vezes . El responde também pelos nomes: Lacaille III.4 , Dunlop 330, Mellote 97 e Collinder 208.


            O Falso Cruzeiro é uma região riquíssima da Via Láctea e existem ainda diversos outros DSO´s a serem explorados na região. Espero que essa introdução sirva como um guia útil. 

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

NGC 2547 - Os Argonautas e a Cruz de São Pedro



Esta época do ano começa a desfilar pela janela do Nuncius Australis a antiga constelação de Argo. Ao contrario dos navios “terrestres” (eu sei que soa um contra senso...) este aqui mostra primeiro a Quilha e a Popa surgindo do horizonte para só depois apresentar sua Vela. E o tecido desta é a Via Láctea e seus aglomerados galácticos. Também conhecidos como aglomerados abertos. Cardumes de estrelas.
Barco, mar, cardumes. O céu parece querer contar uma história.
Argo é o mitológico navio que levou Jasão e os Argonautas (entre eles Castor e Pollux que agora habitam em outra constelação) em sua busca pelo velocino. O velo era a lã de ouro do carneiro alado Crisómalo.
Jasão é possivelmente o primeiro corsário da história.
Embora retratado como um herói no épico de Apolônio de Rhodes, Argonautica  ( 3 A.C.),  ele pode ser entendido como um pirata. Um corsário sem sua carta de corso.
O herói de um país é muitas vezes o pirata de outro.

Jasão e os argonautas ( 1963)

O Rei Aeetes sabia bem disso e disse para Jasão (como no clássico filme de 1963...):
-Eu sei que vieste pelo velocino.  E sei também que se não o conseguir pela barganha vais conseguir de outra forma. Vais rouba-lo. E assim sendo não posso mais considera-los bem vindos. Terei que trata-los como merecem. Como ladrões, piratas e assassinos.
Mas nosso galã pirata consegue a ajuda (e a paixão) de Medea. Filha de Aeetes. E Esse docinho de moça, depois de matar seus dois filhos e desmembrar seu irmãozinho, acaba por ajudar nosso pirata-herói a matar o dragão que protege Crisómalo e pegar o Velo de Ouro.
Depois de achar os métodos de Medea um pouco exagerados Jasão se arranca e abandona a feiticeira a ver navios. Literalmente.
Como O´Meara nos conta Julius Staal em seu “Novos Padrões no Céu” explica claramente como a história de Jasão e os Argonautas se conecta com o passeio do sol pelo zodíaco.
Stall explica que Jasão esta representado no céu por Ophiucus.  Aeetes é o rei Perseu, constelação que representa todos os reis de todas as histórias.  Algol (Beta Persei), a estrela demônio, é Medea. E os membros despedaçados de seu irmãozinho são as estrelas de Auriga flutuando pela via láctea. E Argo Navis é o barco dos Argonautas. Curiosamente a constelação é conhecida pelos romanos como Navigium Predatorium (Navio Pirata).
A cereja do bolo é o fim da constelação. Abbe Lacaille em sua viagem (1751-52) a cidade do Cabo tem um arroubo “medeatíco” e desmembra a constelação de Argo. E ele se torna as modernas constelações de Carina (Quilha), Puppis (Popa), Pixis (bussola) e Vela. Ele criou ainda a finada constelação de Malus (Mastro).
Nosso querido Abade ainda descobriu 42 “nebulae”.
Entre elas se encontra Ngc 2547. É o Objeto classificado por Lacaille como Lac III.2. Ou seja, uma estrela acompanhada de nebulosidade (classe III de sua classificação).
Isto apenas implica que ele não conseguia resolver, com seu minúsculo refrator de 15 mm com um aumento de apenas 8X, este belo aglomerado aberto situado junto Gama Vela.
Ele descreve o aglomerado da seguinte forma: “Cinco fracas estrelas que lembram a letra T envolta em névoa”.
Cabe a Dunlop ser o primeiro a resolver o aglomerado na integra e através de seu refletor de 228 mm f10 ele viu “Um curioso arranjo de bonitas pequenas estrelas de diversas magnitudes... Não existe nenhuma nebulosidade na área.”.
15 exp. x15 seg. DSS+PS


Localizar Ngc 2547 é bastante fácil. Centralize a buscadora em Gama Velorum, que é uma dupla ótica e o aglomerado vais estar no campo de qualquer buscadora ótica que eu conheça.

