Translate

sábado, 11 de maio de 2013

Rot n´Stack 1.2- A Nova Versão


            

            Saiu uma nova versão do Rot n´ Stack
O Rot n´Stack é um programa que , como diz seu nome, serve para girar e empilhar fotos. Vejam que eu disse girar e não rotacionar . A razão é simples. O verbo rotacionar  existe . Mas...
           O motivo deste post  é um freeware e foi criado Guillaume Dargaud.
            Nas palavras do próprio criador (ou quase):
“Este programa é similar a diversos programas astronômicos no qual o objetivo é obter diversas imagens e junta-las em uma única. Este processo é usado , principalmente, em imagens escuras para remover o ruído. A diferença entre ele e outros programas “mais profissionais”: ele é grátis , ele aceita imagens  no formato  Jpeg e PNG e assim compatíveis com a maioria das câmera digitais, e por fim é muito simples. Você pode tirar uma série de fotos com 30 segundos de exposição do céu noturno (mais que isto as estrelas deixarão trilhas) e depois empilha-las para realçar o contraste”.
            Sua primeira versão foi lançada em 2005 (1.0). Ainda neste ano foram corrigidos alguns pequenos bugs e lançou-se a Versão 1.1.
            Durante 2 anos usei esta versão.
            Apesar de não tão poderoso como o Deep Sky Stacker eu sempre gostei do Rot n´ Stack. Ele é mais “pé de boi” e apesar de certas limitações ele sempre foi garantia de que suas fotos seriam empilhadas. Mesmo  que a captura das imagens fosse realizada de forma estabanada e com um alinhamento polar abaixo da critica.
 O DSS muitas vezes se recusa a aceitar imagens com muitas trilhas ou outros problemas que nâo sei quais são. É mais fresco.
            Desta forma o Rot n´Stack sempre foi uma ferramenta fundamental aqui no Nuncius Australis...
            Seu uso é bastante simples.
            Primeiro faça o download dele - http://www.gdargaud.net/Hack/RotAndStack.html
                Abra o programa em seu PC (creio que não roda em Mac). Ele vai apresentar esta tela.

            Depois clique em “open” e na janela que ira se abrir escolha as fotos que você pretende utilizar. Todas as imagens devem estar na mesma pasta. 


                Clique em “Add” e dê “OK”. O Rot n´ Stack vai carregar as fotos e abrir a 1ª foto.
            Selecione duas estrelas usando o botâo esquerdo do mouse para a primeira e o direito para a segunda nesta primeira imagem. 


Depois ele pedirá para você fazer a mesma coisa na segunda imagem. E depois ele irá perguntar se você quer fazer isto manualmente ou automaticamente.
            Escolha manualmente e selecione as mesmas estrelas em todas as fotos que você carregou.  Com isto ele vai girar e alinhar as fotos da melhor forma possível.
            Na nova versão (1.2) lançada em 29 de dezembro de 2012 surgiram mais algumas opções na aba Advanced. 


             Com ela é possível se subtrair um Dark frame das imagens e assim se livrar de hot pixels e outras coisas nefastas . Ele pode utilizar um dark frame definido por você ou gerar um ele mesmo. Foi um grande avanço mas ainda é um recurso experimental.
            Uma vez feito isto pressione “Rot n´ Stack” na aba superior direita da barra de ferramentas do programa.
            E espere. Quanto mais fotos mais tempo...
            O Rot n´Stack vai gerar quatro arquivos com quatro resultados diferentes:
·         Uma imagem onde cada pixel é o mais brilhante das imagens originais. (modo Max)
·         Uma imagem onde cada pixel é o menos brilhante  das imagens originais (modo Min)
·         Uma imagem onde cada pixel é a média  de todas as imagens originais (modo Mean)
·         Uma imagem onde cada pixel passa por um algoritmo muito doido e que maximiza o contraste. Os resultados parecem arte pop ou surrealismo. Depende do dia... ( modo Sort)


O modo Max é interessante . Mas somente utilizando-se dark frame. Caso contrario se perceberá muito hot pixels.

O modo Min  não é exatamente o que se procura quando esta se empilhando fotos sub expostas... Mas em alguns DSO´s ele resolve

O modo Mean é o mais realista e o que eu acho que apresenta os melhores resultados.

O Modo Sort não gera imagens realistas mas pode revelar detalhes que não seriam percebidos de outra forma.  

Um dos maiores avanços da nova versão é suportar fotos maiores. Com o aumento do formato das fotos em câmeras mais modernas e com mais resolução  a antiga versão 1.2 não estava suportando. Quando troquei minha câmera Canon Rebel 350D pela Canon T3 ele alegava ( na maioria das vezes ) não possuir memória ( na verdade alegava ter que aumentar a memória da pagina...) para empilhar as fotos . Na nova versão isto foi solucionado.
O Rot n´Stack é um bom programa. Apesar de algumas limitações ele é bem amigável e com seus novos recursos ele consegue obter bons resultados e ajudar o amador na astrofotografia mesmo quando lutando contra recursos insuficientes para realizar captura de imagens “perfeitas”.
Vejam estes resultados em um rápido teste com um velho conhecido. Ngc 3766.

