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sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Três Marias, Cr 70 e Anãs Marrons

           
          As Três Marias é provavelmente o mais famoso asterismo do firmamento. Aquelas estrelas que formam o cinturão da constelação de Órion são conhecidas em ambos os hemisférios e geralmente são a primeira coleção de estrelas que as crianças aprendem a reconhecer.
            As estrelas do cinturão de nosso caçador celestial são batizadas originalmente em Arabe. E do Sul para Norte se chamam Alnitak, Alnilam e Mintaka. Respectivamente " O Cinto" , " O Cordão de Perolas" e "Cinto". A palavra Mintaka deriva de Alnitak e daí o significado quase idêntico.
            Já o nome Três Marias tem uma origem "bíblica". Segundo algumas fontes esta homenagem refere-se as Três Marias que encontrvam´se ao pé da Cruz de Cristo. Seriam estas segundo a  que me pareceu mais confiável Maria (sua mãe), Maria de Cleofas (sua tia) e Maria Madalena. O nome Três Marias é como ficou conhecido o cinturão na Espanha, Portugal e América do Sul e Central.
            O nome mais comum para o asterismo em terras boreais é "Os Três Reis". Este empresta um pouco de sentido e de ciência a uma passagem famosa e também bíblica. Seriam as estrelas os Três Reis Magos e estes seguiriam uma brilhante estrela. No caso Sirius . "Os Três Reis" apontam para Sirius se ligarmos suas estrelas e seguirmos rumo a Oeste.  
            Mas abandonando o terreno das lendas as Três Marias se chamam mesmo Collinder 70. E compõem parte da associação Ori OB1. Este um aglomerado jovem de estrelas do tipo O  paralelo ao plano galáctico (Guetter 1979). Na verdade esta coleção de estrelas que parte se tornara Cr70 foi primeiro descrita por Panneckoen em 1929.   Para efeito de "fidelidade acadêmica" devo frisar que Cr 70 e/ou as Três marias são definidas com Ori OB1"b" ( de Belt) dentro do complexo que atende por   Ori OB1.
            O aglomerado é enorme e é melhor observado de Binóculos. Mesmo asimo com meu 15X70 posso passear um pouco para completar todo o tour por ele. Meu 10X50 abarca Cr70.
Esta seria a Visualização de Cr 70 com um 15X70 mm
            Há tempos sabia que as Três Marias eram intimamente relacionadas e que não tratava-se de uma alinhamento casual. Bem como o "mar de estrelas" em seu entorno. Não bastando isso sabia que a região é  envolta na Nuvem Molecular de Órion que por sua vez se confunde com a coleção de DSO´s que em conjunto são chamados de" Loop de Barnard".
            Como muitas coisas aqui no Nuncius Australis acontecem por uma daquelas casualidades que de tão por acaso parecem se relacionar as leis mais fundamentais do Universo eu acabei por fazer algumas fotos de Órion sem nenhum compromisso . E nelas estava Cr70. Um aglomerado ultra jovem e que por um acaso qualquer é e foi estudado não por suas estrelas mais famosas . Mas devido a localização de duas delas. E dos objetos subestelares a redor destas.
            Mas para organizar o caos que isto pode se tornar vamos iniciar pelas estrela mais evidentes e estruturas mais obvias que podemos observar nas fotos realizadas.
            Na foto que abre este post podemos perceber todo o conjunto do Cinturão e mais a espada combinada. Percebe-se M42 e cia ltda. Isto é apenas uma coincidência  e não tem nenhuma importância para este post. A foto foi apresentada primeiramente assim por uma razão puramente estética.
             Assim com a foto devidamente cropada vamos falar do que realmente interessa para este post. Cr70.
            Primeiramente vamos falar de Alnitak. A estrela mais a leste das Três Marias. Esta encontra-se envolta pela tal nuvem molecular de Orion e devido a um tempo de exposição determinado pelo acaso pode-se perceber de forma discreta alguns traços de Ngc 2024 ( A Nebulosa da Chama) a seu lado. Na verdade Alnitak traz em seu campo diversos objetos famosos. Mas estes precisam de muito mais tempo de exposição e não gostam muito de se apresentar por acaso em fotos amadoras. De qualquer forma Alnitak ou Zeta Orionis é uma estrela do tipo espectral O9. Uma super gigante azul. Com magnitude aparente de  1.7 é a estrela de seu tipo mais brilhante do firmamento. Trata-se de uma estrela tripla. Mas só espere encontrar uma de suas companheiras, Esta da classe B e de 4a magnitude. Foi descoberta em 1819 por Kunowsky . A estrela principal tem cerca de 28 massas solares e possui cerca de 20 raios solares. O terceiro membro do conjunto só foi descoberto em 1998 e também é da classe espectral O.
            Cr 70 esta centrado sobro Alnilam. A estrela central no cinturão. " O Cordão de Perolas" é uma estrela super gigante azul. Vai viver 10 anos a mil...  Em alguns milhões de anos ela vai se tornar uma super gigante vermelha e explodir como uma supernova. Depois disto seu rumo vai depender de nomes como Chandrasekhar ou Volkoff -Oppenheimer... Ela ilumina uma nebulosa de reflexão conhecida como Ngc 1990. Esta uma parte da nuvem molecular que se espalha por quase toda constelação de Órion.  Seus ventos estelares atingem até 2000km/s. Ela perde massa 20 milhões de vezes mais rápido que o nosso sol. Ela é também Epsilon Orionis. Ela se encontra mais distante que suas companheiras mas todas as fontes garantem que ela é também um membro de Cr 70. Sua distancia é superior a 2000 anos luz.
            Finalmente chegamos a Mintaka. "O Cinto".  Localizada a cerca de 700 anos luz da Terra.  Seu tipo Espectral é O9.5 II. trata-se de um sistema múltiplo sua estrela B é facilmente resolvida. Ela é ainda Delta Orionis... Distancia de 695 anos luz
            O aglomerado apresenta caracteristicas que denunciam sua juventude. Muitos de seus membros são estrelas do tipo T Tauri. Estas são estrelas oscilantes e que ainda estão sofrendo as contrações de Hayashi. Como seu equilíbrio hidro estático não esta completamente estabelecido ela brilham de forma bastante errática. A idade do aglomerado é estimada em apenas 10 milhões de anos e muitas das estrelas ainda nem chegaram a sequência principal. Mesmo em estimativas muito conservadoras as estrela mais antigas não atingiram nem 30 milhões de anos.
            Um interessante paper que encontrei apresenta um detalhado levantamento de estrelas  de baixa massa e de anãs marrons que também habitam a região. E que são membros de fato do aglomerado. As regiões ao redor de Alnilam e Mintaka são especialmente interessante para este tipo de estudo com objetos subestelares devido a baixa extinção da região e baixa contaminação por estrelas de primeiro plano e de fundo. Já ao redor de Alnitak a grande quantidade de poeira torna a extinção menos homogênea e assim mais difícil determinar a magnitude padrão  destas "sub-estrelas".                         Curiosamente um outro trabalho sobre o assunto e que me parece serviu de inspiração ao trabalho de  Caballero e Solano se concentrou em volta de Sigma Orionis. Esta a estrela que Ilumina IC 434 . Esta é a nebulosa por sobre a qual se pode perceber Barnard 33. A famosa Nebulosa Cabeça de Cavalo. Ou seja : uma área que sofre dos problemas indicados pelos outros autores como um limitante para o uso de Alnitak e cercanias para sua pesquisa.
            Cr 70 é um belíssimo alvo para observação e um aglomerado de grande interesse cosmológico. Situado há uma distancia média de 1500 anos luz e brilhando com magnitude de total de 0.4 é um alvo fácil para astrofotografia mesmo sem acompanhamento.
            As fotos que acompanham este post foram realizadas com uma Canon T3 e são resultado do processo de stacking ( empilhamento) de 10 Light Frames e de 5 dark frames realizados no Deep Sky Stacker. A exposição foi de 20 segundos para cada Light frame. ASA 1600.  A lente utilizada foi uma 75-300 mm @ 75 mm. F 5.6 ( eu acho...)
            A exposição não foi suficiente para revelar as nebulosas que se escondem pela região e que são alvos de um caráter mais fotográfico que visual. Mas revelam claramente as estrelas mais luminosas de Cr 70. A nebulosa da Chama e M78 "quase" começam a se revelar  e é divertido tentar caçar qual das estrelinhas borradas são as que iluminam M78.  
            As Três Marias e suas cercanias são uma das mais divertidas regiões do céu para se passear sem compromisso com um binoculo
Uma versão reprocessada da foto de abertura. Em troca de ruido se percebem mais estruturas . B33 ( A nebulosa cabeça de cavalo) começa a surgir próxima a Alnitak. 

