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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

A Trilogia de Auriga: M36, M37 e M38



Auriga é uma das 48 constelações ptolomaicas. Para nós , bem abaixo do equador, ela marca o limite norte da Via Láctea que se estica para Cassiopéia já escondida da maioria de nós, Australis. A própria Auriga não é visível a partir de 34º sul.
Capella é sua estrela mais brilhante e se apresenta baixa no horizonte norte carioca.  
Auriga é a palavra latina para Cocheiro e a constelação representa Erichthonius, filho de Hephaestus e que foi criado por Athena. Muito inteligente foi o inventor da Quadriga, uma biga puxada por quatro cavalos, que foi primeiramente utilizada em batalha contra o usurpador do trono de Atenas Amphyction. Por causa deste evento Erichthonius foi feito rei de Atenas e como a Quadriga foi feita a semelhança da carruagem do Deus Sol Zeus o colocou entre as estrelas.
Sendo banhada pela Via Láctea diversos aglomerados abertos se hospedam nesta Carruagem celestial.
Mas três deles são clássicos que não deveriam deixar de ser conhecidos por qualquer astrônomo amador possuidor de aparelhos de qualquer tamanho.
Os três foram descobertos Giovanni Batista Hodierna anteriormente a 1654. Usando um refrator bastante modesto...
Para Localizar M 36, 37 e 38 primeiro localize Capella (Alpha Aurigae). Depois localize El Nath (Beta Tauri). Com elas localizadas perceba as mais discretas Theta Aurigae e Iota Aurigae.  Estas estrelas formam um inequívoco pentágono no horizonte norte.
Na Buscadora você conseguirá perceber os três DSO. Ainda que pequenos e apagados.
Ao sul de Capella e aproximadamente no meio do caminho entre Iota e Theta você vai localizar M36. Movendo pouco mais de meio campo de Buscadora para o oeste e levemente ao sul você vai perceber M37. E Meio campo a leste e um pouco a norte vai achar M38. Encontram-se bem próximos.
M36 vai parecer um disco de estrelas levemente mais denso e mais brilhante em direção ao seu centro. Perceba uma bela dupla no centro do aglomerado. Quanto maior seu telescópio mais estrelas vão se resolver. Em telescópios pequenos as estrelas mais brilhantes ficarão envoltas em uma bruma brilhante. Da trilogia Messier em Auriga M36 é o mais interessante em pequenos telescópios.  Use pouca magnificação.
M 36 possui cerca de 60 estrelas que se espalham por uma área de cerca de 15 anos luz. Esta localizada há 4000 anos luz de nós.  A maioria de seus membros são estrelas do Tipo B. Brilhantes, azuis e quentes...
M37 se apresenta para pequenos telescópios como uma nuvem oblonga de luz com poucas estrelas se resolvendo (cerca de cinco). Uma estrela alaranjada junto a seu centro irá se sobressair.  Assemelha-se a um globular em meu 70 mm. No 150 mm começam a se resolver muitas estrelas e desaparece a sensação de uma nuvem de luz. Utilize maiores magnificações. Em telescópios grandes M 37 é o mais interessante da Trilogia.
Este aglomerado é bem maior que M36 composto de centenas de estrelas com cerca de 150 ao alcance de meu 150 mm. As estrelas se espalham por cerca de25 anos luz e se encontram há aproximadamente 4500 anos luz.
M 38 se resolve mais facilmente que M37 e, em pequenos telescópios, se apresenta como uma nuvem de luz com certa granulosidade onde cinco estrelas se resolvem facilmente com visão direta e uma dezena de outras com periférica. Dependendo de quão escuro for seu céu elas se resolverão com direta também.
Difícil de perceber pela buscadora ele se apresenta como uma coleção meio frouxa de estrelas mesmo ao telescópio. Não percebo nenhuma estrela dominante no aglomerado. Mesmo com o 150 mm não o resolvo completamente.
Este aglomerado é composto de cerca de 100 estrelas e se espalha por 20 anos luz. Esta há 4000 anos luz da terra.




segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Astronomia , um Punk Velho e Sir Patrick Moore