Primeiro foram escolhidas 16 de 24 fotos feitas com uma Cannon T3 acoplada a meu newtoniano de 150mm. Foi utilizada ASA 3200 e as exposições foram de apenas 10 segundos.  O alinhamento polar foi feito no chute. Dei um chute no pé esquerdo do tripé e um no direito e pronto...
Abaixo o modo Min. Sem  e com o uso de um dark frame auto-gerado.
Min

Modo Mean
Mean

Modo Max
Max

Modo Sort
Sort


Percebo que o uso do dark auto-gerado reduz o ruído, resolve em parte os hot pixels no modo Max e apresenta um certo desvio para o verde. Veja o Master dark gerado...

 O modo Sort é um exagero. Mas com o tempo aprendi que se passando por maciças doses de processamento pode revelar coisas que nenhum outro pode... Em um post futuro apresentarei uma das surpresas que ele me causou.
Mesmas fotos no Deep Sky Stacker

Ainda que achando o DSS “o programa” pare empilhar não posso deixar de elogiar o Rot n´Stack e suas características mais rústicas.Ele é  mais simples de se utilizar que o DSS mas também implica em muito mais trabalho manual (clicks e mais clicks de mouse para se marcar as estrelas que servirão pra o alinhamento de todas as fotos capturadas...) para se obter resultados bastante honestos. È amigável com iniciantes e sua interface é bem instintiva. É um excelente programa e a iniciativa de Dargaud em disponibiliza-lo gratuitamente é elogiável. Sua nova versão continua muito simples de se utilizar e possui mais recursos. Acredito que o processo de subtração de Darks, que ainda esta  na fase experimental, vai evoluir e que o RnS  possa melhorar mais ainda. Serve ainda para se empilhar fotos "terrestres". E aí não é necessário se marcar os pontos para alinhamento. 
P.S. O recurso de utilizar um dark frame realizado por você mesmo melhora muito o resultado sobre o dark frame auto gerado. O equilíbrio de cores se torna muito mais fidedigno. A unica ressalva é que você deve obter o dark frame em raw ou Jpeg (pelo menos na minha câmera...) e antes de utiliza-lo deve converte-lo para PNG no photoshop. O RnsS só aceita darks neste formato.  

