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quinta-feira, 27 de junho de 2013

Ngc 5139 ou Omega Centauri : O Gigante Austral


         
A foto acima foi realizada anos depois deste post. É interessante possuir um blog pois você pode ir atualizando os seus avanços. Nas fotos a seguir vocês verão o evidente avanço que houve  nas técnicas e do equipamento fotografico ao longo dos anos aqui pelo Nuncius Australis. A foto acima é resultado de 15 exposições de 30 segundos (Raw) com ISO 1600. E mais 10 dark frames. Tudo empilhado no Deep Sky Stacker. Posteriormente o arquivo tif de 32 bits que surgiu deste processo foi "esticado" no PinInsight e no Photoshop CS.  O "ch" de que falo mais a frentr continua a existir. Hoje acho que este é como um "aglomerado" dentro do aglomerado. Um grupo de estrelas brilhantes que se apresentam como um pequeno nó no conjunto e recordam a nós um padrão semelhante as letras "c " e "h".  O Telescópio utilizado é ainda o bom e velho Newton. A camera utilizada nesta foto foi uma canon T 3.  Nas abixo ainda eram os tempos da 350 D.

          Acredito nunca ter feito um post dedicado a Omega Centauri. Provavelmente devido à timidez. O “Maior de Todos” é um gigante. Intimida...
Gigante aqui é um adjetivo. Uma qualidade. Omega do Centauro, o gigante. E é também substantivo. O gigante que é o sujeito deste post.  
            Lutando contra os restos da “Supermoon” que já vai minguando e com a brutal poluição luminosa que vem me assombrando em nome de melhoras no transporte publico (sou contra a violência nas manifestações. Mas cada vez que apontam um refletor da obra do metro ao pé de meu prédio na direção de minha janela eu mesmo penso em vandalismo e em espingardas...) pego a câmera.
            Desta vez resolvo fazer algumas fotos utilizando apenas minha câmera e sua 75-300 mm. É sempre divertido e não implica em operações muito complexas. E assim coloco a câmera na janela e ao “deus dará” começo a tirar fotos.
Nenhuma pretensão a não ser brincar de astrofotografia.
Começo apontando a mesma para as proximidades de Atria (Alpha Tra). 
Próximo a Atria... 1 exposição de 15 seg 75 mm f4.5

Depois por perto do polo celeste sul. Mas nada de interessante aparece. Só trafego aéreo... 




Dando um pulo em direção a Centauro as coisas mudam. E assim descubro (de novo) que Omega Centauro é um monstro. Um DSO que merece uma categoria própria.
            Aglomerados globulares são membros do conselho de anciãos do Universo. Por razões muito acima de meu saber alguns deles parecem ser mais antigos que a própria galáxia. E Omega parece ainda ser diferente dos demais. Sua origem pode ser extragaláctica. Ou ainda galáctica. Ele mesmo ter sido uma galáxia que depois de depenada pela via láctea ainda teve forças para ser o Maior aglomerado desta. Há controvérsia. Mas sempre que o observo me parece ser diferente dos outros.
            Desta vez ele mostrou seu poder de fogo de uma forma tão humilde que mostrou ser realmente um ser diferente. Mesmo na humildade ele é o “cara”.
            Apontando a câmera quase sem querer percebo que algo que esta em quadro não é uma estrela. Concentrando-me um pouco e sem precisar pensar muito percebo que é ele. Quase no meio do quadro.