Julian Temple e Dona Rosa - Morro do Cantagalo

O Texto é sobre astronomia. E sobre como ela deve estar presente no seu cotidiano.
É também uma homenagem.
Este mês se iniciou de uma forma bastante ativa e caótica.
Desta forma, achei, as chances de realizar qualquer tipo de atividade astronômica ficaram adiadas para o final do ano.
Passei dezesseis dias acompanhando um diretor inglês de renome (Julian Temple) na realização de um documentário para a BBC, uma TV britânica. Este cidadão foi o diretor de um famoso filme intitulado “The Great Rock and Roll Swindle”. Este conta à história da celebre banda Punk “Sex Pistols”. Ele mesmo ainda um Punk de carteirinha, apesar de sua já mais avançada idade...
O conceito de nosso documentário, batizado de " The Children of Revolution", seria apresentar a Cidade do Rio de Janeiro e sua história recente através da musica. Ou algo assim
 Parecia claro para mim que meu caro diretor não tinha a menor ideia de que filme ele estava fazendo. E eu menos ainda.
 Nossos dias consistiam em jornadas de 12 horas nas quais, às vezes, tínhamos uma ou mais entrevistas agendadas com alguma autoridade ou alguém do meio musical. Estas poderiam acontecer ou não.  Nos intervalos se filmava toda e qualquer coisa que aparecesse pela frente.
Mesmo entre deslocamentos por meio a um transito totalmente engarrafado nosso câmera man permanecia filmando através do para-brisa de nosso veiculo. E o nosso genial diretor também. Com sua pequena câmera amadora.
Este habito lhe rendeu o carinhoso apelido, por parte da equipe brazuca, de “O Tarado da Camereta”.  
Em seu quebra cabeça “filmográfico” nosso gênio criativo tinha uma tara especial por ar-condicionado. Filmávamos e capturávamos o som de diversos ares condicionados pela cidade.
 Uma completa loucura.  
 Este processo orgânico de criação era extremamente estressante para ao fotografo deste evento, Steve Organ. E este, que conhecia nosso diretor de outros carnavais, me alertou para o fato. E como seu assistente fui instruído a tentar manter um mínimo de ordem com relação ao nosso equipamento e ao que fosse filmado.
Desta forma eu mantinha sempre comigo uma mochila onde levava as lentes, baterias (duas sempre carregadas) e todo o “film Stock”. Cada uma das coisas em bolsos pré-determinados. E mais alguns acessórios. Fora o equipamento de iluminação. Este era um problema meu. Conseguir fazer tudo caber na mala da van também.


Ainda devo ser capaz de pendurar uma câmera em qualquer posição e utilizando diversas "traquitanas". Sempre que faço isto me lembro de minhas montagens para o meus telescópios. E percebo diversas possibilidades . Tanto para câmeras como para telescópios...
Este processo me lembra bastante as minhas aventuras astro fotográficas.  Nestas eu vivo um conflito de sistemas. Algo entre o processo orgânico de nosso diretor e o cartesianismo de meu querido fotografo.
Em geral quando vou fotografar eu tento (e quase nunca consigo) manter um “plano de filmagem”.
 Eu costumo iniciar o processo visitando um programa planetário e determinando quais serão as “entrevistas” da noite.

Localizar DSO discretos, para mim, é um processo orgânico e caótico.
A “La Mister Temple”.
 Eu tento localizar um alinhamento de estrelas e a partir destas achar o DSO.
Este só será percebido (se for) através da Ocular. No caso minha 25 mm.
 Isto me dá apenas 1º para acertar este “Chute”.
Na verdade é também um habito que você desenvolve com o tempo e o conhecimento das distancia quando vistas pela sua buscadora que vão tornar isto rápido (ou não).
Que nem as entrevistas do documentário...
Agora vamos à parte mais cartesiana do meu processo “criativo- astrofotografico”.  A “La Steve Organ”
Em primeiro lugar eu gosto de me certificar que possuo um alinhamento polar ao menos razoável. Em casa isto nem sempre é fácil devido às limitações espaciais do observatório.  Assim eu mantenho algumas marcas no chão e evito mexer na cabeça equatorial. Desta forma após fazer algumas fotos testes eu em geral consigo obter um acompanhamento com um mínimo de dignidade sem grandes sofrimentos.
Mantenho também, todo o equipamento necessário para a operação em uma mesa próxima a telescópio.
O “T-Ring” vive montado no telescópio. Desta forma após localizar o objeto e centralizar este eu retiro o porta ocular carinhosamente e com o auxilio de uma chave Allen acoplo a câmera com carinho a fim de não deslocar o telescópio.
Alguns procedimentos anteriores a tudo isto também me são caros.
Checar que as bateria do motor estão novas.
Que o Cartão da câmera esteja vazio e formatado.
Que as baterias da câmera estão carregadas.
Que a exposição já esteja realizada. Em geral 15 ou 30 segundos.
Que o Timer esteja “pré setado”. Preciso comprar um disparador remoto...
E que eu já tenha realizado marcas na cremalheira para auxiliar no foco.
Qua a buscadora esteja bem alinhada.
Que a buscadora Red dot tenha bateria.

