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segunda-feira, 17 de novembro de 2014

As Crateras de Platão e a Cidade Lunar



            A astronomia é cheia de histórias curiosas e de personagens quixotescos. Grandes astrônomos nem sempre são lembrados por suas maiores descobertas mas sim pelos seus maiores erros. Um dos  "Dons Quixotes" deste post é Franz von Paula Gruithuisen.
            Este médico e astronômo nascido na Bravaria em 19 de junho de 1774  poderia ser lembrado por diversas e nobres razões. Foi o inventor de um equipamento que permitiu a remoção de pedras na vesícula  de forma muito mais segura  e foi o primeiro a sustentar que as crateras lunares seriam fruto do impacto de meteoritos com Selene. Durante suas observações ele percebeu que a grande Cratera Plato ( Platão...) possuía diversas mini crateras (craterlets) manchando seu escuro e liso fundo.
            Apesar de o Nuncius Australis ser um Blog mais devotado a observação do céu profundo a geometria do universo e as obras do metro somadas a um desafio realizado por Phill Harrigton em seu "Cosmic Challenge" acabaram por levar-nos a um passeio que inicialmente nos leva até Plato e depois até Wallwerk...
            Como já foi dito Gruithuisen foi o primeiro a perceber pequenas crateras no interior de Plato.

            Plato propriamente dita é uma proeminente cicatriz causada por um impacto cósmico ( como suposto corretamente pelo nosso primeiro Don Quixote do dia ) que possui 101 km de diâmetro e é facilmente percebida com o uso de binóculos com 10X de aumento ( até menos...) . Ao contrario da maioria das crateras de impacto Plato não apresenta um pico central e nem um relevo caótico em seu "chão". Isto deve-se ao fato de que pouco ( lembrem-se  que sempre falamos de períodos de  tempo geológico por aqui...) a piscina causada pelo impacto foi preenchida com lava. Assim percebemos o incomum fundo escuro que destaca-se contra o mais claro Mare Imbrium ao sul e o Mare Frigoris ao norte.
            Em 1824 Gruithuisen foi o primeiro a perceber pequenas crateras no fundo de Plato. O desafio de Harrigton consiste em perceber o maior numero destas. A descoberta do médico Bávaro chamou a atenção de diversos astrônomos e o número de pequena crateras aumentou muito.
            É aí que entra nosso segundo Don Quixote. O observador britânico A. Stanley Williams.
            Este senhor foi para Plato o que Percivel Lowell ( mais uma figura quixotesca)  foi para Marte. Embora Williams não tenha chegado a perceber sinais de vida inteligente nem canais cortando o fundo da cratera ele percebeu os chamados fenômenos lunares transitórios Ele periodicamente percebia crateras que iam e vinham , tempestades de areia e faixas que se deslocavam na cratera. Ele associou este fenômenos a atividade vulcânica na cratera. Hoje sabem-se que os fenômenos se devem a turbulenta atmosfera terrestre e que o vulcanismo na lua encerrou-se muito antes de o homem caminhar sobre a terra.

            De qualquer forma o numero de pequenas crateras subiu e o desafio proposto por Harrigton é que você observe 16 "craterlets". Na foto (Lunar orbiter) estão indicadas 25. (William chegou a 40!!!)  Eu só consegui perceber 6. E mesmo assim com muito esforço. Não sou um grande observador lunar e assim minha ocular de 5 mm é de péssima qualidade. O melhor resultado que obtido foi utilizando minha 10 mm com uma Barlow 2X.
            Mas apesar do fracasso em observar as "crateras de Platão" acabei por conhecer a formação que acabou tornando Gruithuisen famoso e motivo de chacota de seus pares.

            No primórdios da astronomia muitos cientistas de renome acreditaram ser a lua um local habitado ( seriam todos eles lunáticos?) . Nomes como Da Vinci e mesmo William Herschel  ( este achava que a maioria dos planetas o era...) acreditavam em uma civilização marciana. E assim nosso querido Gruithuisen , utilizando o mesmo telescópio que descobriu a primeira micro cratera em Plato, descobriu Wallwerk. Uma cidade murada próxima a Cratera Schröeter.
            Curiosamente Schröeter ( 1745-1816) foi um topografo lunar que assim como Williams percebia fenômenos transientes no nosso satélite. Mas este os atribuía a presença de uma atmosfera lunar. E assim via brumas e tempestades surrando os habitante de Wallwerk.
Desenhos de Gruithuisen

            A cidade de Gruithuisen é uma interessante formação para ser observada. Embora nada tenha de cidade. T .W. Webb descreve  região da seguinte forma: " ...uma curiosa espécie de paralelismo mas extremamente grosseiro que esta evidente ser de origem natural.Não é uma formação difícil ( de ser observada) "

            Com o uso de telescópios mais poderosos as observações de Gruithuisen realmente parceem contos da Carochinha. Mas é incrível notar que com o mesmo telescópio de 60 mm ele percebeu uma das crateras de Platão...