domingo, 19 de janeiro de 2014

As Plêiades e a Inveja de Messier

          

          Não sei se o conceito que vou apresentar agora tem algum valor acadêmico. Mas aqui vai: A transição entre a chamada pré-historia e a História tem como um marco a invenção da escrita.  Eu sei que desta forma certas culturas que coabitam comigo ainda se encontram na pré-história . Mas...
            M45 ( o nome "moderno" das Plêiades) é provavelmente um dos DSO´s mais antigos conhecidos pela humanidade. Na verdade acredito que mesmo em tempos que ancestrais dos atuais Homo Sapiens caminhavam sobre a terra este grupo de estrelas já devia chamar-lhes  atenção. Em períodos históricos e com alguns passos evolutivos tendo sido dados seus registros pipocam em quase todas as culturas da antiguidade. Com a invenção da escrita e das maravilhas que esta permitiu os registros históricos mais antigos que encontrei sobre este aglomerado aberto remontam há 2.300 anos AC. Babilônia.... Em seus catálogos estelares eles chamam o grupo de MULMUL. Um nome muito apropriado. "A estrela de estrelas".  Apesar de serem os criadores de uma das  primeiras escritas eles ainda não tinham descoberto o que viria a ser chamado  de Aglomerados abertos e depois ainda de DSO´s           
          Depois são cantadas em verso pelos gregos. E como quase tudo em nossa cultura ainda Greco Romana ganham seu nome atual mais prosaico. As Plêiades.
            Mas este pequeno grupo de estrelas relativamente próximos de nós é também  descrito pelas mais diversas culturas e por suas respectivas mitologias.
            Mitologia não nos diz nada enquanto este Blog se dedica a Astronomia . Mas como aqui também se conta muitos "causos" achei importante fazer um levantamento das diferentes  histórias que cercam este DSO de muitas lendas.
            E assim rezam as Lendas que mais gostei. Infelizmente um levantamento completo destas seria um trabalho para um outro Ícone da Cultura Grega. Hércules...
            Tuaregues são os habitantes do deserto no Norte da Africa. Para eles as Plêiades são chamadas de Cat Ahad .  " As Filhas da Noite". Um provérbio Berbere ( Grupo de Povos que compartilham uma língua semelhante e que habitam este mesmo  Deserto no norte de Africa. Entre eles os Tuaregues)  diz o seguinte :
"Cat ahăḍ as uḍănăt, ttukayeɣ ttegmyeɣ, anwar daɣ ttsasseɣ. As d-gmaḍent, ttukayeɣ ttegmyeɣ tabruq ttelseɣ."
"Quando as "Filhas da Noite" se poem eu acordo olhando para meu cantil de couro de Carneiro para  algo beber. Quando as "Filhas da Noite" nascem eu acordo procurando roupas para vestir".
            O sentido é bastante obvio. Quando as Plêiades se poem a oeste junto com o sol é porque se aproxima o calor. E quando estas começam a nascer ao leste é tempo de frio...
            Maomé diz ter contado 12 estrelas no nosso aglomerado. Isto faz do Profeta um dos humanos de visão mais aguçada de que tenho noticias. Pessoas com excelente visão contam 7 estrelas no agrupamento. Walther Houston ,que escreveu o coluna Deep Sky Wonders por décadas na revista "Sky&Telescope", dizia poder contar 14 estrelas no aglomerado. Eu nunca passei de 4. E a maioria das pessoas que conheço só percebe uma nebulosidade na Área.
            Na cultura Tailandesa o Aglomerado é conhecido como ""ดาวลูกไก่
                .Isto se pronuncia mais ou menos assim "Dao Luk Kao".  Algo como a "Família de Galinhas Estelar". A Lenda nos conta que um casal de idosos morava em uma floresta afastada e  que eles criavam uma família de galinhas. Uma Galinha Mãe e seis pintinhos. Certa dia receberam a visita de um monge que estava em uma peregrinação muito importante.  Algo haver com as praticas do Dhutanga. Com medo de não ter nada digno para servir ao monge eles decidem fazer uma canja com a galinha mãe. Esta percebe a situação e corre para contar aos seus pintinhos. Mas retorna . Afinal este era seu destino e ela e seus pintinhos eram bem tratados pela casal de idosos.  Desta forma quando sua mãe foi para o fogo os seis pintinhos se atiraram neste e morreram juntos com sua mãe. Os deuses ficaram muito impressionados com tanto carinho e devoção que colocaram os sete nos céus.
            Os deuses tailandeses e gregos devem ter uma visão semelhante. Pois ambos contaram sete membros nas respectivas famílias cósmicas.
            As Plêiades , segundo a lenda grega, são reconhecidas como  Sete Irmãs. São as filhas do titã Atlas  com a Ninfa dos Mares Plêione. todas muito bonitas foram sempre galanteadas pelos principais chefões do Olimpo.
            Maia , a mais velha, foi a mãe de Hermes em um caso com Zeus.
            Electra foi a mãe de Dardanus. Zeus de Novo.
            Taygeta foi a mãe de Lacademus. Zeus é muito safado...
            Alcione foi a Mãe de três filhos de Poseidon.
            Celaeno foi mãe de Lycus. Poseidon também não valia nada...
            Sterope teve Oenomaus com Aries.
            E a mais jovem Merope foi prometida a Órion.
            Mas  Órion não negava a raça e começou a perseguir todas as Plêiades.
            O pai destas tinha sido condenado a carregar os céus por todo o sempre e Zeus  com pena deste e querendo  sacanear  Órion primeiro as transforma em Cisnes e depois as coloca no céus juntamente com seu Pai. 
             O nome Plêiades , segundo Burnham,  deriva da palavra grega para "Velejar". E que elas serviam como um meio seguro para se determinar estações seguras para navegação no Mediterrano. Outra possibilidade é que o nome derive do nome da mãe das mesmas: Plêione...