Canon T3 zomm 75-300mm @ 75 mm . 10 expx 15 segundos Deep Sky Stacker

            Poluição luminosa, Supermoon, nuvens e ele se apresentou sem ter sido sequer convocado.
            Omega é um velho amigo. Ele é o DSO que deixa claro que os céus austrais são mais dadivosos que os dos colegas do velho continente. Em qualquer lista de Globulares ele é sempre o primeiro a ser citado. Mesmo por pobres coitados que nunca o tem a mais de 5º do horizonte. Só para ser bairrista o segundo também é propriedade do hemisfério sul. Tuc 47. Deste eu já falei...
            Ele, provavelmente, é conhecido desde ha mais remota antiguidade.  Ptolomeu o inclui em seu catalogo. Como estrela. “Quae est in principio escapulae”. Uma estrela diferente mesmo a olho nu. Depois fez parte de um dos primeiros catálogos de nébulas conhecido. Desta forma “redescoberto” por ninguém menos que Halley (o do cometa...) em 1677.Ele já percebe sua natureza não estelar e o descreve  como “um local brilhante em Centaurus”. Depois  dele o sócio do Nuncius Australis, Abbe Lacaille, o inclui em seu catalogo como Lac I. 5. Foi primeiramente identificado como um Globular por Dunlop em 1826. Ele é conhecido também como Ngc 5139. E seu nome mais bonito foi dado por Bayer...
            Dos globulares conhecidos, no grupo local, ele só é suplantado por Mayall II. Este na galáxia de Andrômeda.
Como já o falei tão diferente dos outros globulares conhecidos que sua origem é, muito provavelmente, diferente.
            Localizado há 15.800 anos luz de nós ele contem muitos milhões de estrelas da chamada População II. As estrelas em seu núcleo se encontram de tal forma comprimidas que a distancia entre as mesmas é de apenas 0,1 anos luz. Diversas fontes concordam na presença de um buraco negro de massa intermediaria junto a seu núcleo. Isto só já indica fortemente uma origem distinta do amigo. A metalicidade e as diversas gerações estelares presentes indicam fortemente que o mesmo seria o núcleo de uma galáxia anã absorvida pela Via láctea. Ao contrario da maioria dos globulares suas estrelas se formaram a longo de 2 bilhões de anos e não de forma quase simultânea.
            Velho conhecido (estou repetitivo hoje...) eu me recordo claramente da primeira vez que o avistei. Foi o meu segundo DSO. Perdendo apenas para “A caixinha de Joias". O avistei de minha janela e foi um choque descobrir que haviam estrelas disfarçadas de nuvem escondidas no céu.
            Localizar Omega Centauro é bastante simples. Em locais mais escuros ele é facilmente percebido a olho nu. E com um pouco de atenção percebe-se que se trata de uma estrela levemente esfumaçada. Diferente. Com qualquer auxilio óptico ele se destaca. Mesmo em locais com relativa poluição luminosa ele se apresenta. Mag. 3.7. Em situações desesperada e com o “auxilio nada luxuoso” da poluição luminosa de uma mega cidade ele continua sendo facilmente localizado com o auxilio de uma buscadora. Basta você seguir uma linha imaginaria ligando Beta Centauro até Épsilon Centauro (ambas visíveis mesmo no Rio de Janeiro e com a obra do metro...) e dobrar a distancia entre estas. É fácil...
            Depois foi um dos primeiros DSO que desenhei. E seguindo a ordem natural dos encantos foi um dos primeiros que fotografei. E de novo e de novo.
            Uma curiosidade que percebo em fotos de Omega Centauri é que sempre que o acompanhamento deixa a desejar ele apresenta claramente as letras CH estampadas entre suas estrelas.(como falei na legenda da foto que abre o post não acho mais que isto seja fruto de um mal acompanhamento. é uma estrutura real no aglomerado e perceptível em fotos amadoras de forma recorrente...) Causadas por um bando de estrelas mais brilhantes que o habitam. Já notei isto em diversas fotos de diversos autores. Fica como uma assinatura do mesmo e da crueldade que é o tal do alinhamento polar e dos custos para se ter uma montagem equatorial digna. ( Depois deste post eu comprei uma HEQ 5 e mesmo assim o "Ch" continua a se mostrar. Mesmo que mais tímido...) 
Reparem no ch... Diversa exposições através do "Newton" (  150 mm 1200 DF f8) Rot n´Stack
            Hoje ele mostrou que mesmo andando distraído ele não deixa você se perder. E nesta modesta foto, sem acompanhamento, sem telescópio e sem nada demais ele dá o show. O gigante acordou...

1 eposição 15 segundos refrator 70 mm f13.

          
Resultado do empilhamento de 15 fotos ( inclusive a foto acima. ) Rot n´Stack Sort mode + Iris...
 
                    Omega Centauri é o maior e mais belo Globular que conheço. E um velho amigo.