            Fui em busca de Wallwerk. Descobri que é necessário aguardar o momento certo e o  quarto crescente é o momento certo. Utilizei primeiro a 10 mm e depois esta com a barlow. O bom da lua é que ela suporta bem magnificação. na verdade ela é feita para os grandes aumentos...  
            O terreno na região é bastante interessante e rugoso. Mas admito que Gruithuisen era um cidadão bem imaginativo. Com muito esforço consigo imaginar algo como terraços incas ou Minas Tirith ( Cidade Murada do Senhor dos Anéis)  . Mas é mais um esforço de vontade do que vejo mesmo. Nada é o que parece ser que não é...

            Localizar Schoeder pode ser delicado. Apesar de grande ela não se sobressai na paisagem. Eu achei mais fácil localizar a "cidade" navegando a partir de Erastothenes. Utilizei o Virtual Moon Atlas para  ajudar ... 



Virtual Moon Atlas


            Visitar a lua é sempre uma grande diversão. Acho que mês que vem vou procurar por uma ponte que foi localizada por um outro Don Quixote. Ou seria um São Jorge?

P.S.- Gruithuisen também acreditava que Vênus apresentava floresta como a Amazônica. Porém esta crescia muito mais rapidamente devido a proximidade com o Sol...

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Ngc 2100- Um Aglomerado Aberto Extra Galáctico

          


            A primavera é  período ingrato para a observação na Stonehenge do Pobres. O tempo costuma nublar a noite  mesmo depois de um dia inteiro de sol inclemente na moleira. Os campos estelares gloriosos da Via Láctea não se apresentam em minha janela . Os alvos mais tradicionais e ao alcance de meus modestos meios se concentram nas Nuvens de Magalhães.  Na Pequena Nuvem os alvos favoritos na verdade são dois impostores. Dois globulares que não se encontram na Pequena Nuvem. Mas estes não são os convidados desta noite. 
            Confesso que acho a grande Nuvem muito mais charmosa.
            Nos céus urbanos a Nuvem não se apresenta de forma clara mas em locais escuros percebo estruturas salpicando a GNM de forma espetacular. Ambas as nuvens devem ter impressionado bastante os primeiros navegadores a visitarem os mares do sul e já eram manjadas desde tempos pré-históricos pelas civilizações pré- colombianas.
            Na Grande Nuvem reside uma das maiores regiões de formação estelar conhecidas no universo. A Nebulosa da Tarântula ( Ngc 2070). Apesar dela ser uma passagem obrigatória para chegarmos até o convidado desta noite ela também não é nossa estrela. 
            No recente e já clássico livro de Consolmagno e Davis " Turn Left at Orion"   dá as Nuvens de Magalhães o ranking máximo de "5 telescópios".. O único outro objeto classificado desta forma pelos autores é M42 ( A Grande Nebulosa de Órion.)
            A Grande Nuvem possui não menos que 22 DSO´s listados por estes autores como alvos dignos de nota para telescópios de qualquer tamanho.
            O visitado desta noite é um destes. O aglomerado aberto Ngc 2100.
            O aglomerado não chega a impressionar quando observado sob a poluição luminosa do Rio de Janeiro . Na verdade com magnitude de 9.8 ele se apresenta muito discreto e requer visão periférica para ser percebido visualmente e nunca cheguei a resolver estrelas por estas bandas. Ele se apresenta no mesmo campo visual de Ngc 2070 é necessário muita atenção para não passar completamente ignorado na presença da grande dama da galaxia. Lembre-se que você esta observando um aglomerado aberto a mais de 160.000 anos luz. Um DSO extra galáctico.  
            Apesar de residente em outra galaxia os aglomerados da Grande Nuvem são bastante estudados devido a baixa extinção destes graças ao angulo que a galaxia se apresenta para nós. 
            A história da formação de aglomerados na Grande Nuvem é um assunto bastante badalado e existem diversos estudos a respeito . A maioria concorda que houveram três grandes ondas de formação estelar na Nuvem. O nosso aglomerado pertence ao mais recente baby boom estelar de nossa galaxia vizinha. Apesar de algumas controvérsia o aglomerado ( assim como a onda de formação estelar...) parece vir rejuvenescendo. Encontrei idades entre 15 e 6.8  milhões de anos de idade em diferentes fontes. Quanto mais recentes as pesquisas mais jovem... Parece haver um consenso de  que a ultima onde de formação estelar na grande nuvem esta centrada por volta de 8 milhões de anos atrás. A presença de estrelas do tipo O e B ainda na sequência principal parecem sustentar a hipótese da juventude de nosso aglomerado.
10 X 30 seg 3200 asa Canon T3 Newtoniano 150 mm . 
30X20 seg asa 3200 Newton 150mm  Incrível a diferença... Ha mais coisas entre o céu e a terra do que supõe a vã filosofia