Um dado interessante sobre Gama Velorum ² (a companheira mais apagada de Gama Velorum ¹) é que apesar das aparências ela é muito mais brilhante (de forma absoluta) que a matriz. Trata-se da mais brilhante e possivelmente a mais maciça estrela Wolf–Rayet conhecida.  
Estrelas Wolf-Rayet são estrelas extremamente luminosas e quentes em um avançado estado de evolução. Elas liberam massa na forma de violento vento estelar que pode atingir até 3.000 Km/s. Elas podem atingir temperaturas de até 60.000K e estão fadadas a morrer em poucos milhões de anos em uma explosão de supernova.

Ngc 2547 se apresenta em meu 150 mm como um agrupamento relativamente esparso contendo algumas dezenas de estrelas brancas. E cobre uma área considerável de minha ocular 25 mm Wide Field e é um dos abertos mais interessantes de Vela. È possível associar a visão ao formato de uma cruz . Isto explica seu apelido de Cruz de São Pedro. Outro apelido é o da esquecida  constelação  de Lacaille, Maltus. Também devido a forma do aglomerado. Cada um vê o que quer...
Archinal e Hynes listam mais de 112 membros cobrindo uma área equivalente a da lua cheia(30´).
Mesmo binóculos pequenos vão revelar o asterismo em forma de “T” que Lacaille se referiu.
É um bom alvo para qualquer tipo de instrumento e se revela bem mesmo em condições de forte poluição luminosa.
Este mês (novembro) ele ainda é um alvo para os insones. Mas ao longo do verão ele começa a se colocar em boa posição cada vez mais cedo. O observei por volta de 01h30min min. Neste momento ele se apresenta em confortável posição para ser visto de minha janela no “Stonehenge dos Pobres”.  
Ele tem uma magnitude de 4.7 e se encontra a 1.400 anos luz de nós. Suas estrelas se encontram espalhadas por uma região de cerca de 10 anos luz.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Aglomerados Abertos e Garças Brancas

Garça Grande Branca a esquerda


Existe certo preconceito, a meu ver, em relação a aglomerados abertos. Com exceção de alguns grandes nomes como as Hiades, Plêiades, M 6 e 7 e uns poucos outros parece existir um consenso de que eles são todos a mesma coisa. 
É mais ou menos como as Garças na Lagoa. Quem já viu uma Garça viu todas as Garças. É um equivoco comum.
Recentemente dei uma função a meu Zenith 20X50. 
Como já tinha ouvido de um amigo em um fórum na web ele era bom mesmo para observar a vida selvagem.
 Não é de fato muito afeito a viagens estelares e locais muito escuros.
 Este outro amigo parece gostar de usar o seu na observação de baleias pelo litoral sul brasileiro.
Este fim de semana foi bem longo. Com feriados na quinta e na terça a cidade parou por quase uma semana. 
Não que isto faça diferença para minha pessoa que trabalha como freelancer e assim não respeita o calendário terrestre. 
Mas...
Saí com minha filha e esposa em uma missão “fotográfico ornitológica” pela Lagoa Rodrigo de Freitas. E assim depois de fotografar diversos pássaros vinha à segunda parte da brincadeira. Descobrir que pássaro era que pássaro.
Nunca tinha brincado disto e apesar do que possa parecer eu não distingo bem um Tico-Tico de um Quero- Quero (bem, nem tanto...).
Por sorte ao voltar do passeio sentei em um botequim próximo de casa.
 Ali encontrei um grande amigo. Biólogo.
Rapidamente ele identificou todos os pássaros. E logo deu seu parecer:
- Nuncius, tratam-sede  uma Garça Grande branca, Uma Garça Pequena branca, uma Rolinha, um Pássaro – preto , dois Pardais , um bem-te-vi  e um Sabiá Laranjeira.
 - Ahh! E o preto de bico vermelho é um Frango da Água, Gallinula Galeata.