                   P.S. Abaixo uma imagem de Nuno Cunha onde percebe-se claramente o "ch". 


sábado, 22 de junho de 2013

Supermoon e o Virtual Moon Atlas

              

               Com a “Supermoon” se aproximando e com minha atual guerra contra os refletores da Obra do Metro aqui em casa não é exatamente o momento para se caçar DSO (Deep Sky Objects ou Objetos de Céu Profundo).
            O termo “Supermoon” ou Super Lua não é um termo antigo. Apenas no final do século XX começou a ser utilizado. Tem uma origem herética e foi cunhado por Richard Nolle, um (arghhh...) astrólogo , ha pouco mais de 30 anos. Mas o termo se tornou popular e a definição de Nolle para uma "Supermoon” é abrangente como deve ser uma previsão astrológica:”. Uma lua nova ou cheia que ocorre com a Lua durante ou próxima (até 90%) de sua maior aproximação com a terra em uma dada orbita”.
            Por esta generosa definição acontece cem varias delas ao ano. Houve uma “Supermoon” na noite de 24 para 25 de Maio.
            Mas agora em Junho teremos a maior “Supermoon” do ano.
            Na verdade o fenômeno é conhecido desde a antiguidade e os astrônomos apenas a chamavam de Lua cheia no perigeu. Acontece que o perigeu não é um valor constante e assim na noite de 23 de Março de 2013 acontecerá a maior aproximação da Lua com a Terra. E assim ela estará a apenas 356.991 km da Terra. E desta forma o disco Lunar será o maior do ano.
            Veremos se será possível fotografar a super “Supermoon” de 2013. O tempo não tem ajudado neste inicio de inverno Senão der também não precisamos nos preocupar. Esta Supermoon especial em que ocorre em comunhão com o perigeu mais próximo do ano se repete como os ciclos lunares e desta forma você terá outra chance muito semelhante em um ano, um mês e dezoito dias. Teremos a Lua cheia acontecendo no “Proxigeo” (o Perigeu “mais” próximo. Não tenho certeza se o termo existe em português. Em inglês se usa Proxigee (...)) em Agosto 10, 2014; Setembro 28, 2015; Novembro 14, 2016, e Janeiro 2, 2018.  Não vai haver uma Lua cheia durante o Perigeu em 2017 porque estes não vão se realinhar até Janeiro 2, 2018. Na foto abaixo você pode perceber bem a diferença do tamanho do disco de uma "supermoon" ordinária e de uma “ Supermoon” super.

            Mas com esse papo de Supermoon passeando pela web e o tempo nublado eu acabei sendo abduzido pelo Uncle Rod e acabei conhecendo a Nova versão do Virtual Moon Atlas. Ainda que não seja a especialidade da casa eu gosto de tempos em tempos dar uma passeada pelos vales e crateras de nosso satélite. O Uncle Rod, em seu post semanal, fala de um Atlas Lunar clássico. O “Atlas of the Moon” de Antonin Rukl. (http://www.amazon.com/Astronomy-Atlas-Moon-Antonin-Rukl/dp/0913135178)
                Custando mais de US$ 200,00 eu não creio que um dia comprarei este clássico.
            Mas no mesmo Post o Uncle no da o Link par ao gratuito e mais tecnológico “Virtual Moon Atlas”. Eu tenho uma versão antiga do mesmo instalada no meu laptop. Resolvo visitar e ver se houve alguma modificação. Foi uma boa ideia

            O Novo “VMA” apresenta varias novidades e aperfeiçoamentos. Este freeware desenvolvido por Patrick Chevalley e Christian Legrand se aperfeiçoou. E sua apresentação se tornou muito mais bacana.
Foi lançada uma edição comemorativa pelos 10 anos do VMA e esta possui diversos novos recursos. Batizada de VMA “Pro” version 6.0 esta apresenta um novo painel de comando, um dispositivo chamado “weblun” que linka o programa aos principais sites da web, sombras mais dinâmica no “terminator”, duas novas texturas com alta resolução e quatro “texturas históricas”: Langrenus, Grimaldi e Cia., mapa geológico e diversas novas bossa.
Usando as Imagens da Clementine como textura..
 