            A primeira vez que percebi Ngc 2100 foi resultado de uma fotografia que realizei da Nebulosa de Tarantula. Observando a foto percebi claramente a estrutura e em um erro não  pouco comum acreditei ter percebido um globular habitante da Grande Nuvem. Mesmo Dreyer apresenta o aglomerado como um globular em sua descrição. Com ele percebido através de fotografia voltei ao mesmo local na noite seguinte e o percebi através de observação visual.


            Para localizar Ngc 2100 o caminho óbvio é localizar b Dorado ( parta de Canopus ) e depois chegar a Ngc 2070 . Utilizando o Newton ( um Refletor de 150 mm f8) o aglomerado estará no mesmo campo utilizando minha plossl 26 mm. Para observa-lo individualmente utilizo uma 10 mm. Em dias especiais e céus escuros você vai resolver algumas estrelas...

            Ngc 2100 é um interessante alvo   e  um excelente exercício para o astrônomo urbano . Não deixe-se ser seduzido pela maravilhosa e facinha Nebulosa da Tarântula e aproveite uma visita a esta para visitar este jovem, tímido e extra galáctico alvo.  

P.S. 30/12/2016 - A foto que abre este post é resultado de uma nova captura na regiâo da Tarantula. è resultado de 11 minutos de exposição e foi processada no Deep Sky Stacker ( 3X Drizzle) + Gimp + Fits... Como se pode perceber foi uma captura bem melhor que a primeira.  Apesar de ter sido realizada com as mesmas condições de Poluição Luminosa. Desta vez em vez de ser feita na Stonehenge dos Pobres ela foi capturada do alto de um prédio na Rua da Passagem. Em Botafogo...  Foco é fundamental para astrofotografia...


terça-feira, 11 de novembro de 2014

Quasares,3C 273 e a ilusão mais Distante

              