Este ultimo em latim me deixou doido.
 Ao chegar a casa fiz uma rápida pesquisa e descobri os nomes científicos deles todos. E no processo aprendi que nem todas as Garças nascem iguais.
Sempre vi Garças maiores e menores em meus passeios por aí. São aves bem comuns.
E sempre pensei que as menores fossem exemplares jovens das maiores. Afinal Garças são como Aglomerados Abertos. Quem viu um viu todos.
Nada como estar errado duas vezes...
A Garça Branca Pequena é uma espécie.  Egretta Thula. E a Garça Branca Grande é outra.  Ardea Alba.
Se você repara bem na foto que abre este post você vai perceber claramente a diferença. Além do obvio tamanho você perceberá que a Garça menor tem o bico preto e os pés amarelos. Já a maior tem o bico amarelo e os pés pretos...
Depois desta ornitologia toda (e de ter ficado usando o Zenith uma tarde inteira) eu não poderia estar deixando de sentir saudades de meu querido telescópio.
Não tinha nenhum plano para observar algo em especial. E meio que ao deus dará eu apontei o Newton na direção do horizonte leste.  E desta forma em direção a Popa do navio.
Como eu ia dizendo aglomerados abertos são que nem as garças. Em uma analise atenta eles são completamente diferente um dos outros embora o embrulho seja semelhante.
E desta forma localizei vários aglomerados que residem muito perto um dos outros e que deveriam ser lembrados com mais frequência. Cada um de seu jeito, mas todos deslumbrantes.
O meu bom telescópio me levou sozinho ao primeiro alvo.   Ou melhor, Pi Puppis fez isto. Ela é uma estrela brilhante e facilmente percebida a olho nu.
É como que a Capital de Cr 135. 
Cr 135
O aglomerado de Pi Puppis se apresenta de forma elegante mesmo com a forte poluição luminosa e ainda baixo no horizonte.  Precisei usar minha 25 mm para englobar todo o aglomerado que se espalha por cerca de 1º.  As quatro estrelas mais brilhantes formam um triangulo quase equilátero. Pi Puppis se apresenta bem avermelhada. Possivelmente devido a estar tão baixa no horizonte. Me lembro dela mais amarelada.  Percebo mais cerca de uma dúzia de estrelas pontilhando a paisagem...
Cr 135 pode ser um asterismo e não possuir suas estrelas relacionadas. Mas vale a visita. E é um excelente começo para o tour de hoje...
A partir de Cr 135 você navegará facilmente até Ngc 2451 utilizando uma buscadora de pelo menos 8X50. Ele se apresentará para ela facilmente. Até mesmo resolvendo-se. Foi , creio, registrado pela primeira vez por John Herschel (o filho). 
Ngc 2451 E 2477

Ele inclui a estrela avermelhada c Puppis de 3.6 mag. E se apresenta bem mais comprimido que Cr 135. Já mostrando claramente que cada aglomerado aberto é único. Dos aglomerados aqui apresentados é meu favorito e deveria ter um lugar de destaque entre aqueles grandes nomes que falei. Com certeza é uma parada obrigatório para qualquer astrônomo amador. E fácil de ser localizado.
Seguindo o curso natural das coisas você irá achar Ngc 2477. Uma descoberta do Abbe Lacaille e incluiddo em seu catalogo entre 1751-52.É a entrad Lac I.3.
Este ainda mais baixo no horizonte e brilhando em modesta 6ª mag. é o mais delicado dos visitados de hoje à noite. E com apenas 20´ (tamanho) ele requer mais atenção junto à buscadora. É mais compacto e suas estrelas mais comprimidas.
Na verdade costumo chegar a ele usando a 25 mm e navegando pelo telescópio. É só seguir uma trilha de estrela. É fácil e sempre chego a ele “meio que” por instinto.  O achei pela primeira vez desta forma...

Daqui volto a Cr 135 e em um rápido pulo chego a outro aglomerado do catalogo Cr.
Collinder 140 é um aglomerado do tipo Plêiades segundo seu descobridor. E é facilmente percebido mesmo a olho nu em locais mais escuros que minha janela. Aqui ele é vitima recorrente da buscadora...

Ele carrega consigo uma história interessante. Seria Cr 140 um dos “objetos perdidos” de Lacaille? A entrada Lac II. 2 de catalogo do Abbe não bate com a posição . Mas a descrição, as circunstancias e outras entradas no antigo catalogo levantam fortes suspeitas. Eu, particularmente, acredito que Cr 140 e Lac II.2 são a mesma pessoa...   

Cr 140 ( Sketch)

Este é semelhante a  Cr135. Um perfeito contraponto para demonstrar que assim como as Garças são os detalhes que contam. Compare os dois e conte as diferenças... Depois me diga.

Apesar da forma , do tamanho e até mesmo a coloração de suas estrelas serem semelhantes eles não podem ser mais diferentes.



Encerrando o um passeio que escapa de figurinhas muito repetidas e que ha muito  não fazia eu visito Cr 132. Este é enorme e me faz passear por ele com a 25 mm calçada no telescópio. Um aglomerado grande... E um grande aglomerado. Outro que deveria ser mais cantando em prosa e verso.