            O mecanismo de pesquisa também se tornou mais fácil e poderoso.
            E o VMA ainda permite que você o configure dentro das possibilidades de seu computador. Quanto mais poderoso seu PC mais visual e gráfico ele se torna.
Lunar Recoinassance Orbiter..Favorito...

            Possui ainda um tutorial bem completo que vai guia-lo sem maiores problemas durante sua configuração.
Artístico...
            Ele permite ainda exportar imagens para você organizar suas observações. Para não falar em uma grande livraria de imagens de alta resolução de diversas sondas lunares. Bem como as fotos de Damian Peach.
            E ele mantém todos os recursos que já eram “de casa”. E assim muitas informações sobre todos os acidentes lunares tanto do lado visível como também do lado oposto da lua.
            A interface é bem amiga e com uma rápida olhada no tutorial qualquer criança será capaz de utilizar o VMA.


            Achei um upgrade bastante eficiente e com o novo VMA creio que jamais comprarei o belo livro do Rulk...  



quarta-feira, 12 de junho de 2013

Ngc 5316- Um Aglomerado que Não Gosta de Luz

         

          Existem certos DSO´s que são uma pedra no sapato de um cidadão. Já falei aqui que a expressão cidadão surgiu  para designar aqueles indivíduos que habitavam a cidade.  Estes DSO´s de apelo mais rural são em geral pequenos e tênues. E bichos do mato que são, não gostam de cidadãos curiosos.  
            Se você vem acompanhando as aventuras e  desventuras do Nuncius Australis deve saber que esta época do ano a parcela Sul da Via Láctea (ao sul de Escorpião) apresenta-se diante de sua janela. Com isto a região ao redor de a e b Centauro é bastante frequentada.
            Assim Ngc5316 é uma pedra no sapato que vem se mostrando bastante incomoda. Outro dia saí em busca da mesma e acabei indo parar em Ngc 5281.  Embora com magnitude semelhante dois aglomerados dificilmente poderiam ser mais diferentes. Enquanto 5316 se espalha por 15´ e 6ª magnitude o outro ( 5281) se esparrama somente por 5´ e apresenta-se com uma magnitude levemente mais brilhante . 5.9. Com isto o brilho de superfície de 5281 é muito superior e este sobrevive muito melhor que Ngc 5316 a poluição luminosa que vem se tornando insuportável graças às obras para o Metro.

            Obras as quais tem me levado a desenvolver pensamentos nefastos envolvendo as figuras do Governador Sérgio Cabral e do Prefeito Eduardo Paes. De tal forma nefastos que comentários recentes deste mesmo prefeito me levaram a cogitar a hipótese de torcer pela Argentina na Copa do Mundo.
            Depois de atacarem meu direito de ir e vir, cortarem varias figueiras quase sexagenárias e atentar contra a lei do Silêncio eles finalmente acenderam um refletor apontado para minha janela.
            Este post vai mostrar que o improvável não é impossível e mesmo sofrendo este atentado eu acabei por conseguir retirar a tal pedra do meu sapato.

            Apesar do maldito refletor apontado para minha janela eu estava brincando com minha T3 (câmera) e acabei tirando uma foto do meu quadro favorito na sala. Um daqueles prismas que o Ivan Freitas explorou a exaustão. Mas o tema combina em tudo com a astronomia e eu gosto de chamar o mesmo “Optica”. A foto do quadro, duas garrafas de vinho e o “Newton” montado e motorizado junto à janela me levaram a esquecer de todos os livros e conselhos e assim fui lá eu desafiar o governador, o prefeito e o maldito refletor de 2000 W que atacava a minha janela.
            Sem maiores pretensões faço o meu alinhamento polar pelo método do chute. Chuto um pé do tripé para um lado e o outro para o outro e voilá.
            As fotos de da grande nebulosa de Carina que apresento abaixo deverão servir como um termômetro (ou seria colorímetro?) dos níveis absurdos de poluição luminosa com que tenho vivido...  Estas ficam como mais algumas fotos da Série “Astrofotografia por Miró & Pollock”...