               Depois de muito tempo sem tentar a sorte na "difícil arte" e ter passado um mês fora de casa e vivendo em uma nem tão pacata cidade histórica em Minas Gerais eu comecei a viajar. Sempre que faço um longa metragem estou, de certa forma, vivendo de Ilusão. Ela é meu ganha-pão. 
            Em Astronomia geralmente se tem a impressão que a matéria é algo real. Mas não é bem assim. Muito do que observamos não é mais o que parece ou mesmo não esta mais entre nós. 
Todos nós sabemos que telescópios são máquinas do tempo. Neles percebemos a luz dos objetos e não os objetos que imaginamos estar vendo .Não são eles que de fato observamos mas seu reflexo. 
            É comum ouvirmos - As estrelas que vemos provavelmente não existem mais. 
Mesmo estando errado é um claro sinal que as pessoas compreendem a imensidão do oceano cósmico, que a luz não viaja em uma velocidade infinita e que as estrelas morrem. 
            O erro delas é simplesmente devido ao fato que as estrelas que podemos observar a olho nu se encontram em sua maioria até 3000 anos-luz da terra. E três mil anos é uma insignificante parcela do tempo de vida de uma estrela. Mesmo a galáxia de Andrômeda, que é o objeto mais distante visível a olho nu, esta a apenas 2,5 milhões de anos-luz de nós. No tempo cósmico continua sendo irrisório. Mesmo estrelas colapsantes e a beira de um infarto fulminante como Eta Carina muito provavelmente continuam e continuarão entre nós por um bom tempo. 
            A matemática e a probabilidade nos diz que das cerca de 6000 estrelas visíveis a olho nu as chances são de 200 para 1 de que alguma delas tenha sumido neste poucos séculos da história humana. Supernovas não acontecem todo dia e menos ainda entre estrelas visíveis a olho nu. 
            De volta ao reino da ilusão posso falar de buracos negros. Eles existem (há muito indícios...) e alimentam muitos dos fenômenos que alimentam este post. Diversos livros nos dizem que eles se formam da morte de estrelas muito massivas e apresentam uma singularidade em seu "centro". Na verdade (ou na ilusão) um buraco negro nunca formou-se para nós. Neste caso a culpa é da deformação do espaço-tempo que os coloca, como Einstein disse, em um outro "quadro de referência" causado por uma gravidade fora dos padrões e de nosso entendimento. Uma estrela hiper-massiva talvez possa "se ver" implodindo em uma singularidade infinitamente densa. Mas como o infinito não habita a mesma escala que a humanidade nós nunca veremos isto acontecer. O tempo vai para no horizonte de eventos (que Hawking anda dizendo por ai que também é uma ilusão ou talvez nem isto) e nós vamos ver uma estrela congelar e para de encolher para sempre. Ou algo assim... Para lá de Volkhof e Oppenheimer reside a ilusão e monstros imaginários. E assim nunca veremos um buraco negro em toda sua negritude e singularidade. Esta além da nossa física. 
            Mas no reino da ilusão existe um outro objeto e este visível. E além do mais o objeto visível mais distante ao alcance de um astrônomo amador. O Quasar. 
            Como é praxe aqui no Nuncius Australis primeiro vamos descobrir do que se trata (ou que se supõem tratar-se) este objeto e qual a sua história. Depois vamos tentar observa-lo.
            E assim fazer Astronomia. 
            A descoberta dos quasares tem o inicio de sua história entrelaçada com o surgimento da radio astronomia.
            A radio astronomia tem um tímido inicio um pouco antes da Segunda Guerra Mundial quando Karl Jansky , um engenheiro nos laboratórios da Bell Telephone Co. , descobriu uma fraca emissão vinda da Via Láctea. Ninguém levou Jansky muito a sério e as pesquisas não prosseguiram. Em 1944 o físico Grote Reber descobriu uma discreta fonte de radio na constelação de Cygnus. Com o fim da guerra e os avanços tecnológicos , especialmente na engenharia elétrica, cientistas desenvolveram bons radio-telescópios. Em 1946 um trio de astrónomos ingleses formado por J.S.Hey, S.J Parson e J.W. Phillips confirmara a descoberta da fonte de radio extragalactica localizada por Reber. Cygnus A.
            Já em 48 , um dos primeiros radio astrónomos de carteirinha, J.G Bolton da Austrália ,confirmou com segurança a existência de Cygnus A e anunciou a descoberta de outras seis discretas fontes de radio. Estas incluíam Taurus A ( a Nebulosa do Caranguejo) e Centaurus A ( associada a galaxia NGC 5128). Estes sucessos inspiraram outras astronômos  e em 1950 o primeiro catalogo "radio-astronômico" foi lançado. Organizado por outro trio de astrônomos ingleses (Ryle, Smith e Elsmore e se tornou conhecido como de First Cambridge Catalog ou 1C. Mas nossos radio astrônomos ainda tinham um longo caminho para aperfeiçoar a arte de determinar com precisão a posição destas fontes de radio nos céus.
            Em 1955 sai o Second Cambridge Catalog. 2C é seu nome para os intímos. Ela contém 1936 fontes e constitui o primeiro levantamento extensivo do céu "radiofônico"... Também com seus problemas ele apresenta varias fontes que não existem.
            Já chegando ao objeto que irei procurar o Third Cambridge Catalog é publicado em 1962. Eu aposto que você já sabe de onde saiu  a sigla 3C 273.  o Catalogo apresenta 328 entradas. Apenas recentemente se chegou aos catálogos 5C e 6C.
            Enquanto nossos radio astrônomos desenvolviam mais e melhores radio-telescópios os físicos nucleares estavam construindo novos e mais poderosos aceleradores de partículas. Os avós do LHC.
            A General Eletrics acabou conseguindo construir um novo tipo de acelerador chamado de Synchroton. Neste eletróns viajam em órbitas circulares em um intenso campo magnético. O acelerador  usa o campo magnético para "injetar" energias nos elétrons e estes conseguem atingir velocidade de até 99% da velocidade da Luz. Olhando pela escotilha do Synchrotron os físicos percebem uma luz intensa sendo emitida. Radiação Synchroton.
            A descoberta desta radiação tem importantes implicações para os radio astronômos. Objetos no céu emitido ondas de radio possuem campo magnético e um monte de elétrons flutuando por ali. Os campos magnéticos de galaxias e nebulosas são muito menos intensos que os obtidos pelo Synchroton ( imagine o LHC...). Mas os campos magnéticos naturais  de galaxias e afins se esparramam por bilhões de anos-luzes cúbicos. Conforme os eletróns destas galaxias espiralam ao redor dos seu campos magnéticos eles produzem radiação synchroton. Mas em comprimentos de onda muito longos. Em ondas de radio.
            Eureka. Descoberta a razão do "ruido de radio" que nossos radio astrónomos primordiais detectam em nebulosas e galaxias.
            A maioria das fontes de radio do catalogo 3C se espalham por uma grande área de céu. como uma galaxia ou uma nébula. Não são fontes pontuais como estrelas. Mas nem todas...
            Falta pouco parra a história nos levarem até os quasares.
            Quatro objetos do catalogo tiveram seu tamanho angular estabelecido e este era bem pequeno. 3C 48, 3C 286, 3C 196 e 3C 147.
