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quinta-feira, 25 de abril de 2013

Ngc 2808 - Tropeçando em Estrelas




 Às vezes a gente atira no que vê e acerta no que não vê.
Com a lua quase cheia eu não tinha nenhuma pretensão. E assim soltei o parafuso que prende o Motor drive ao eixo de R.A. do “Newton” ( refletor 150 mm) .  Sem nada em mente aponto para aquela região que é meio Centauro, meio Carina. A área é tão rica que costumo nem utilizar a buscadora. Eu calço a 25 mm no porta ocular e fico brincando com os comandos lentos para lá e para cá até esbarrar em algo.
Provavelmente por uma razão geográfica a primeira vitima é quase sempre IC 2602. As Plêiades do Sul. Estas eu gosto mais de observar de binóculo. É um daqueles casos onde não se vê a floresta pelas arvores. E cobrindo uma área de quase duas luas cheias é muito para minhas modestas oculares.
E a partir daí é só seguir a maré. É curioso como se percebe o disco galáctico. Conforme você brinca com o comando do eixo de declinação você percebe claramente que você passa por uma área de uma densidade estelar maior e aí ela diminui. Balança para o outro lado e idem.  É o disco Galáctico. Ou o braços da galáxia. Ou a Via Láctea. Chame como quiser...
Com o “Newton” girando para lá e ara cá, que nem uma baiana em desfile de Carnaval, vou esbarrando nos diversos aglomerados abertos que habitam os braços do tal disco galáctico.
Ngc 3766, 3532, 3114, 3293, 3324. Não posso esquecer de Eta Carina e sua nebulosa. Mas esta sofre muito com a Lua cheia. 
E no balanço resolvo fugir um pouco da rodovia galáctica e começo a passear nas cercanias do disco. E logo esbarro em algo que não conheço. Um globular. E ainda próximo  daquele carnaval de abertos na estrada principal ele salta aos olhos. Com certeza eu nunca o tinha visitado. Paro tudo e tento me localizar. O globular esta próximo de Miaplacidus (Beta Carina). Avalio a posição para posteriormente descobrir quem é a criatura.
Como não pretendia fotografar o alinhamento polar tinha sido feito de uma forma bastante aproximada. Melhor dizendo não tinha sido feito. Mas eu percebera que apesar disto eu estava acompanhando tudo que caia na minha frente utilizando somente uma mão.
-Ohhh sorte!!! Penso comigo.
E assim antes de correr para o computador para baixar a ficha do elemento eu resolvo arriscar umas fotos. 
Definitivamente o alinhamento polar “tabajara” estava bem aceitável. Aqui em casa ele dificilmente fica melhor que isto. Como já falei, recentemente,  a área junto ao polo tem-se encontrada envolta em bruma e com a lua cheia os tímidos habitantes da região estavam todos bem escondidos. Confesso que nem tentei...
Tirei 20 fotos e depois fiz 10 Dark frames.
De volta a pesquisa descubro rapidamente o nome do bruto. Ngc 2808.  Não há muito globulares na região e o trabalho foi fácil.
O globular é bem brilhante e levemente alongado. Não resolvo nenhuma estrela. Não espere isto  a menos que você possua pelo menos 400 mm de diâmetro. O aglomerado se classifica na classe 1 da escala Shapley- Sawyer de concentração. A escala vai de 1 a 12 . 1 é o Maximo de compressão e 12 o mínimo.  Vocês verão uma condensação de luz bem brilhante... Em um campo com algumas estrelas.
Apresento alguma fotos com diferentes tratamentos. Todas se apresentam bem lavadas. A Lua...

O modo “sort” do Rot n´Stack é um sempre me lembra da palavra pirotecnia. Mas no caso aqui ele serve para apresentar claramente quão concentrado é 2808. E o único que resolve algumas estrela em suas bordas.
17 exp. X 15 seg. Rot n´Stack  em " sort mode".

As demais fotos são bastante semelhantes ao que você observará junto a sua ocular.
17 x 15 seg. Modo mean. ASA 3200 Canon T3

1 Exposição de 15 seg. ASA 3200

O Deep Sky Stacker ,em seu já tradicional mau humor, só aceita 4 das fotos . E ainda deixa a imagem extremamente vinhetada. Mas ele é mais poderoso queo o RnS e acredito ver um pouco mais de detalhe no globular. Pode ser só vontade...
Esta foto percorreu um longo caminho... começou com 17 frames dos quais o DSS escolheu 4...
Depois visitou o Iris, o Photoshop e o Noiseware. Acho que cansou...

Localizar Ngc2808 não é difícil. Ele é bem brilhante e será percebido pela buscadora. Um bom ponto de partida é Miaplacidus ( Beta Carina). Eu tropecei nele...


Foi descoberto por James Dunlop com um refletor de 225 mm. Em 1826. Historicamente é um DSO bastante jovem. Cosmologicamente ele é tão antigo como podem ser a as coisas no universo.Algo em volta de 12,5 bilhões de anos.
Ngc 2808 é um globular com características bem especiais.  Em 2007 um time liderado por Gianpaolo Piotto , na Universidade de Pádua , utilizou imagens do Hubble realizadas entre 2005 e 2006 e descobriu fatos inesperados. A maioria dos globulares possuem apenas uma geração de estrelas. A razão disto é que esta primeira geração geraria forte radiação e nesta “ventania atômica” o gá residual seria perdido. Sem gás, sem estrelas. Simples.
Mas Ngc2808 possui três gerações estelares , todas nascidas em um espaço de 200 milhões de anos a partir de sua formação.
Mas como o dito globular é um dos mais maciços conhecidos foi elaborada a hipótese de que sua grande massa tenha sido suficiente para que ele ,gravitacionalmente , apresentasse uma contra partida para perda gasosa.
Outra hipótese é que ele seja o resultado de uma galáxia anã que chocou se com a Via láctea.  

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