Nebulosas sofrem muito com a poluição luminosa. Eta Carina é muito discreta pela ocular ..Me lembro que  ha alguns anos a percebia claramente a olho nu aqui de casa...
            Depois disto eu continuo em voo cego pela região entre Carina e Centauro e acabo esbarrando em um velho conhecido. Ngc 3766. Mas como este post não trata do “Pearl Cluster” e, portanto vou apenas apresentar a foto que fiz deste que é um dos mais tradicionais abertos do hemisfério sul.
Ngc 3766- canon T3 7 exp.X 15 seg Rot n´stack  asa 3200
Newtoniano 150 mm x 1200 mm  f8


                 Seguindo a Via Láctea eu vou me deparando com os diversos aglomerados abertos.
            Aglomerados abertos são grupos de estrelas fisicamente relacionadas e mantidas juntas por sua mutua atração gravitacional.
            Aglomerados abertos são objetos de grande interesse cosmológico por apresentarem quadro propriedades que permitem testar diversos modelos e teorias. São elas:
1.      As estrelas de um aglomerado se encontram (aproximadamente) a mesma distancia.
2.      As estrelas tem aproximadamente a mesma idade
3.      As estrelas possuem a mesma composição química fruto da nuvem que as criou todas...
4.      Elas apresentam diferentes massas.

Desta forma estas estrelas são uma excelente amostragem para o estudo da
Estrutura e evolução estelar. Mais em evolução estelar clique aqui  .  Ou aqui.
            Mais de 1100 aglomerados são conhecidos na Via Láctea. E eu como eu já estava passeando por perto de b Centauro e tinha um acerto de contas com um deles achei que deveria aproveitar a péssima oportunidade para dar uma caçada naquele que vinha se recusando a se apresentar para mim há vários meses...

            Ngc 5316 é uma descoberta de James Dunlop em 1826. Com um refrator de 9 polegadas. Ele passou invicto pelo levantamento de Lacaille e de John Herschel. Muito próximo dele habita Ngc 5281. Este uma descoberta de Lacaille. Se o Abbe descobriu este ou o mais discreto 5316 já foi alvo de discussão.  Devido a seus pequenos instrumentos me parece que 5316 estaria acima das capacidades do afrescalhado Abade francês. Posso afirmar que 5281 é um alvo muito mais fácil e minhas buscas pela região me levaram não ter nenhuma duvida sobre estes eventos. Já falei deste mistério celestial e sobre confusão causada devido a descrição feita pelo Abbe em outro post dedicado ao “Aglomerado de Cheshire” Ngc 5281.
            Ngc 5316 é bem discreto pela buscadora. Apenas uma suspeita no céu carioca. Com a ocular de 25 mm é percebo apenas quatro estrelas cercadas de uma leve nevoa que parece resolver mais algumas estrelas com visão periférica. Com a 17 mm calçada no “Newton” pouca coisa muda. M pouco mais de definição, mas não o resolvo plenamente com nenhuma combinação que tenha tentado... Ele parece gostar ainda menos que eu das luzes providenciadas pela administração publica. Um timido que não gosa da ribalta...No caso uma senhora ribalta . Mais de 1000 watts de lampada apontando para o céu. 
          Resolvo fotografar o bruto. Mesmo com o alinhamento polar deixando a desejar o registro fotográfico resolve muito mais coisas que minhas retinas cansadas deste meu viver e um tanto enevoadas pelo vinho...
                Abaixo os registros fotográficos e o tanto de processamento a que foram submetidas às fotos.
Aqui foram 10 exposições de 15 segundos empilhadas no Rot and Stack e posteriormente "croped" no photoshop onde também utilizei " Levels" para aumentar um pouco o contraste e a saturação.   A foto inicial utilizou o modo " Mean" do Rot n´stack.


 
Aqui as mesma 10 fotos fora, empilhadas no Rot n Stack . Desta vez utilizei a foto gerada pelo modo "Sort". Reduzi o gradiente do fundo no IRIS e posteriormente ampliei e 'croped" no PhotoShop. depois ainda uma rapida visita ao Noiseware para reduzir o ruido  de tanta tecnologia...
            
Uma unica exposição de 15 segundos . Nenhum tratamento. Muito parecido com o que se percebe com  a ocular 25 mm.