            No outono de 1960 , a posição de 3C 48 fora suficientemente bem estabelecida para que os astrónomos no espectro visível do universo ( olha nóis aí...) e armados com um telescópio de 200 polegadas partiram em busca do companheiro otíco da fonte de radio. fotos da região revelaram algo semelhante a uma estrela e Allan Sandage obteve o espectro de nossa estrela. Surpresa . nada semelhante jamais tinha sido visto. A chapa esquenta ainda mais quando observações fotelétricas do "estranho" revelaram que seu brilho variava em períodos inferiores a um dia. . Se algo varia em brilho em menos de um dia significa que ele possui menos de 1 dia-luz. Ou seja a distancia que a luz pode viaja em um dia. Algo ao redor de 27,2 bilhões de km. Parece muito mas em comparação ao tamanho de uma galaxia (mesmo anã) não é nada. Nossa galaxia tem algo como 100.000 anos-luz. Devido a sua aparência quase estelar alguns astrônomos propuseram que que 3C48 fosse um novo tipo de estrela na nossa própria galaxia.
            Finalmente vamos chegar em 1962 e em 3C 273. A esta altura já se havia percebido que  o nosso quasar ( 3C 273 é o nosso quasar , certo?) tinha um diâmetro angular bem pequeno. E por um acaso quase "astrológico"( arghhhh!!!) ele fica situado na constelação de Virgem. Como esta pertence ao zodíaco a lua gosta de passear por estas bandas. E de novo, por uma daquela coincidências que devem ter algo haver com as leis fundamentais do universo, a lua iria realizar não uma mas três ocultações de nosso quasar em 1962 bem em frente ao Radio telescópio de Parkes na Australia.
            Na noite de 5 de agosto de  os astronomos lá reunidos esperavam ansiosos para ver o sinal de radio de 3C 273 ir sendo reduzido gradualmente conforme a lua fosse cobrindo mais e mais o nosso quasar ( ainda sem este título). Isto não aconteceu. Quando a lua chegou a posição em que deveria estar 3C 273 o sinal de radio foi abruptamente interrompido. E meia hora depois ele retornou. Logo trata-se de uma fonte pontual.
Nosos astrónomos sabiam exatamente a posição do limbo lunar no momento da ocultação. E lá reside uma "estrela" azulada de 13a magnitude. ( Na verdade 12.9 e oscilando um pouco...em menos de 24 horas) . Com o objeto localizado e telescópio de 200 polegadas do Monte Palomar a disposição um espectro é rapidamente obtido e lá estão as estranhas linhas de emissão que ninguém consegue identificar. Como estes estranhos objetos parecem uma estrela e não o são passaram a ser chamados de quasi-stellar objects.  Daí para quasar foi um pulo. Na verdade foi obra do astrônomo chino-americano Hong Yee Chiu que em um paper de maio de de 1964 no Phisics Today disse mais ou menos assim;
" Até agora, o desajeitado nome de quasi-stellar radio sources  vem sendo usado para descrever estes objetos . Porque a natureza destes objetos é inteiramente desconhecida  é difícil preparar uma nomenclatura curta e apropriada que descreva suas propriedades essenciais de forma obvia. Por conveniência , a forma abreviada "quasar" será utilizada neste paper".
                O Dr.M. Schimdt do Calthec  conseguira um espectro da "estrela" associada o quasar. Era 1963 ainda. Algo que tornava a analisa destas estranhas linhas obscura era a assunção de que 3C 273 estaria dentro de nossa galaxia. Isto implicaria que o redshift ( desvio para o vermelho) destes seria muito pequeno. Analisando o espectro o Dr. Schimdt achou as tais quatro linhas de emissão já citadas. Embora tais linhas nunca tivessem sido vistas nesta parte do espectro elas pareciam familiares a  Schimdt. Na verdade os seus comprimentos de onda apresentavam a mesma razão que se seria de esperar da ordinária e familiar linhas do átomo do hidrogênio ( elétrons saltando da terceira , quarta, quinta e sexta orbita para a segunda). Schimdt então , de forma valente, sugeriu que estas misteriosas linhas eram do hidrogênio. Só que desviadas enormemente para o vermelho. Seus esforços foram rapidamente coroados pelo sucesso. O redshift de 3C273 cor respondia a 16 por cento da velocidade da luz. Nada dento de nossa galaxia se move tão rápido em relação a nós.
            Logo se descobre que o redshift de 3C 48 cor responde a 37 por cento da velocidade da luz.   A seguir  se descobre que o redshift de 3C 147 é de 55 por cento. Anteriormente  a estas descobertas o maior redshift conhecido pertencia a 3C 295. esta uma galaxia que também é uma forte fonte de emissões de radio.  Logo tornou-se claro que quasares apresentavam os maiores redshifts do universo conhecido . Estamos nos anos 60.   
            Alguns anos depois centenas de Quasares haviam sido descobertos e suas principais propriedades estabelecidas. Eram elas: Eles se parecem exatamente com estrelas, sua cor é azulada, são fortes fontes de radio, apresentam grandes desvios para o vermelho ( redshifts) e muitos apresentam rapida variabilidade ótica e nas  emissões de radio.
            Nos anos 70 há uma rápida sucessão de recordes e cada vez são descobertos diversos quasares com redshifts superiores a 90% da velocidade da luz.
            Os imensos redshifts dos quasares levou a grandes discussões a respeito de sua natureza. Uma das mais curiosas explicações foi obra de Halton Arp. Ele desenvolve uma interessante (embora completamente equivocada) hipótese apresentando quasares como "descendentes" de galaxias . Esta expeliriam Quasares ao longo de seu processo evolutivo. Um interessante conceito que ele desenvolve é que redshifts nada tem haver com distancias. Eles seriam particularidades de diferentes estruturas do universo. è evidente que ela sempre simpatizou com o Modelo de Universo chamado de Steady-State . Hoyle agradece...
            Foi necessários muitos anos até que os quasares fossem compreendidos como uma espécie das chamadas galaxias de Nucleo Ativo.  Devido ao nosso angulo de mirada o que percebemos é a energia emitida devido a acreção de material em buracos negros super maciços no núcleo de galaxia distantes . Como a luz não escapa do buraco negro central nestas galaxias a energia que escapa ( e que percebemos) é gerada antes do Horizonte de eventos pelo estresse gravitacional e devido a intensa fricção do material que esta sendo consumindo pelo quasar.  Quanto mais diretamente estiver apontado este jato relativistico para nós mais brilhante será o Quasar. Dependendo da posição poderemos percebe-lo como um Blazar ,uma radio Galaxia, uma galaxia Seyfert etc... Fotos atuais comprovam a natureza dos quasares e cia. LTDA.. Se percebem galaxias ao redor dos mesmos. (pelo menos da maioria...). São todos núcleos ativos de galaxias percebidos de forma distinta devido a posição em relação a nós: os observadores....
            Os mecanismos envolvidos e toda a história acima sustenta porque os quasares são formas anciãs e ( uma licença poética...) espíritos de um universo primitivo pois a produção de energia termina quando um buraco negro super massivo consome todo o gás e poeira próximos. Desta forma o provável que a maioria das galaxias ( a partir de uma massa minima) tenham passado por uma fase ativa e que seus antigos quasares assombrem outra galaxias em outro lugar no espaço- tempo. 