            Como Órion continua até hoje a perseguir as moças localizar as Plêiades é tarefa simples. Localize as Três Marias. Estas são o cinturão de Órion. A linha ligando as Três Marias em direção a norte vai apontar para Aldebaran. Uma estrela bem vermelha e que marca o olho de Touro. Prosseguindo nesta mesma linha ainda rumo norte você vai perceber rapidamente uma região enevoada em uma área relativamente vazia do céu. São as Plêiades.
            Você consegue perceber quantas estrelas ?  Não se preocupe se só perceber a nebulosidade.  Pela buscadora o aglomerado se resolverá facilmente. As Plêiades são um grande alvo para Binóculos. Se espalhando por mais de  30´ de grau ( algo como uma lua cheia) as meninas são  bastante esparramadas para a maioria dos telescópios.
            Na verdade esta caracteristica delas acabou por fazer que este post demorasse anos para acontecer .  Há muito tentava tirar uma foto que fosse digna da beleza das ninfas cósmicas. E que capturasse algo da nebulosidade que é associada a este DSO.  Isto é bastante difícil com o uso de meus telescópios. Mas finalmente tive uma luz. Por que não utilizar uma lente tele objetiva nesta missão?  E assim foi. 
            A foto que  abre este post é o resultado de diversas exposições de 15 segundo feitas com uma Canon T3 calçada com uma zoom 75-300 mm @ 100 mm. Com f-4.0 de diafragma a nebulosidade envolvida ficou bem obvia . É claro que esta foto passou pela tradicional peregrinação até chegar ao resultado final. Diversos light frames (fotos "comuns") foram combinados com cerca de 6  dark frames ( frames negros destinados a reduzir o ruido em exposições muito longas)  e visitaram o Deep Sky Stacker  e o Photoshop. Desta vez como o ruido foi menor devido a ASA mais baixa (1600) utilizada eu dispensei o " blur" do Noiseware... 
Nesta versão da foto um erro de ajuste no DSS acabou com a natural coloração azulada da Nebulosidade ao redor do Aglomerado.

            Agora que já consegui falar das lendas e um pouco de astro fotografia vamos falar um pouco de astronomia e apresentar a parte dita séria desta história.
            M 45 , Plêiades ou as Sete Irmãs são um aglomerado Galáctico localizado entre 390 e 460 anos luz do sol. Em escalas  astronômicas isto é logo ali. Composta , principalmente, por estrelas azuis extremamente brilhantes e formadas a cerca de 100.000.000 de anos.  Se percebe muita nebulosidade na área (especialmente em fotografias) mas esta não é fruto de restos da nebulosa de onde o aglomerado se formou . Embora no passado o aglomerado e a nébula fossem associados hoje é sabido que é apenas um encontro casual e que as distancias e velocidades aparentes  confirmam origens distintas. Simulações computado rizadas levam a crer que as Plêiades formaram-se em uma área semelhante a atual Nebulosa de Órion (m 42). Estima-se que o aglomerado se manterá coeso por pelo menos mais 250.000.000 anos.
            Como já contei e vou contar de novo  as Plêiades são conhecidas desde a pré história e posteriormente citadas na Babilônia , por Homero (750 A.C,) ,Amos ( ~750A.C.) e Hesíodo ( 700 A.C.). Posteriormente elas foram crescendo ao longo da história. As Sete Irmãs proliferaram mesmo em tempos pré- telescópicos. Mostlin as desenhou com 11 membros e o desenho é fidedigno. Posteriormente Kepler deixa registros falando em 14 membros. Hoje é sabido que o aglomerado possui mais de 500 membros e se espalho por mais de 60´de firmamento.
            As Plêiades oferecem um pequeno quebra cabeça em evolução estelar. Algumas estrelas que são fisicamente associadas ao aglomerado apresentam características de anãs brancas. Mas com apenas 100 milhões  de anos como estrelas que precisam de bilhões de anos para existirem podem estar lá? Alguns processos foram propostos e parece que a charada foi resolvida. Estrelas do Tipo O devido a grandes velocidades de rotação acabara por expelir suas camadas mais externas e mantendo-se abaixo de Chandrasekhar passaram por fases como nebulosas planetárias e os núcleos estelares restantes seriam as tais anãs brancas que encontram-se escondidas no meio das jovens gigantes Plêidianas.


            Sua classificação pelo sistema Trumpler também é alvo de disputa. Segundo Kenneth Glyn jones ela seria T II ,3, r. E segundo Gotz e o Sky Catalog 2000.0 elas seriam T I , r,n . Isto significa que suas estrelas se destacam do fundo e são ou muito ou moderadamente concentradas em direção ao centro do aglomerado, apresentam uma grande variedade de magnitudes e são ricas ( mais de 100 membros). O simbolo "n" significa nebulosidade envolvida. como já falamos é hoje aceito que a nebulosidade -e um encontro casual . Mas de qualquer forma as nebulosidades em volta das estrelas membros do aglomera possuem diversos catálogos associados . As estrelas das Plêiades e suas nebulosidades associadas podem ser vistas aqui:
            Observações mais recentes ( desde 1995) indicam a presença de anãs marrons escondidas entre as irmãs...
            As Plêiades são melhor observadas com binóculos. Ou usando as menores magnificações que você tiver disponível em seu telescópio e de preferência com oculares com um grande AFOV. ( Aparent Field of View)..