            Ngc 5316 não é um aglomerado dos mais estudados e após muita pesquisa consegui descobrir alguns fatos cosmológicos fundamentais. O Aglomerado se encontra há aproximadamente 3815 anos luz de nós (1170 PC +- 0,15). É assim como eu um cidadão de meia idade com aproximadamente 120 milhões de anos. Suas gigantes vermelhas o denunciam assim como minhas rugas...  Ele se encontra, etariamente, entre as Plêiades (100.000.000 de anos) e Ngc 2516 (150.000.000). Descobri tudo isto no único paper  foi publicado a respeito do bruto.  

              A quem interessar possa:



               Ngc 5316 é um aglomerado aberto difícil de achar no céu e na terra. Ainda bem que o achei. .

                   Na tarde seguinte fui atrás do Mestre Jeferson ( chefe do canteiro de obras) e com um pedido delicado consegui que aquela maldita "luz de ribalta"  fosse virada em direçaõ ao solo e para a obra que deveria iluminar e não mais para dentro de minha casa. Cada um sabe onde é que aperta o seu sapato..



domingo, 2 de junho de 2013

Mestre João e o Cruzeiro do Sul


O mês de maio foi bastante ingrato para a astronomia. Fui transferido para um universo paralelo cheio de luzes e sombras. Uma espécie de “Wonderland” onde não existia Alice.  Realizando um comercial pra uma grande marca esportiva eu e uma imensa equipe fomos parar no mundo dos espelhos. Uma gigantesca tenda com 400 m² cheia com estes entes reflexivos nos mais variados formatos e tamanhos. Um espaço muito louco e com horários de funcionamento determinados pelas vontades de um craque de bola que não nos dava muita pelota...  Foi assim por 20 dias (ou noites). Tudo isto em um estádio “condenado”. E nunca por menos de 18 horas em cada 24...
“Voltar para casa” foi muito bom. Olhar pela janela e avistar o Cruzeiro do Sul foi extremamente reconfortante. Realmente me senti de volta ao Brasil...
A história do Cruzeiro do Sul é intimamente relacionada à história do próprio Brasil. A menor das constelações é também uma das mais famosas. Com seu característico formato de cruz ele é conhecida e cantada nos dois hemisférios.