            Mas vamos em busca de nosso fantasma. 3C 273.
            É o DSO mais distante ao alcance de um astrônomo amador com um telescópio pequeno. Brilhando com Magnitude 12,9 e com um brilho de superfície alto ele estará ao alcance de pequenos telescópios. Nunca o consegui ver com meu refrator de 70 mm . Mas existem registros de observações com telescópios de 75 mm. Independente de seu telescópio o nome quasar será obvio. É rigorosamente igual a uma estrela apagada.
            Em minha caça ao fantasma me armei com o Newton ( um refrator de 150 mm) e depois de muito sky hooping cheguei até ele. É um exercício de paciência mas totalmente factível. O Quasar é a estrela mais apagada no campo. O desenho abaixo deixa isto bem claro.
            Realizei dois caminhos . Partindo de Porrima e Partindo de Zaniah. Ambas no corpo de Virgem. De Zaniah é mais fácil. Ensaie a navegação com a ocular que você vai usar utilizando o Stellarium. Eu usei minha 26 mm.  Repara no detalhe da Ocular na captura de tela abaixo.

           As duas estrelas entre 9 e 10a magnitude no canto direito da ocular ( a mais fraca com uma pequena companheira mais fraca ainda ) ,mais uma companheira formam um triangulo  que é evidente no sketch que realizei. São os faróis para localizar o quasar. Cuidado para não confundi la com a estrela de 10a  magnitude logo acima do quasar.  