            Com tantas história as Plêiades não conseguiram se manter afastadas de fofocas nem na Academia Francesa de Ciências. A mais famosa é associada a dois dos sócios aqui do Nuncius Australis.
           Messier , como muitos cientistas, era um dono de um ego considerável. e desta forma não queria lançar a primeira versão de seu famoso catalogo de objetos para "não serem observados" com menos entradas que o catalogo de nosso querido Abbe Lacaille. E desta forma acrescentou 6 entradas que jamais poderiam ser confundidas com "falsos cometas".
            M40 é um estrela dupla e a entrada mais sem graça do catalogo.
            M41 é conhecida deste a antiguidade clássica e mesmo Galileo já o tinha resolvido em estrelas.
            M42 é  conhecida desde a pré história.
            M43 é parte de M42 e um ato de desespero...
            M44 Já era  conhecido até pelo astrólogo da corte da Etiópia...
            M45 Dispensa comentários .  É uma das entradas mais controversas do catalogo
            Com estas ultimas entradas a primeira versão do catalogo Messier foi lançada com mais duas entradas que Lacaille em 1771.  Posteriormente o Catalogo foi expandido pelo próprio Messier . Mas isto já é outra história.
            A Inveja é uma M....

           
             


             

domingo, 5 de janeiro de 2014

Ngc 3372 : A Grande Nebulosa de Eta Carina

           
           

             
       A Nebulosa de Eta Carina é um DSO de muitos DSO´S. Há anos eu fujo de apresentá-la. Ela é  a Grande Dama dos céus austrais. E assim sendo deve ser tratada com o devido respeito.



            A Nebulosa foi um dos primeiros objetos que observei. Ela é facilmente localizada de nossas latitudes. A Via Láctea passa entre Órion e Gêmeos. Ruma para o Sul passando por Sirius e segue para Canopus. As duas estrelas mais brilhantes do firmamento. Depois segue direto para o Cruzeiro do Sul. Neste trecho ela vai passar pelo asterismo do Falso Cruzeiro. Suas estrelas são um pouco mais afastadas e mais fracas que as do Cruzeiro original. Procure por um "Nó de Luz" encravado na Via Láctea entre o Falsa Cruz e o Cruzeiro do Sul. Em céus escuros ela é evidente a olho nu. Mesmo em céus menos generosos pode-se perceber uma diferença no gradiente de luminosidade do céu na região. Em sua buscadora ela se apresenta-rá como uma região enevoada.
            Use uma ocular de grande campo. 25 ,30 ou mais mm. A nebulosa vai preencher o campo. Você vai perceber um bem estruturado conjunto de áreas brilhante permeada por linhas mais escuras e diversos aglomerados e outras estruturas. Na sua parte central vai perceber uma pequena área alaranjada . É o Homunculus onde se escondem Eta Carina e suas companheiras. Linhas escuras vão constituir o que passou a ser chamada de Nebulosa da Fechadura ( Keyhole Nebula). Vários aglomerados estarão por lá também.
            Com as férias de fim de ano  fiz uma foto que pela primeira vez achei a altura da tarefa de introduzir a dama a sociedade. As experiências anteriores não eram dignas nem de tablóide inglês. E assim vou arriscar  realizar o debut da moça no Nuncius Australis.
            A nebulosa possui vários nomes : A Grande Nebulosa de Carina, A Nebulosa de Eta Carina, Ngc 3372 ou simplesmente a Grande Nébula. É uma imensa e brilhante nebulosa que possui dentro de suas fronteiras diversos aglomerados abertos e estrelas de grande interesse. É uma das maiores nebulosas difusas dos céus. Ela é quatro vezes maior e mais brilhante que a mais famosa Nebulosa de Órion. Logicamente que devido a sua localização austral é menos conhecida. Ela é um segredo do céus do sul. Provavelmente a maior jóia da Coroa Australis. 
A Grande Nebulosa de Eta Carina e adjacências-. 30 X 1 min 1600 ISO-Canon T3 -Lente Canon EF 70-300 mm @ 75 mm Esta foto é um "post scriptum.". Foi realizada anos após o post. empilhada no DSS e esticada no PI e PS. 

            Como não podia deixar de ser foi uma descoberta do nosso sócio. O Abbe Lacaille. Os primeiros registros de sua natureza nebulosa foram feitas em sua expedição ao Cabo da Boa Esperança entre 1751-52. Sua inclusão em seu catalogo foi realizada , precisamente, em 25 de janeiro de 1752. É a entrada Lac III.6 A categoria III do Catalogo Lacaille reúne o que o Abbe considerou "Estrelas Nebulosas"; E como o que ele observou foi anterior ao evento de 1843 é bem provável que a região tivesse um aspecto bem diferente.  
            Para introduzir este rico DSO creio que a melhor forma seria apresentar a dona da casa. Eta Carina.
            Eta Carina é uma estrela com uma história riquíssima e de grande interesse cosmológico . Como boa diva tem um comportamento bastante "explosivo". Sabe-se hoje que é um sistema estelar localizado entre 7.500 e 8000 anos luz de nós. Encontrei diversas distancias descritas na literatura. Uma curiosidade: em livros mais antigos chega a ser dito que a distancia do complexo poderia ser algo entre 2000 e 10.000 anos luz devido a sua posição na Via Láctea e qual seria a quantidade de poeira a ser corrigida para determinar-se a distancia. Sua estrela primaria é uma Luminosa Variável Azul ( LBV na sigla em inglês)  que possuía inicialmente algo como uma massa de 150 sóis das quais já perdeu, pelo menos, 30. Isto faz dela uma das maiores estrelas conhecidas no universo.  O sistema possui ainda uma quente super gigante com aproximadamente 30 vezes a massa solar orbitando a primaria.Infelizmente uma enorme e densa nebulosa vermelha envolve esta impedindo de se ver a secundaria. O sistema Eta Carina esta encapsulado na chamada Nebulosa do Homunculus.  Estrelas da classe de Eta Carina são muito raras. Umas poucas duzias por galaxia do tamanho da Via Láctea. Elas se aproximam , e potencialmente excedem, o Limite de Eddigton  Um lugar onde a pressão da radiação é praticamente suficiente para gerar um contra ponto para a gravidade que mantem toda radiação e gás estruturados em forma de estrela. Estrelas com mais de 120 massas solares excedem Eddigton. Provavelmente isto tem algo relacionado com o evento que causa a grande importância astrofísica de nossa amiga. A grande erupção ou o "Evento impostor de Supernova de 1843".
            Quando Eta Car foi catalogada pela primeira vez em 1667 por Edmond Halley (o do cometa)  ela era uma estrela de 4a magnitude. Em 1730 diversos observadores já haviam percebido um aumento considerável de seu brilho. Quando Lacaille esteve pela região ele deu a designação Bayer de Eta para a estrela. No momento com  2a magnitude . Posteriormente a estrela enfraqueceu de brilho e por volta de 1782 ela havia retornado a seu brilho original. Em 1827 seu brilho havia crescido mais de dez vezes e atingiu seu apíce em abril de 1843 quando atingiu a magnitude de -0.8. Se tornou a segunda estrela mais brilhante do céu. É importante lembrar que Sirius (a mais brilhante) esta a 8.6 anos luz da terra. E Eta Carina habita a 7.500 anos luz. Comparações utilizando velas, faróis e afins são desnecessárias... Falar que esta é uma candidata a supernova em futuro próximo é também redundante. E próximo, em astronomia, compreende um período que vai desde amanhã até alguns milhões de anos...