Cr 132 . Um caso raro que é melhor "ao vivo" que em fotografia...


Assim sendo olhe para as coisas com atenção e perceba as diferenças.
Alguém uma vez me disse:
- Devil is on the details.
Com a Beleza também é assim.

sábado, 17 de novembro de 2012

IC 418- A Nebulosa do Espirógrafo

Hubble


            
             Esta nebulosa planetária é muito mais conhecida por suas fotos, em cores falsas, feitas pelo Hubble em 1999 do que por sua verdadeira aparência.
            Membro do Catalogo IC (Index Catalog) compilado por Dreyer entre 1888 e 1907 a maioria dos amadores supõe que esta seja de difícil visualização. Não deixa de ser uma hipótese razoável. A maioria das Nebulosas Planetárias do catalogo IC assim o são.
            Mas trata-se de um terrível preconceito. IC 418 não só esta ao alcance de pequenos telescópios como apresenta alguma cor mesmo em aparelhos bastante modestos.
            Nebulosas Planetárias são os restos de estrelas semelhantes ao nosso sol.
O termo “Nebulosa Planetária” se deve a um mal entendido.
Devido à semelhança visual entre Urano e estes escombros estelares Herschel fez um “melê astronômico linguístico”.  E como ele é o descobridor de Urano e de algumas das primeiras nebulosas planetárias catalogadas não é preciso dizer que o nome pegou...
            Mas devido  ao preconceito com relação ao catalogo IC  o disco que brilha com magnitude 10.7 permanece pouco visitado pelos astrônomos amadores nas noites do verão austral. Provavelmente devido a tanta riqueza no céu do  período. Faço questão de avisar aos incautos que trata-se de um tremendo desperdício. Mas até mesmo o próprio Herschel, em seu sistemático levantamento, deixou IC 418 passar despercebida. Coube a Dreyer identificar esta joia escondida na modesta constelação de Lepus, a Lebre.
            Situada ao pé de Orion a modesta constelação carrega diversos DSO`s em seu campo...

            Para localizar IC 418 parta de Rigel (Beta Orion). Ao sul desta você vai localizar um paralelogramo formado pelas estrelas Iota, Kappa, Lambda e Nu Leporis. Todas entre 4ª e 5ª magnitude. Trace uma linha entre Iota e Nu. Depois dobre esta distancia rumo a leste. No caminho você vai avistar HIP 25353 de 6.5 magnitude. IC 418 estará a aproximadamente 35´ a leste. Com minha 25 mm consigo ter ambas no mesmo campo com folga. Prestando atenção você vai perceber que IC 418 se apresenta com um pequeno disco. É o suficiente para diferencia-la das estrelas no campo. Um leve desvio para o verde poderá ajudar na tarefa.
            Assim que localizar a nebulosa utilize a maior magnificação que o seeing suportar. Nebulosas planetárias suportam bem magnificação.
Em meu bloco de notas localizei a seguinte descrição:
 “... utilizando 240 X percebo um pequeno e brilhante disco.     Não percebo cor. Acinzentado. Não percebo nenhuma estrutura, mas o centro levemente mais escuro leva a supor alguma estrutura anelar (a La M57). Estrela central discreta, mas evidentemente presente. (12ª mag.?)”.

Utilizando menos magnificação percebo um brilho esverdeado na nebulosa.
Qual a cor de IC 418?
Na famosa foto do Hubble ela apresenta um anel alaranjado que se funde em um disco algo violeta. E Uma estrela esbranquiçada no centro.
São cores falsas que visam acentuar o contraste e apresentar a estrutura que batiza a nebulosa. A única coisa que lembra o que eu vi é a cor da estrela central.
Segundo Harrington os observadores parecem não chegar a um acordo. A maioria parece concordar que ela se apresenta acinzentada com um leve desvio para o verde. Outros destacam um desvio para o rosa ou o vermelho. Parece que quanto maior o telescópio mais avermelhada fica a paisagem.
Como percebi é lógico que a magnificação tem um papel importante na aparência. Quanto mais ampliação menos cor...
O mesmo Harrington avisa para manter a magnificação abaixo de 175X se você pretende perceber os “traços” carmines na Nebulosa  e que lhe emprestam outro apelido: Nebulosa Framboesa.
Não percebi esta característica nem mesmo usando 120X. E com 60X ela se tornou quase estelar.  
È uma descoberta original de Dreyer e faz parte da Primeira edição do Index Catalog. Mas não consegui descobrir o ano da descoberta. Consta ainda do catálogo Pickering  (Pk).