            Não percebi nenhuma coloração azulada como esperava. Na verdade se percebi algum desvio foi mais para o vermelho.
            O alvo merece céus escuros e estar bem alto no horizonte. De preferência no momento que cruzar o meridiano.
            É um clássico. Um alvo para "conquistadores do inútil" sérios e dedicados. Vai se parecer uma pequena estrela que se apresentará melhor com visão periférica. Ela  perdida entre outra estrelas mais brilhantes que ela. E não será uma estrela. E nem "existe" mais...
            Mas é o objeto mais distante e antigo que você poderá ver com um telescópio amador.  


terça-feira, 4 de novembro de 2014

M 13 : O Grande Aglomerado de Hércules e "Ne Plus Ultra"

       
 



                 Apesar da estação ser completamente contraria as pretensões observacionais deste post eu não consegui resistir e queimei a largada. Em uma visita a casa de minha mãe me deparei com a velha coleção completa de Monteiro Lobato que durante toda minha infância ocupou uma das prateleiras no escritório de meu avô. Despretensiosamente escolhi um daqueles livros de capa dura e  marrom e paginas já amareladas pelo tempo e me deparei com a versão Tupiniquim dos Trabalhos de Hércules.
                Para aqueles que não mais lembram quais foram exatamente estes farei uma rápida revisão.  Estrangulou o Leão de Neméia ( que também virou constelação), Matou a Hidra de Lerna, alcançou a Corça de Cerineia ,Capturou o Javali de Erimanto, Limpou os currais do rei Augias, matou as Aves do Lago Estínfalo, Montou o Touro de Creta no primeiro rodeio descrito, Castigou Diomedes ,  Matou o gigante Gerião,  colheu os pomos de ouro ,Venceu as Amazonas e (ufa...) trouxe do mundo dos mortos o cão Cérbero.

                A estrela Alpha de Hércules é Ras Algheti , uma das mais brilhantes variáveis irregulares do firmamento, de cor avermelhada e com sua magnitude variando entre 3.1 e 3.9. Seu nome deriva da frase Arabe " Ras al Jathiyy" ( A cabeça daquele ajoelhado).
                O "ajoelhado" é , evidentemente, a grande figura do antigo e poderoso herói grego e semideus Herácles, o Hércules dos Romanos.
                Este padrão de estrelas foi um dos primeiros a ser definido e nomeado. Desde tempos muito remotos foi identificado com grandes heróis ou deuses. Na Babilônia era associado ao obscuro  Deus-Sol Izdubar , ao grande caçador Nimrod e ainda com Gilgamesh.  Para os  antigos Fenícios (uma potencia marítima)  a figura representava o deus do mar Melkarth.
                Burnham e seu clássico " Celestial Handbook" apresenta diversas representações da figura em uma série de moedas que cobrem um longo período histórico e as histórias associadas a cada uma destas moedas. Em uma das passagens mais curiosas ele apresenta uma moeda cunhada a partir de 126 A.C. que representa este hibrido entre Hwrcules e Melkarth e que seriam o tipo de moeda da história das trinta peças de prata envolvendo Judas.
                A História de Hércules   propriamente parece ser uma colagem de Mitos . Ele  se apresenta para nós como uma combinação de divindade que gradualmente assume os atributos ou ganha os créditos de outros heróis antigos. Segundo a lenda grega em Tebas pouco antes da guerra de Tróia. É filho de Zeus com a mortal Alcmene o que leva ao ciume e a inimizade de Hera. Curiosamente seu nome parece significar " A Glória de Hera". Mas na velha tradição grega seu nome de batismo seria Alcides. Ele era Bisneto de Perseu e desde de a infância apresentou uma força sobre-humana.
                Alguns livros sugerem que seus doze trabalhos tem uma relação simbólica com os signos Zodiacais.
                De seus doze trabalhos eu considero o décimo como o mais representa tivo para este nosso post. Em sua missão para superar o Gigante Gideão Hércules atravessa o Estreito de Gibraltar onde se erguem os Pilares de Hércules ( Hoje mais conhecidos como o Monte Musa ou Acho no lado africano e o Rochedo de Gibraltar no lado europeu)  . O Limite oeste do então " Mundo conhecido".  Nas cartas medievais o local era tradicionalmente marcado com a Legenda "Ne Plus Ultra" significando ' Nada Mais Além". Posteriormente , com a descoberta das Américas , a Espanha querendo demonstrar seu poder e influencia substitui esta legenda em seus mapas por " Plus Ultra".  
                  Hércules era imortal mas acaba aceitando a morte para cessar o sofrimento causado por um robe envenenado com o sangue do centauro Nessus. E Assim foi levado aos céus , perdoado por Hera e casou-se com a filha desta  Hebe.
                Como não poderia deixar de ser ele se apresenta no firmamento em sua tradicional pose ajoelhada com seu pé esquerdo ( Iota Hércules)  sobre a cabeça do Dragão ( outra constelação...)  sua cabeça indicada por Alpha Hércules e sua clava erguida indicada por gama e Beta. Para observadores modernos a constelação é mais reconhecido pelas quatro estrelas que formam um quadrado  são Epsilon , Zeta , et e Pi.  A formação é conhecida como "The Keystone " e é um asterismo que embora não possua estrelas extremamente brilhantes é facilmente percebido de  céus suburbanos. Em áreas de extrema poluição luminosa demanda muita tenção para ser localizado.   
                De qualquer forma é ele que vai nos levar "Plus Ultra ".No Caminho do Céu profundo Hércules vai nos levar muito além de onde Aratus , Eudoxus e seus biógrafos poderiam jamais imaginar.
                M 13 é o Globular por excelência dos céus boreais. Nada que se aproxime das maravilhas aqui do sul. Mas para mim ele recebe um honroso 4o lugar ( sendo derrotado apenas por Omega Centauro, Tuc 47 e M22. )