            O Homunculus é uma formação nova. Este foi formado durante e logo após a grande erupção de 1843 . Trata-se de uma nebulosa de reflexão que faz parte do conjunto que responde por Ngc3372.  Facilmente identificado na nossa foto ele não chega a apresentar claramente a  forma que lhe empresta o nome. Mas também demonstra que não é necessária tanta magnificação ou telescópios tão grandes quanto já imaginei para observa-lo.
            Como já falei ,mas não custa repetir, é outra parte do conjunto Ngc 3372 a conhecida Nebulosa da Fechadura. O Nome foi dado por John Herschel ( o filho) durante o séc. XIX. É uma nuvem poeira escura com filamentos de gás mais quentes  que aparece silhuetada contra a mais brilhante nebulosa ao fundo. A formação possui um Ngc só dela. 3224.
            Ngc 3372 é uma das mais dinâmicas regiões de formação estelar . A região há meros 2.3 kpc é a mais próxima região de formação estelar com uma população de estrelas muito maciças (com pelo menos 70 estrelas do tipo O e  4 estrelas Wolf-Rayet) Entre estas estas estão diversas das estrelas mais maciças e luminosas da galaxia ( com M>~100 massas solares). Entre elas a já citada LBV Eta Carina , HD93129Aa e diversas estrelas O3 da sequência principal.  Diversas destas estrelas residem em frouxo aglomerados próximos ao centro do complexo.
            Entre estes aglomerados podemos destacar Tr 14,15 e 16. todos eles muito jovens com idades variando de 1 a 8 milhões de anos apenas.  Tr é sigla que  identifica os aglomerados do catalogo Trumpler. O mesmo Trumpler que criou a classificação Trumpler para descrição de aglomerados galácticos. Falei nele no nosso ultimo post. A forte radiação com o feed back de estrelas tão maciças  já dispersou muita da original nuvem de gás. Levantamentos recentes indicam a formação de uma nova geração estelar nas densa nuvem remanescente , em especial na região conhecida como "Pilares do Sul ". (Southern Pillars)

            As vezes é difícil dizer quem é quem na minha modesta fotografia, realizada com meios bastante amadores, mas fiz um esforço para identificar todos os abertos que vou apresentar neste post.
            Tr 14 é facilmente percebido a direita e acima da região mais densa da Nebulosa.Possui cerca de 290 estrelas e sendo bem jovem  ainda tem muito membros em estágios pré sequência principal. O Tal equilíbrio hidro estático é algo difícil de ser atingido por estas plagas. Seja por causa de Edidgton ou por causa de Hayashi.  
            Tr 16 é visto do mesmo lado da nebulosa mas mais abaixo  de nosso quadro e pode ser considerado um parente muito próximo de nosso aglomerado anterior. São os dois mais populosos aglomerados da região de Ngc 3372 e são a maior aproximação que temos das coisas que acontecem em 30 Douradus na Grande Nuvem de Magalhães. Não poderia deixar de perceber  e chamar atenção para as relações entre a região e a muto mias distante Nebulosa da Tarantula. Ambos os aglomerados ajudaram a determinar a extinção na região e encurtar uma discussão que já durava muito tempo. A quem interessar possa este é um paper bastante completo sobre os rapazes. http://iopscience.iop.org/0004-637X/549/1/578/pdf/0004-637X_549_1_578.pdf
            Tr 15 é também parente próximo e sofre das mesmas questões . Mas diversos papers consultados indicam que os aglomerados aqui indicados surgem a mesma distancia e tem idades semelhantes sendo associados a fenômenos relacionados a dinâmica da região de Ngc 3372.  Mais em Tr 15 em: http://mnras.oxfordjournals.org/content/331/3/785.full.pdf+html
            Cr232 é um aglomerado aberto bem próximo ao  Homunculus e em posição bem central no complexo. É evidente na foto e me permitiu ver que as vezes o que parece uma estrela com rastro devido a um mal acompanhamento polar na captura das imagens é na verdade um difícil aglomerado aberto. Astronomia e óptica são a mesma matéria...
            Cr 234 é outro que indico na meu modesto levantamento ótico da Grande Nebulosa de Carina. Sua história parece ser semelhantes aos demais...
            Cr 228 já se encontra mais afastado da região central mas compõe o quadro. Tenho duvidas se o identifiquei corretamente  na minha foto. Mas não sou o único com duvidas a respeito de sua real localização. É provavelmente  composto de estrelas recém formadas do material da nebulosa. Segundo Ronald Stoyan a posição e descrição dadas por Lacaille em seu catalogo indicam que o "perdido" objeto Lac.III.5 seria o aglomerado e não uma parte de  Lac III.6 como se sustentou durante muito tempo. Lacaille define III.5 como "Duas pequenas estrelas cercadas de nebulosidade.". Difícil imaginar ele resolvendo duas estrelas aqui com uma luneta de 25 mm.


            Na imagem do Cartes do Ciel existem ainda mais aglomerados abertos espalhados pela região. Não os identifiquei na foto realizada por clareza e por não localiza-los claramente na imagem.
            E o o Catalogo Bochum é , no minimo, bastante obscuro...  Para dizerem que não falei de flores desccobri que trata-se de um catalogo publicado em 1975 e elaborado no Astronomical Intitute, Ruhr Univ. Bochum, Germany...

            Segundo um dos meus livros mais queridos " Turn Left at Orion" a melhor época para se observar a região de Ngc 3372 é em abril. Queimei a largada e não me arrependo. Gosto de observar em horários mais tardios e assim conseguir céus um pouco mais escuros em meus tão claros céus urbanos... A Grande Nebulosa de Eta Carina já é uma mocinha bem crescida e passa a noite quase toda fora.

sábado, 4 de janeiro de 2014

IC 2391- O Aglomerado da Pequena Cassiopéia

              

            