Cruzeiro do Sul e Saco de Carvão 

Mas até ser o Cruzeiro do Sul muitas navegações foram necessárias. E segundo as lendas a primeira vez que esta teve sua forma característica identificada foi durante a viagem de Pedro Álvares Cabral. A mesma que “descobriu” o Brasil.
Embora mais famosa a carta de Pero Vaz de Caminha é aqui ofuscada pela carta de João Faras. O Mestre João. Esta deve se tratar do mais importante documento astronômico de toda expedição de Cabral. Não só ela apresenta o primeiro esboço de céus austrais, identifica a forma do Cruzeiro e levanta a lebre de que as terras visitadas por Cabral não eram novidade nenhuma...
Mas fugindo das conspirações ela não deixa duvida de que foi o Mestre João o primeiro a atribuir o Nome de Crucis (Cruz) para a constelação que agora chamamos de Cruzeiro do Sul.  Suas observações são muito mais claras e evidentes que as realizadas pelo navegador italiano Américo Vespúcio.
Há pouca informação sobre este tão esquecido explorador, coomólogo, cientista, médico, piloto e etc... Em um site de origem suspeita descobri somente o seguinte:
João Emeneslau, Johannes Meister, Meister Johanne, o Mestre João de Fares ou João Faras – conforme registro na Torre do Tombo em Lisboa – astrólogo (?), médico e piloto da esquadra de Pedro Álvares Cabral, batizou e fez o primeiro levantamento oficial das estrelas que compõe a constelação do Cruzeiro do Sul. Registrou as coordenadas de Porto Seguro e a 1 de maio de 1500, em carta a Dom Manoel, o Venturoso, rei de Portugal à época dos descobrimentos, relatou suas descobertas.
Descobri ainda, agora graças ao grande Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, que ele era também um dos dois únicos judeus conhecidos na frota de Cabral.
Em sua carta ele fala:
“Senhor, ao propósito, estas guardas nunca se escondem, antes sempre andam em derredor sobre o horizonte e ainda estou em duvida que não sei qual de aquelas duas mais baixas seja o polo antártico; e estas estrelas, principalmente as da Cruz, são grandes como as do Carro; e a estrela do polo antártico, ou sul, é pequena como a do Norte e muito clara, e a estrela que esta acima de toda Cruz é muito pequena”.
No texto podemos perceber certa confusão. Mas de qualquer forma a referencia a Cruz e ao Cruzeiro são claras. Parece-me evidente que Mestre João talvez tenha avistado Sigma Octans (estrela polar sul) nestes tempos pré-telescópicos. E quais seriam as guardas que ele se refere também é difícil afirmar de quem se tratem. Afinal Alpha e Beta Centauro não são circumpolares da altura de Porto Seguro.  Mas sua comparação ao Carro (uma parte da Ursa Maior) e aos guardas (estrelas no Carro que apontam para a estrela polar Norte) deixa claro que ele realmente esta falando do cruzeiro e das cercanias do Polo celeste Sul.
È provável que o piloto de Cabral tenha avistado Nu Octans. E acreditado que esta trata-se da estrela polar Sul. Eu mesmo já fiz isto... E com Buscadoras, Binóculos e telescópios a meu dispor.
De novo graças ao Prof. Ronaldo Rogério de Freitas Mourão as únicas estrelas circumpolares facilmente visíveis a olho nu e logo ao alcance de Mestre João nas latitudes baianas seriam Beta e Gamma Hydra. As estrelas de Octans são bem discretas... E As estrelas do Cruzeiro não são circumpolares nas Latitudes por onde andava João quando pela Terra Brasilis.
Ainda em seu livro “A Astronomia na época dos Descobrimentos” o Prof. Mourão apresenta a poesia de Gerardo de Melo Mourão, na “Invenção do Mar” apresentando nosso herói:
“Mas na terra de Cabral
Elas foram primeiro reveladas
E nominadas por Mestre João-Mestre João Alemão-
Johannes artium et medicinae bachalaurius
descobridor de estrelas
e o físico-cartografo nelas viu o signo santo
                                              seu pentestrelo persignado
                                       desde a a estrela ao pé da cruz
                                                           até à g na cabeça.
Alpha e Gama crucis
Medidas em seus graus, chamadas por seus nomes.”

Em meio a esta carta de enorme valor ele apresenta o que é o primeiro mapa celeste do Brasil. E levanta algo da bruma que seu rebuscado texto causa aos modernos leitores... O piloto, cientista, médico e etc. parece que possuía uma visão muito desenvolvida.


Pelo desenho se deduz que o Mestre João de Farras identificou as seguintes estrelas: Delta Crucis, Acrux, Gacrux, Beta Crucis, Beta Centauri, Alpha Centauri, Alpha Circini, Beta Triangulo Austral, Gamma Triangulo Austral, Alpha beta Triangulo Austral, Épsilon Apodis, Xi Pavonis, Delta Apodis, Gamma Apodis, beta Apodis, Nu e Sigma Octans. É importante ressaltar que as modernas constelações austrais só foram definitivamente estabelecidas no século XVIII com o trabalho de Lacaille.
Se o antigo astrônomo localizou, de fato, a estrela polar sul permanece um mistério. Assim como se os antigos navegadores sabiam ou não de terras por estas bandas...