domingo, 5 de maio de 2013

A Nova de 1066, Burnham´s Celestial Handbook e Dom Quixote


Com o outono se apresentando claramente a fim de me sacanear eu não tenho observado muito. Apesar de tentar tem sido uma luta constante contra a nebulosidade que insiste em apagar a vista de minha janela. Mas mesmo assim tenho tido algumas aventuras quixotescas junto a ocular e lido bastante.
Desta forma tenho visitado frequentemente meu exemplar do Vol. II do Burnham´s Celestial Handbook.
            A obra magna de Robert Burnham, Jr. É um dos maiores clássicos da astronomia amadora e merece a honraria.
            "Burnham´s Celestial Handbook- An Observer´s Guide to the Universe beyond the Solar System" é o nome completo do tratado. Se divide em 3 volumes “tijolescos” e o conjunto apresenta mais de 2000 paginas. Na verdade 2138 paginas...
            Em minhas Quixotescas lutas contra as nuvens eu não poderia ter melhor companhia. Burnham é, sem duvida, o Cavalheiro da Triste Figura da astronomia.
            Nascido em 1931 em Chicago e tendo se mudado para Presscot, Arizona em 1940 ele conclui o “High School” em 1949. Este foi o ponto culminante de sua educação. Tímido, duro e de poucos amigos ela passava a maior parte do tempo observando em um telescópio feito por ele mesmo.
            No Outono (olha ele aí de novo...) ele obteve um relativo sucesso tendo descoberto seu primeiro cometa. Por isto acabou contratado pelo Observatório Lowell em Flaggstaff, Arizona. Ele iria participar de um levantamento para determinar o movimento próprio de estrelas. Ele comparava “plates” fotográficos...  
            Durante este período ele descobriu mais cinco cometas e diversos asteroides.
            E depois de cumprir suas obrigações nosso Quixote estelar dedicava todo o seu tempo livre a seu livro.
            Este foi lançado de forma independente e descontinua (quase que mimeografado...) a partir de 1966. Em 1978 foi apresentada a sua versão revisada e definitiva e esta foi publicada pela Dover. Reza a lenda que Burnham (que nunca foi exatamente um cara bom em negócios) vendeu os direitos por US$ 10.000,00. E posteriormente viveu uma eterna luta com a Dover...
            Nosso Dom Quixote então sofre sua maior desgraça. Com o fim do levantamento no Lowell ele, que não possuía formação acadêmica, se vê sem emprego. O Observatório lha ofereceu um emprego de guia e ele declinou a oferta. 
            Com seu livro sendo alçado a um dos maiores clássicos da astronomia amadora ele vê suas condições financeiras indo de mal a pior. E ele se torna um recluso e por fim desaparece.
            O pior é que a comunidade astronômica o confundia com Robert Burnham, editor da Revista Astronomy.
            Ele termina seus dias abandonado e na miséria vendendo desenhos de gatos que ele fazia em um Parque em San Diego... Morreu e foi enterrado sem que nem mesmo sua família soubesse. Em 1993. Existe um tópico no Cloudy Nights onde ocorreu um debate acalorado sobre “as culpas” na história de Burnham Jr.
            Apesar de sua modesta formação acadêmica qualquer um que ler o seu Celestial Handbook vai perceber sua enciclopédica sabedoria sobre os mais diversos assuntos.
            Lutando com minha limitada área para observação e uma poluição luminosa na casa de  9  ( Escala Bortle de poluição luminosa-Mega cidade: Nelm 4.o ou menos, Todo céu é claramente iluminado, Diversas constelações familiares são invisíveis) devido aos sinais luminosos da nova obra da administração Eduardo Paes eu me identifico com Burnham e lendo o Segundo volume de seu tratado resolvo me lançar contra Moinhos de Vento.
            Em geral observar uma estrela sem maiores destaques não é uma das operações favoritas da maioria dos astrônomos. Mas com níveis alarmantes de poluição luminosa e nebulosidade achar Beta Lupus seria uma batalha. E a luta não era por ela, mas por algo ainda mais inalcançável. Minha Dulcinéia Del Toboso.  A história que Burnham me contara no capitulo sobre Lupus ( uma constelação) em seu livro me deixara fascinado com a ideia de procurar algo que eu não tinha nenhuma condição de ver.  Nem mesmo de fotografar. Mas o Cavalheiro da Triste Figura do Arizona tinha me fisgado. Eu tinha que buscar pela Nova 1006.