              O aglomerado aberto IC 2391 é um dos eternos favoritos no Nuncius Australis. É um "primeiro" na minha história astronômica.
              Em primeiro lugar  foi o primeiro DSO que descobri.
            Logo que iniciei em astronomia comprei um binóculo enorme. Com zoom. Era um 15-100 X 80 mm. Com as lentes "ruby-coated". As famosas lentes vermelhas. Em uma piada que talvez já esteja se tornando repetitiva eu digo que ele possuía as lentes com um tratamento em Mercúrio. Mercúrio Cromo... Comprado a preço de banana no Paraguai ele viajou bastante. Seu carinhoso apelido era Trucuçu. Acabou sendo dado de presente para meu primo.
            Foi com ele que eu descobri IC 2391. Passeando pelo Falso Cruzeiro sem lenço e sem documento me deparo com o mesmo logo ao lado de Delta Vela. Ele é um evidente aglomerado aberto mesmo a olho nu. Mas com minha parca biblioteca na casa de Búzios e em tempos que wi-fi e 3G ainda eram raros não achei nenhuma referência ao DSO. Pronto. Batizei de BZ 1.
            Posteriormente ele foi o primeiro DSO que fotografei com foco direto. Desta vez devido a razões mais geográficas e geométricas do que qualquer outra coisa.
             BZ 1 como já sabem os senhores é IC 2391. E antes disto foi Lac II.5.
            Isto faz dele a 5a entrada da categoria II do catalogo elaborado pelo Abbe Lacaille em sua viagem pelos céus austrais nos meados do Séc. XVIII. Ele incluiu na categoria II os  considerados aglomerados estelares nebulosos. Com lunetas de apenas 30 mm sua classificação é de interesse apenas histórico. O aglomerado não apresenta nenhuma nebulosidade.
            A história do aglomerado é muito mais antiga que minhas primeiras observações com o Trucuçu. O primeiro registro sobre 2391 remonta a Al-Sufi , um astrônomo persa. Nas brumas do tempo pode-se imaginar que estes registros foram feitos antes de 964 DC.  Foi redescoberto de forma independente pelo Abbe em 11 de fevereiro de 1752.
            Sendo evidente a olho nu mesmo de ambientes suburbanos é muito provável que o mesmo tenha sido percebido por Halley em sua estada em Santa Helena. E por muitos dos navegadores que desbravaram os mares austrais anteriormente.
            Sua estrela mais brilhante apresenta magnitude aparente de 3.6.. É uma  gigante da classe espectral B3. A idade do aglomerado é entre 30 e 50 milhões de anos. Depende da fonte.
            O aglomerado é bem estudado e percebi que diversos "papers"s associados a estrelas de baixa massa e disco de acreção são associados ao mesmo. Uma vasta coleção destes pode ser obtida aqui.
                IC 2391 na classificaçãoo Trumpler de aglomerados abertos é designado como II,3,p.
            Isto significa que trata-se de um aglomerado aberto que se destaca das estrelas de fundo com um núcleo estelar bastante luminoso ( II) , algumas estrelas bem brilhante em paralelo com outras mais fracas com um grande amplitude de magnitudes (3)  e que o mesmo é pobre em estrelas. Com  menos de 50 membros. (p). O aglomerado possui cerca de 30. Com mais alguns candidatos de difícil percepção ótica e possivelmente algumas anãs marrons... Foi realizado um profundo levantamento otico de IC 2391 e surgiram diversos membros-candidatos.  
             Possui características óbvias de um jovem aglomerado galáctico. Falamos a respeito disso aqui no Nuncius Australis recentemente.
            Conhecido ainda como o aglomerado de Omicron Velorum e  ainda Caldwell  85 na lista elaborada pelo finado Sir Patrick Moore.

            Localizar IC 2391 é tarefa fácil para qualquer astrônomo ao sul do equador. Localize Delta Vela no asterismo conhecido como o Falso Cruzeiro e o aglomerado sera percebido logo a nordeste da mesma. É facilmente percebido a olho nu de céus suburbanos e mesmo em áreas urbanas (Bortle 8 ou 9) ele se destaca com qualquer auxilio óptico. Na verdade com minha buscadora ótica,  que com 50 mm é  muito mais poderosa que as lunetas que Lacaille possuía,  eu resolvo todos os seus principais membros
            Já tendo visitado e fotografado este diversas vezes gostaria de apresentar diversos resultados obtidos e através deste apresentar varias facetas deste que é um dos aglomerados austrais mais chamativos. Na verdade um dos aglomerados abertos mais brilhantes dos céus de todo o mundo. Uma das jóias da coroa.



            Esta foi a primeira foto astronômica com foco direto que fiz. Aqui podemos perceber claramente os membros mais brilhantes de IC 2391 e porque do apelido de Pequena Cassiopéia em memoria a pequena e tradicional constelação boreal batizada em homenagem a vaidosa rainha etíope. Utilizando o Newton ( meu refletor de 150mm) e empilhando algo como 15 fotos sem dark frames ou afins no Rot and Stack fiquei realizado. A história desta foto me ensinou a não confiar cegamente em softwares de empilhamento de imagens. Eles não irão presentar automaticamente uma imagem verdadeira do que se vê. E não necessariamente isto será ruim. Só será falso. Veja aqui esta história...
            Depois realizei mais fotos dele utilizando meu velho refrator Galileu. Apesar do menor poder de fogo deste as imagens demonstram a importância de céus escuros para a observação visual e para a realização de registros fotográficos. Mesmo com menor poder de fogo as imagens abaixo foram obtidas dos céus mais escuros de Búzios . Nos mesmos céus onde "descobri" IC 2391, A Pequena Cassiopéia. E percebe-se muito mais estrelas. Céus escuros são sempre o melhor equipamento. Em nome do fair play não posso deixar de dizer que a câmera também é outra . Aqui é uma Canon T3. Na primeira foto é a já pré histórica  Rebel 350D. 





         

       

       
         Diferentes resultados frutos de diferentes processamentos  Apesar de digitais as fotos astronômicas ainda visitam o laboratório... 
          Os light e dark frames utilizados  são os mesmos em todas as fotos. 11 light frames de 20 segundos de exposiçãocom asa 3200. O Galileu é um refrator de 900 mm de distancia focal e com uma lente de 70 mm acromatica. Bastante modesto.

Canon T3 . Aqui foi utilizada uma lente zoom 75-300mm @ 100 mm f4. 9 light frames com 20 seg. ASA 3200.
Percebe-se claramente Ngc 2516 no canto superior direito da foto. 