Com as histórias de Mestre João ou João Alemão na cabeça e com saudades de observar algo, tirar a poeira do “Newton” (meu refletor) e mais ainda de fazer algumas fotos eu me preparo para visitar as estrelas que formam o meu hospitaleiro Cruzeiro que, nesta época do ano, fica bem de frente para a minha janela na “Stonehenge dos Pobres”.
Nunca tinha fotografado todas as principais estrelas do Cruzeiro. E com meu corpo antigo e cansado deste meu viver no “Pais da Maravilhas” acho que seria um programa legal e fácil. Usando de exposições relativamente curtas e com alvos facilmente visíveis pelo LCD da câmera eu poderia ter uma calma e tranquila noite de astrofotografia e ainda visitar a “Cruz de João” e as estrelas que o mesmo batizou. Depois poderia ainda fazer umas fotos com minha zoom 18-55 mm do conjunto da obra. De novo sem alinhamento polar, mascaras de Bathinov, duvidas sobre o foco e contorcionismos junto a ocular. E ainda me sentido de volta ao lar.
Alpha Crucis ou Acrux é um belo sistema binário facilmente separável. Mesmo as mais modestas lunetas serão capazes de resolver este belo par. Ambas com uma cor esbranquiçada. Trata-se de um sistema binário verdadeiro e ambas as estrelas dividem um centro de massa comum. Na verdade trata-se de um sistema triplo com a componente c muito próxima para ser percebida de forma ótica (apenas 1 UA). Ambas as componentes visíveis são da classe B e muito quentes. Encontram-se à aproximadamente 321 anos luz de nós e sua orbita é bastante longa ao redor do dito centro de massa. Mais de 1500 anos. É também conhecida como a “Estrela de Magalhães”. Foi a Primeira estrela dupla que observei. E creio que a primeira que fotografei...
Depois de fazer algumas exposições de 4 segundos desta eu parto para Beta Crucis ou Mimosa. 
Esta é também uma dupla. Otica e espectografica. A estrela que voce ve a sua esquerda não é relacionada a ela fisicamente. Não chega ao esplendor de sua irmã maior, mas ainda assim é um espetáculo a parte. É uma estrela do tipo B e uma variável do tipo Beta Cephei. Apesar de jovem já consumiu a maior parte do hidrogênio em seu núcleo. É possivelmente a estrela de 1ª magnitude mais quente conhecida. 27.000 k. É uma daquelas que prefere viver dez anos a mil que mil anos a dez. Se encontra há 280 anos luz do Sol. Ela serve como marco para se chegar Ngc 4755, a Caixa de Joias. O DSO mais famoso do Cruzeiro do Sul.

Seguindo o sentido horário chego até Gama Crucis. A Rubiácea. Minha favorita. Uma bela dupla ótica de esquisito colorido. Sua principal merece o nome. Parece um grão de café cereja. Maduro e pronto para a colheita. O colorido da dupla garante o espetáculo. Também conhecida como Gacrux é a gigante vermelha mais próxima do Sol. 88 anos luz. Sua companheira ótica se encontra a 400 AL...






A próxima parada é Delta Crucis . A Pálida. Já mais apagada que suas colegas ela chega a sumir em noites de lua cheia e de forte poluição luminosa. Com um brilho branco azulado ela merece seu nome. Uma beleza pálida. Seu colorido me lembra de alguns filmes de vampiro. Ela já se encontra saindo da sequencia principal e esta se desenvolvendo rumo a tornar-se uma gigante vermelha. Seu tipo é B2 IV (subgigante) e ela se encontra a 345 AL da terra. Ela também é candidata a ser uma variável do tipo beta Cephei



E finalmente a Intrometida. A estrela que não devia estar lá. Apagada e avermelhada ela é difícil de perceber a olho nu aqui no Rio de Janeiro. Ela é uma gigante laranja da classe K3 III. Encontra-se há 228 anos luz da terra.









Como já vem se tornando um habito apresento abaixo as fotos realizadas e devidamente empilhadas tanto pelo Rot n Stack como pelo Deep Sky Stacker. Nem sempre consigo me decidir sobre qual é o melhor resultado. Embora saiba que o DSS é mais poderoso...
 
DSS - 50 exp. X 20 Seg  Canon 18-55 @ 35 mm f5


 
RnS- 50 X 20 seg Canon 18-55 @ 35 mm f5 ( Modo Mean)

Novamente percebo mais detalhes no DSS . Mas mais cores no RnS. Achei que tinha descoberto um meio de aumentar a saturação das fotos no proprio DSS. Mas desta vez não funcionou...

As fotos não sofreram grandes processamentos. E o resultado é "pretty much" o que sai do resultado de empilhamento. No DSS eu apenas ( como sempre é necessario) "desço na curva" RGB. No Rns (como sempre) faço um pequeno crop no Photo shop. 
As fotos das estrelas são apenas uma exposição de 4 segundos em cada uma sem acompanhamento.