             Ela se encontra  muito perto de  Beta Lupi .
            Burnham, que é o Dom Quixote deste post, em seus delírios, me convenceu (Sancho Pança...) que esta seria a posição da primeira supernova historicamente autenticada.  E que eu ia ver algo que ninguém viu nos últimos 1007 anos...  Eu ainda não sabia que ela já tinha sido "fotografada em HD" pelo Chandra x Rays. É engraçado como um livro antigo pode apresentar novidades para quem está desinformado...
            Segundo o meu senhor ( e mais alguns estudiosos) o aparecimento desta brilhante “nova estrela” esta registrada na crônica em diversas fontes medievais. Seus registros estão na literatura da Europa, China, Japão e o Egito Islâmico.  
            Apesar de sua posição ser discutível ( nos tempos de Burnham...) os diversos registros não deixam duvida que este brilhante objeto- segundo Burnham  uma Supernova do Tipo II- apareceu nas proximidades de Beta Lupi na primavera de 1006 D.C.
            Com isto mais antiga que a mais famosa e menos discreta  supernova de Taurus de 1054 D.C. Esta deixou-nos M1, a Nebulosa do Caranguejo.
            Burnham nos conta que o estudo realizado por Bernard R. Goldstein (Yale University) estabeleceu que o objeto, de fato, existe além de qualquer duvida razoável.
            Entre os registros que sobreviveram as brumas do tempo se encontra o testemunho de um Astrólogo (isso mesmo...) egípcio de nome Ali ibn Ridwan. Ele a percebeu pela primeira vez na noite de 1º de Maio ou ainda na noite anterior.
            “Um espetáculo que observei no inicio de minha educação. Esta apareceu no signo zodiacal de Escorpião em oposição ao sol... Era uma grande estrela, redonda e seu tamanho era de 2 ½ a 3 vezes o tamanho de Venus. Sua luz iluminava o Horizonte e cintilava muito... seu brilho era como ¼ do brilho da Lua. Ela continuou a aparecer... até o sol chegar ao signo de Virgem... e desapareceu subitamente. Outros estudantes a observaram também”.
            Ibn Ridwan usou um raro termo arábico para descrevera o objeto. “Nazyak”. De origem persa o termo serve para descrever estrelas, meteoros ou cometas.
            Diversos são os registros de do objeto pelo oriente médio. Podemos citar ainda as Crônicas de Ibn Al-Athir. E o relato  no Bar Habraeus.
            Pela Europa os registros de Hepiddanus, um monge de St. Gall, (cidade mais famosa por sua cerveja que pela sua astronomia) também se referem a uma estrela de brilho incomum e visível durante três meses no extremo sul.
            Registros do oriente distante nos dão confirmação independente da “nova” estrela.
            Em um relato presenteado a um Imperador da Dinastia Sung em 1044 D.C esta escrito:
            “Ao inicio da noite, no segundo dia do quarto mês (Maio 1, 1006) uma grande estrela amarelada apareceu a leste de K´u Lou ao oeste de Ch´i Kuan. Seu Brilho foi aumentando gradualmente. Segundo os manuais estelares existem quatro tipo de estrelas auspiciosas, uma delas conhecidas como “Chou-po”, amarelas e brilhantes... estas anteveem prosperidade para o estado sobre o qual brilham.”.
            Existem diversos registros sobre a Nova na história oficial da Dinastia Sung.
            A fim de fechar o caixão com relação à existência da mesma Burnham ainda nos apresenta o relato encontrado no “Meigetsuki” de Fujiwara (1235 D.C);
            “No segundo dia do quarto mês no terceiro ano do reinado Kanko no período de Ichijo-In (adivinhem... 1 de maio de 1006) uma grande “estrela convidada” apareceu por sucessivas noites ao sul da constelação de Kikan”.
            Depois desta maratona medieval vamos a batalha propriamente dita.
           Para o observador moderno toda a história contada pelos antigos e por Burnham depois deles consiste na exata localização desta estrela e nos possíveis restos que esta deve ter deixado. Pelo grande brilho e pelo longo período de brilho evidente é muito provável tratar-se de uma supernova. E muito mais próxima ao sistema solar que as conhecidas “Estrela de Tycho” de 1572 ou da “Nova de Kepler” de 1604.
            Através de estudos, especialmente dos estudantes orientais, foi possível reduzir a área de nossa busca a poucos graus ao redor da estrela hoje conhecida com Beta Lupi.
            Eu, em minha "quixotada" particular, fui olhar. Passei ao redor de Beta durante uns quinze minutos. E confirmei que já sabia. Não tem nenhum resto de supernova na área. Pelo menos não para meu bico...
            Mesmo Baade (o de Janela...) com fotos realizadas com um Schmidt de 1200 mm não encontrou resíduos de nebulosidade na região.
            Minkovsky , em 1965, achou algumas estruturas filamentosas na região, mas ele mesmo confessou poderem se tratar de agrupamentos de estrelas muito tênues.
            Ainda na região um tênue anel nebuloso ao redor de uma estrela de 17ª magnitude foi reportada próxima à região . Acabou sendo identificada como uma nebulosa planetária. Não poderia ser a Nova de 1006.
            Mas apesar de toda certeza e das diversas paginas dedicadas a ela por meu querido Burnham Jr. ele não chegou a ver e ter a certeza que agora tenho..
            Uma fonte de radio foi detectada na área com o radio telescópio de Parkes, na Austrália. Em 1964. É daí a imagem abaixo...

             E a apenas 1º ½ de Beta Lupi e a menos de 1º de Kappa Centauri este era um sério candidato. Ainda mais que foram obtidas fotos com o refletor de 4 metros do Cerro Tololo no Chile onde se percebem filamentos nebulosos na área.
            Finalmente o Chandra, em Raio X, conseguiu imagens que comprovam  os contos de Burnham e as velhas histórias...  Com uma correção . Tratou-se de uma supernova do Tipo 1a. E aí a foto definitiva . Lembrando que esta se dá em raio X. Muito além do espectro visível. Na verdade para lá do ultravioleta... (ver espectro eletromagnético aqui)
         


            Eu admito que apanhei dos moinhos. Mas aprendi muito com O Cavalheiro da Triste Figura Astronômico. E isso só em um de seus capítulos. O tratado é sem duvida um dos mais belos livros de astronomia amadora que conheço. Me orgulho muito de meu exemplar (comprado usado) do Burnham´s Celestial Handbook- An Observer´s Guide to the Universe Beyond the Solar System.
            Não posso deixar de falar sobre o que vi lutando contra os moinhos e contra o Eduardo Paes.
            Beta Lupi com sua magnitude de 2,69 só foi visível com auxilio da buscadora. A coisa esta feia. Alem da poluição luminosa soma-se a poluição atmosférica. O Rio precisa de chuva...
            Ela é membro do grande grupo móvel de Scorpio – Centaurus. Encontra-se há 540 anos luz do sol.
            E depois localizei Kappa Centauro. Se você passear entre uma e outra usando uma ocular wide Field você "verá" a Nova de 1006. 
           Afinal a imaginação é guia e conselheira para Dons Quixotes, Astrônomos Amadores e outros Conquistadores do Inútil.
No optico e com um telescópio de 600 mm você não vai ver o que o Chandra achou...
As estrelas mais tenues desta foto são de 17a mag...