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

A Rainha Má, Galileu, Enchentes e Astrofotografia


         

         O ultimo semestre foi bastante ocupado. E com uma nova cria de apenas três meses há muito não tinha  chances de observar de locais mais escuros .
                Após uma longa e edificante diária de mais de 20 horas em um comercial de desodorante eu declarei que só iria trabalhar de novo no ano que vem. E assim se organizou-se a expedição da família  rumo a Búzios.
                A cidade sofreu a maior enchente de sua historia  há poucos dias . Mas segundo informações de meu irmão a casa se encontra habitável. Apesar de alguns danos. Ele é um cara bem otimista.
                A viagem transcorreu bem. Só cinco horas de porta até porta. Com o novo filho preciso de um carro maior. Com o veiculo abarrotado vou levando apenas o "Galileu", meu refrator de 70 mm. Mas com a montagem do " Newton" , meu refletor de 150 mm. Uma EQ 2-3. Com muito menos peso eu acredito que a cabeça vá se comportar melhor que o normal para a pratica da astrofotografia.
                No caminho para Búzios surgiu uma fabula familiar. Nela o novo rebento seria o " Dengoso", eu o " Zangado", minha filha a "Branca de Neve" e minha cara metade a "Rainha Má".  
                Ao chegarmos em casa e realizar  o cenário de calamidade os apelidos não poderiam ser mais apropriados.  E a fim de evitar a ruína da relação eu adentro o anexo da casa mal acompanhado de vassoura, rodo ,baldes e cia ltda. A faxina canta. Depois de deixar um dos quartos com cheiro de frutas cítricas eu consigo uma rápida alforria e aproveito para montar meu circo. Preparo o o telescópio, motorizo a cabeça e ainda ensaio um alinhamento polar. O "Galileu" se encaixou bem na paisagem. Com um dove tail adaptado e um monte de "gaffer tape" fixando o telescópio este parecia outro sobrevivente da enchente.
                O telescópio não é nenhuma "Brastemp". Um refrator com foco frouxo, aberrações as mais diversas. Mas ele as vezes surpreende. Quando comecei na astronomia achava-o excelente. Nada como a inocência da juventude.
                Depois de uma ultima missão instalando uma TV e o receptor da SKY para minha filha vou aguardar o céu se acender. Faço isto com frequência aqui em Buzios. Como não poderia deixar de ser a primeira estrela que percebo é Sirius. Mas quase simultaneamente pipocam Rigel , Canopus e em um intervalo de pouco minutos estão lá as familiares figuras de Órion e Cão Maior. Mais um pouco e as Plêiades se acendem.
                Uso Rigel para ajustar a buscadora. E depois resolvo testar o seeing tentendo separar sua pequena e apertada dupla. Se revela acima das capacidades do " Galileu". E ainda serve para eu perder mais um dos sonhos de minha infância e decretar que a pequena Plossl 4 mm de origem chinesa é uma péssima ocular.  Já separei Rigel com o " Newton" ( refletor 150 mm) utilizando uma 10 mm em conjunto com uma Barlow 2x. Desta vez no maximo uma suspeita,
               
                Tinha em mente seguir um roteiro que está na " Sky and Telescope" de janeiro de 2014. A matéria de Rod Molisle ( o Uncle Rod) propõe um tour pelos aglomerados abertos do catalogo Messier que estão presentes no nosso verão.  

                Mas estando tão perto não posso deixar de visitar M 42. A Nebulosa de Órion se apresenta , como sempre, magnifica.  Próxima a tão famosa companhia  Ngc 1981 quase passa desapercebido. Mas é um dos mais belos aglomerados abertos do céu. Fico passeando pela região e namorando diversos D.S.O´s que habitam a região em volta de M 42 ( Ngc 1973 , 1977 ...) . Resolvo fazer algumas fotos da Nebulosa e percebo mais ainda as limitações do equipamento e do alinhamento polar . Rot n´Stack faz algo com as fotos e com um pouco de Noiseware viram um registro tosco desta maravilha celestial. logico que o trapézio não se resolve e o centro da nebulosa fica superexposto mesmo no modo Minimo do RnS. 


                Depois disto volto a plano original e faço uma rápida parada em um eterno favorito : M 41. O aglomerado de Aristóteles.  Minha filha vem me visitar e aproveita para dar uma olhada pelo telescópio. E percebe algo que andei falando por aqui recentemente. A presença de estrelas vermelhas( gigantes) no centro de aglomerados abertos.
                Agora vou visitar grandes damas. M45 . As Plêiades. Apesar do tosco set up faço algumas fotos das "Sete Irmãs". Nem de longe honram a tão grandioso DSO. As meninas se espelham por uma área muito grande e não enquadro de forma apropriada. Não cheguei nem a empilhar .  O Ruido é absurdo. Vale o registro.Nem sinal da nebulosa em frente do aglomerado. Eu disse em frente.  Até algum tempo achava-se que a nebulosa que percebe-se em M 45 faria parte do mesmo. Hoje aceita-se que é apenas um encontro casual com a nebulosa sendo um ente que esta  passando em frente do aglomerado. Não são associados e cada um segue seu caminho. Dois dias depois retorno as Sete Irmãs disposto a um acerto de contas. E utilizando minha 70-300 @ 100 mm me acerto com a moças. As Plêiades demandam muito mais campo do que eu consigo com o Galileu. E agora os traços de nebulosidade são evidentes.





                Aproveitando da bela paisagem aproveito e chamo minha mulher para dar uma olhada. E depois faço o clássico desafio de quantas estrelas você percebe a olho nu quando olha para Plêiades. Ela contou 7. É um grande feito.Minha vista já mais gasta e sem óculos conta apenas 3 com uma quarta flicando esporadicamente. Reza a lenda que o grande Walther Houston ( autor da coluna Deep Sky Wonders por varias décadas)  contava 14.
                As fotos das Plêiades demonstram claramente as limitações do "Galileu". Mesmo com o recurso de se fazer foco com o Live View da câmera as estrelas não são nunca pontos. Mesmo dando o desconto de um alinhamento polar meio tosco. Na verdade estrelas não são pontos perfeitos nem com minha melhor ocular. E a camera registra isto com mais clareza que minha já velha retina. ( vejam bem que a foto que vocês vêem a cima não foi feita com o " Galileu". Não tive coragem de apresentar a que foi...) 
                Depois disto o plano seria visitar a Trilogia de Auriga. M 36 , M37 e M38. Mas depois de 5 horas de direção e mais uma faxina minha lombar não gosta muito da posição que será exigida para caçar as moças junto a buscadora ( preciso arrumar um eretora de imagem para minha buscadora com urgência)  e me conformo com apenas M36. Isto porque ele aportou meio que sem quere em uma escaneada usando a Plossl 25 mm.
                Júpiter é bem mais fácil de se localizar que discretos DSO`s e assim vai visitar a ocular. Brinco com todas as combinações de oculares e Plossl´s que possuo enquanto namoro a lenta dança das Luas galileanas ao redor do gigante. E assim o "Galieu" segue os passos de Galileu com mais de 400 anos de delay. Como bônus percebo ainda que discreta a Grande mancha Vermelha. Nem tão vermelha assim. Resolvi fografar o planeta. E me lembrei que fotografia planetária é um outro jogo . E que não sei joga-lo.Decidi que devo comprar uma web cam e tentar fazer isto de outro jeito...