                A melhor estação para se observar M13 é durante o inverno. Localizar o  " Keystone" em céus urbanos pode ser um pouco delicado então localize Vega e Arcturus. Imagine uma linha ligando as duas e divida esta em terços . No primeiro terço próximo Arcturus você vai localizar uma fraca porém visível constelação da Corona Borealis. Lá você vai localizar a brilhante estrela Alpheca. então localize o ponto central da Linha que liga esta a Vega. Com atenção você vai perceber as quatro estrelas que formam o quadrado ( mais para um trapézio...) que formam o "Keystone.  Daí é só localizar as duas estrelas mais a oeste deste asterismo ( Eta e Zeta) e dividindo a linha que as liga em quatro partes o Globular vai se encontrar no primeiro quarto mais ao norte ( mais próximo a Eta) . Olhe o mapa e até mesmo por tentativa e erro você vai localizar M 13 . É facilmente percebido pela buscadora e em locais de céu escuro é notado mesmo a olho nu . O globular vai se apresentar para pequenos telescópios como uma bola de luz com o centro mais brilhante que as bordas e estará flanqueado pôr duas estrelas de 7a  magnitude. A parte mais central é responsável por apenas 1/5 do raio total do aglomerado. Um telescópio de 150 mm vai começar a resolver estrelas nas bordas do mesmo. Grandes telescópios poderão perceber as "Hélices de M13" que consistem em uma justa posição de estrelas mais brilhantes no próprio aglomerado que dão a impressão de hélices sobre um motor radial. Lord Rosse e seu Leviatã ( o maior telescópio de seu tempo) foi o primeiro a notar tal caracteristica. Ha registros de observação da Hélice com telescópios de 200 mm e até mesmo 150 ( achei um desenho realizado com um 150 mm por Jeremy Perez. Acho que ele utiliza também de sua memória na obra...). Me parece otimista e a maioria dos autores acham que só é possível ( mesmo assim em noites muito especiais ) perceber a estrutura com telescópios de no minimo 300 mm. Eu percebo claros indicios da mesma em foto que fiz com o Newton ( Meu refetor de 150 mm f8).



25 exp. X 25 seg Newtoniano 150 mm Canon T3 ASA 3200 Drzzle de 3X

            
Outra visão do "propeller". 
                     Este aglomerado Globular possui a estimativa de conter mais de um milhão de estrelas. Sua parte central possui um diâmetro de 100 anos luz e ele se localiza a 25.000 anos luz de distancia de nós. Grandes telescópios tem sido capazes de resolver cerca de 30.000 estrelas em sua margens. Em sua região central ele é tão denso que não é possível detectar estrelas individuais em meio a multidão. O termo denso deve ser entendido como estrelas  a cerca de um décimo de anos luz uma das outras. Suficientemente distantes para que colisões não sejam tão comuns. Não achei documentação sobre Blue Stragglers em M13 embora exista entre suas estrelas uma estrela azul. Mas diversas fontes indicam-na como uma estrela capturada. . Assim como a maioria do globulares M 13 é tão antigo quanto a galaxia e possui mais de 10 bilhões de anos.
                O primeiro registro de M13 foi realizado por Edmond Halley ( o do cometa...)  em 1714 e o mesmo adentrou o Catalogo Messier em 1 de Junho de 1764.
                M 13 foi escolhido para enviar-se um sinal de radio em busca de civilizações alienígenas. Mas infelizmente o sinal mandado vai chegar ao local errado. Já que ele não estará mais lá quando o sinal chegar. Foi mais uma demostração tecnológica do que propriamente uma tentativa real de contato.

                M 13 é um gigante assim como Hércules. Um Globular a altura da constelação onde habita.