Evidentemente que  sofro de algum gene bagunceiro em meu DNA.  Sempre  esqueço algum destes itens. É ahistória do astrônomo desastrado de novo...
Mas novamente sou obrigado a retornar a figura de meu diretor.
Foram 16 dias de filmagem onde eu não vislumbrava nem de longe o fio da meada que conduzirá o documentário
Apelidara o filme, a esta altura, de “Caos at the Temple”. Afinal, como já disse, diretor é Julian Temple.
Eu não tinha esperança de realizar nenhuma fotografia astronômica até o fim da empreitada. Mas...
E é aí que a astronomia se apresenta. Ela sempre se apresenta. Habita o céu sobre nós.
Desta forma, no ultimo dia de filmagem, eu tive uma luz.
Tínhamos feito a ultima entrevista do documentário com Dado Villa- Lobos na véspera ( e gravado uma nova versão , meio tosca, de Geração Coca-Cola . Veja no video acima). E eu nada de entender o filme. 
Nos dois dias (na verdade noites) finais eu sabia que filmaríamos diversas projeções de filmes brasileiros. Iríamos projetar filmes em diversos locais da cidade maravilhosa e filmar estas projeções. Um esporte chamado de “Vídeo-Arte”. Me parecia mais um nosense do “tarado da camereta.”.
Video Arte de Kombi

Desta forma projetávamos filmes sobre o cinema ODEON , dentro de um telefone publico com anúncios de travestis, no toldo do “Amarelinho” e pelas paredes dos armazéns do cais do Porto. Neste ultimo com o projetor e toda a equipe montada em cima de uma Kombi aberta e em movimento.
E nada de astronomia... E nem de entender a porra que eu estava filmando.
Finalmente chega o ultimo dia e continuaríamos na missão Video-Arte.
Mais Video Arte- Pedra do Arpoador

Primeira locação do dia é o teto de um hotel na praia de Copacabana.
E finalmente se faz a Luz.
 Projetávamos filmes de vários períodos da história da cidade sobre a lamina d’água da Piscina na cobertura. E com o deslumbrante cenário do Morro do Leme e o oceano atlântico ao fundo.

Como dizia se fez a Luz. Entendi que as projeções seriam o fio condutor do Caos. As perguntas das entrevistas seguiam sempre certa ordem cronológica. Ainda que feitas totalmente fora de ordem.  Como era o Rio na sua infância, ou nos anos 70. O que você ouvia nos anos 80 e etc...
Ele iria quebrar a monotonia de uma coleção de entrevista pontuando estas com imagens muito loucas, filmadas sobre diverso cenários cariocas, de filmes dos respectivos períodos, ou de imagens que remetessem a descrição daquele tempo pelos entrevistados. Desta forma as projeções de imagens de Tropa de Elite representariam os anos 90. Carmem Miranda os mais pacíficos anos 30. E por aí vai.
Do teto deste hotel se fez a luz. Logo... Astronomia.
Olhávamos para o Leste e conforme anoitecia pipocavam luzes. A Primeira a surgir: Júpiter. E pronto. De uma forma totalmente sem planejamento eu faço uma fotografia astronômica que embora limitada técnicamenete apresenta o gigante de uma forma clara e poética. E ainda apresenta a geografia da cidade com o pão de açucar emoldurando o céu. Júpiter e a Terra se encontram . Isto é astronomia. E usando um Telefone celular.
Júpiter: astronomia do cotidiano.

E apesar de nenhum “Plano de filmagem”, sem ter formatados cartões, sem alinhamento polar e sem nada disto tirei a primeira foto do mês e ainda fiz minha primeira sessão de observação. Usando apenas meus olhos e meu celular...
Aprendo que nem sempre é necessário planejar. Astronomia e astrofotografia podem ser um processo totalmente casual e Orgânico. Elas são frutos de se olhar para o céu e de poder captar estes momentos. Não dependem de equipamentos caros ou de um conhecimento especial. Você aprende fazendo. E que apesar de minha obsessão uma foto dita "Astronômica" não implica na presença de um obscuro DSO com um nome em forma de sigla e de baixíssimo brilho de superfície...
E assim além de fazer uma foto que é bela pelo simples motivo de que o Rio e o firmamento são belos eu ainda pude apresentar para minha equipe de filmagem algumas das belezas do firmamento.
Meu caótico e caro diretor, inglês, adorou saber que a bela estrela avermelhada próxima a Júpiter era chamada de Aldebarã.
Conforme ia escurecendo a imagens da projeção ia ficando mais definidas e mais estrelas pipocavam pelo céu. Sirius logo se apresenta também. Betelgeuse é a próxima que percebo. E conforme elas pipocam mais encantados vão ficando os amigos.

Finalmente chegamos a Patrick Moore. Um dos maiores divulgadores da astronomia do UK, recentemente falecido é invocado. E tanto o diretor como o fotografo falam dele como um velho amigo. Afinal o documentário é para BBC e Sir Patrick Moore apresentou seu show por décadas na companhia ( Entre Abril de 1957 e janeiro de 2013, quando será apresentado o ultimo episodio gravado por P.M. do "The Sky at Night"). Além de que é uma figura do imaginário coletivo inglês. E eu me choco como dois velhos Punks tem tanto carinho por um astrônomo.
Fiz minha foto e aprendi que astronomia deve fazer parte do cotidiano das pessoas. E como Patrick Moore fez disto algo comum a todos os ingleses.

                                               R.I.P. Sir Patrick Moore