                 E creio que aprendi porque devo procurar uma web cam que possa filmar bem rápido ( tipo 48 e/ou de preferência  mais frames por segundo). O disco planetário fica extremamente superexposto com o diafragma regulado para 1/60 ( e assim com a captura de video pela web cam a 24 fps não me parece ser o ideal...)
                Resolvo continuar na seara do fácil e visito Castor. Uma bela dupla que se resolve com a ocular  10 mm.
                Gostando de brincar de estrelas duplas e aproveitando um excelente seeing vou visitar Sigma Orionis. Os três membros comparecem e " Galileu"  surpreende.
                Agora fugindo completamente do plano original me viro para o horizonte sul e em rápida escaneada ao redor da Falsa Cruz visito velhos conhecidos. IC 2391 , Ngc 2669 e 2516.
                A seguir  localizo rapidamente as Plêiades do Sul e faço algumas fotos da mesma. E com isto fotografo  todas as Plêiades do céu na mesma noite.  Estas me dou ao trabalho de empilhar .  Uso o DSS.  De 14 fotos só aceita 6. Assim como suas irmãs boreais vale o registro. o ruído é absurdo e não me dou ao trabalho de passear muito com esta matriz pelas terras do pós processamento . 
                Depois fico brincando a olho nu e percebo diversos DSO´s em potencial.  Ngc 2244 é o aglomerado associado a Nebulosa de Roseta e percebo claramente uma luminosidade na região.
                Abro uma cerveja.
                Acordo com uma crise. A Rainha Má aos berros dizendo que não ficaria nem mais um minuto naquela casa. O "Dengoso" teve seu primeiro contato com mosquitos. E minha esposa não acredita na sobrevivência do mais bem adaptado. Já eu prefiro acreditar que meu filho seja um deles.  E assim os custos da operação aumentam. Alugo uma suite em uma pousada próxima e em uma ladeira. Desta forma não fora inundada pelas aguas. Um ar condicionado garantiria a super proteção necessária para que a cara metade permanecesse na Armação dos Búzios .
                Nesta noite o céu resolve brincar . Anoitece nublado. Depois abre o horizonte nordeste. Fazendo um churrasco para a minha filha ( a esposa e o filho ficaram na pousada) eu ainda consigo ir visitar Júpiter de novo e acompanhar mais um ato do balé de suas luas. Ao perceber uma bela janela no horizonte sul parto em busca de Ngc 3228. Um dos últimos objetos do Catalogo Lacaille que me restam observar. este é um caso diferente de um "Objeto Lacaille Perdido". Ou melhor de astrônomo perdido. Pois saindo de Kapa Velorum eu acho que será uma fácil navegação. Mas depois de localizar um obvio aglomerado "disfarçado" de estrela cabeluda...  chego a Ngc3293.  Um belo aberto bem denso.  Mas com a crise matinal não o fotografo. A câmera ficou na Pousada.
                Abro varias cervejas.
                Amanheço novamente com a Rainha Má transformada em Mr. Hyde. Depois de muito choro mando ela e a filha para praia e fico estreitando a relação com meu filho no quarto da pousada.  Espero que o descanso acalme a fera.
                Funcionou. depois de 6 horas de praia e algumas cervejas a rainha má volta ao normal e parece que desistiu de superstições.
                Dia não . E assim sóbrio ,levar as crianças ao parque de diversões e  todo mundo para comer comida mineira. Menos o "Dengoso" . Sempre  me lembro de porque somos  mamíferos. 
                Hora de fotografar. Afinal eu também mereço algum lazer.  E tentando adaptar a Canon com uma lente 75-300 mm descubro que o plate de minha cabeça greika serve como um dove tail perfeito para a cabeça EQ. Faço algumas fotos de Orion e do Cão Maior sem utilizar acompanhamento. Isto vai ficar para outro dia. Mas ficaram legais e revelam alguns DSO´s na paisagem. Na de Orion começa a se perceber a Nebulosa da Chama.  E  em seu cachorro percebe-se M41 muito evidente. Os resultados são fruto dos logaritmos pirotécnicos do Rot and Stack.







                Mas sou um homem de palavra e meu objetivo é fotografar Ngc 3293. Mas as palavras são muitas vezes vãs. E o meu objetivo mesmo seria fotografar 3228. O meu " Objeto Lacaille Perdido". Mas a verdade é que ele será mais acessível mais a frente na estação. Ou terei que abandonar o sono... 
                Astrofotografia pode ser bem exigente. Mas não comigo e não hoje. Estou a passeio. E assim o alinhamento polar é feito por inspiração . Nada de drift. No máximo uma bussola e um" inclinômetro". E vamos lá.
                Antes de tentar 3293 e aguardando este chegar   um pouco mais alto  no horizonte sul disparo 20 light frames contra IC 2391.Ou C 85. O "Stellarium" agora deu para listar os DSO´s  utilizando o Catalogo Caldwell como referência. Ou ainda BZ 1. É um aglomerado querido. Já contei aqui que foi o primeiro aglomerado que "descobri". Ele me recorda Cassiopéia. A mais vaidosa das constelações . E assim ele ainda se torna o "A Pequena Cassiopéia" ( Little Cassiopéia cluster)  Depois mais 7 dark frames. Em posterior seleção escolhi apenas os 10 melhores light frames e os empilhei utilizando  o Deep Sky Stacker( DSS).


                Nada como um dia após o outro. Apesar das limitações eu começo a me entender com o foco do "Galileu".  Estava há muito sem observar e um pouco sem pratica . Começo a me mover melhor. As fotos , ainda que com diversos problemas,estão melhores que as anteriores. 
                Finalmente 3293. Serão muitos light frames com 20 seg. de exposição. ASA 3200 pois já percebi que se uso 6400 o ruído vai para as alturas. Perceba nas fotos das Plêiades.... E os mesmos darks que fiz para  "Little Cassiopéia'.
DSS




Rot and Stack


                Ao fim selecionei os 27 melhores light frames obtidos de meu novo Lacaille . Em conjunto com 7 dark´s  o resultado vai para a "peregrinação dos frames". As possibilidades de pós processamento são infinitas. No Nuncius Australis o  objetivo é obter uma imagem o mais semelhante possível do que se observa na ocular.  Desta vez como as capturas dos lights foram feitas com alguma dignidade e com um alinhamento polar melhor que em geral  eu utilizei o DSS para o processo de Stacking e depois visitei o Photshop e o Noiseware. Em dias piores uso muito o Rot n´Stack para a primeira etapa. Os resultados costumam ser menos realistas. Embora como possam perceber acima as coisas podem ser ainda mais confusas. Astrofotografia , no Nuncius Austrlais , é uma ciência assim como a metereologia...
               

                Desta forma se aproxima o dia 31 e o fim do ano. Foi um belo começo de temporada em Búzios. Apesar das dificuldades foi muito agradável e fiquei feliz com os resultados obtidos.

             No primeiro dia do ano visitei uma velha conhecida.  E que ha muito merecia um registro mais digno. O "Galileu" em sua melhor forma. A Nebulosa de Carina e seu arredores. Trinta e seis fotos aceitas de quarenta e duas. A minha média no DSS vem melhorando...

Feliz Ano Novo.