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quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

M 18 : O Aglomerado do Cisne Negro


                Definitivamente a aquisição de Mme. Herschel aumentou em muito a produtividade no Nuncius Australis ( Mme. Herschel é uma cabeça equatorial Skywatcher Heq 5 Pro) . Durante o inverno, mesmo que observando pouco capturei  imagens de Dezenas de DSO.
                Varias em cada uma das noites. Anteriormente , utilizando minha fiel HEq3-2 eu conseguia no máximo algo como 5 ou 6 objetos. A menos que estes fossem muito manjados e em áreas intimas da via láctea. Me orgulho de se Centauro ,o Cruzeiro e a finada constelação de Argos se apresentarem no céu sou capaz de localizar varia dezenas de DSO´s em pouco minutos . Com um binoculo 15x70 parece até  helicópteros russos nas estradas próximas ao reduto do EI.  Altíssima contagem de corpos.
                Mas em busca de alvos menos manjados e em regiões não tão nobres  a coisa demorava mais. Star Hopping era a ordem do dia e navegação era uma palavra semore muito repetida.
Com o sistema Synscan melhorou muito... Agora  mesmo com um alinhamento péssimo do goto as coisas andam e dificilmente um alvo não é encontrado...
                Desta forma embora o inverno já tenha se encerrado a muito e a primavera já adiantada me restam diversos DSO´s visitados na temporada e mais adequados a outra estações de que não falei.
                Este é um deles. Um dos Objetos Messier menos admirado mas nem por isto menos admirável. Burnham em seu "Celestial Handbook" fala que este aglomerado é um dos mais injustiçados do Catalogo Messier.  M18 é um aglomerado aberto que sofre de um problema recorrente nas boas vizinhanças . Com já falei ha certas regiões no céu  em que DSO´s são alvos  de extermínio em massa. E sempre entre estes existem as grandes estrelas. E assim alvos alguns DSO´s caem no esquecimento . Habita-se M18 em outra constelação seria ele um destaque. Já na região central da via lactea, seguindo a linha magica de nebulosidades que emanam  do "bico do Bule" em Sagitário,   esta  torna-se se não um patinho feio pelo menos uma mula manca...
                O visitei ,creio que pela primeira vez, da Stonehenge dos Pobres. Em condições bem adversas.
                Estava eu passeando com Mm.Herschel quando me ocorreu digitar M18 no Syscan. Rapidamente e em um bom momento esta aparece cravada no centro da buscadora. Apesar de dever acontecer isto nem sempre acontece. Mme. Herschel tem suas vontades, back lash e outra coisas que nem sei.
                Ganhou logo minha simpatia . Um aberto modesto clássico. Quase um asterismo. Mas que me ensinou sabia e percebo que ele tem mais a mostrar do que isto.
                Collinder criou um catalogo que classifica aglomerados abertos por certos padrões. Estes padrões se referem a forma aparente de aglomerados mais conhecidos e tradicionais. Eles poderia sr do tipo Plêiades ou de  Tau Canis e assim vai... Acredito que m18 seria classificado com do Tipo "Plêiades em seu catalogo.
                Eu gosto de buscar padrõe e assim costumo também associar os abertos que observo muito em relação a sa forma. E visualizo ceras "famílias" de aglomerados abertos. O formato triangular sempre me remete a Ngc 4755. E assim nasce a família dos Aglomerados galácticos associados a triângulos. Este grupo ainda se subdivide em "triângulos mesmo" e "Arvores de Natal".  É um exercício sem nenhuma pretensão cosmológica ou fisica. Talvez uma pratica mais apropriada  a biblioteconomia do que astronomia.
                M 18 é um daquelas arvores de natal bem modestas. Entre suas estrelas mais brilhante e que lhe emprestam a forma percebem-se alguns enfeites. Com a forte poluição luminosa em nosso registro estas modestas estrelas não chegam a parecer a decoração natalina que habita a Lagoa Rodrigo de Freitas e  patrocinada pelo Bradesco. Porém não irão ruir com um pé de vento. Mas em céus mais escuros  certamente irão acrescentar  seu charme ao aglomerado...
                M 18  é um objeto "original de Messier. Esta foi primeiramente registrada na noite de 3 de junho de 1764. Messier realiza o seguinte registro:
" Aglomerado de fracas estrelas logo abaixo do anterior, numero 17, Cercada por tênue nebulosidade. Este é menos evidente que o penúltimo, numero 16. Com um refrator simples de três e meio pés este aglomerado se apresenta como uma nébula. Com um bom telescópio apenas estrelas são visíveis. "
                Descrição é riquíssima . Varias conclusões ( também chamados de palpite...) podem ser tiradas dele. A primeira  é que M 18 habita a cerca de 1o da nebulosa do Cisne. Difícil ser percebido e menos ainda amado...  A outra é que Messier realmente quando observou M 16 não viu a nossa famosa Nebulosa da Águia e os famosos Pilares da criação. Ele viu o aglomerado aberto associado. Mesmo no catalogo Ngc a descrição fala apenas em "Aglomerado de estrelas brilhantes e fracas...". Dreyer , em sua checagem, não deve ter observado M 16. Ele teria percebido mais que isto...
                Localizar  M 18 é fácil. Ele reside em uma daquelas regiões do céu que falei acima.  Onde você esbarra em DSO´s mesmo sem querer. Localizar M17 é muito fácil e M18 esta logo ao lado .

                O´Meara acha que M 18 forma um padrão que lembra um cisne negro com sua asa levantada. Com pequenas ampliações é possível possui M 17 e M18 no mesmo campo ocular. E assim você pode observar um interessante cena com "dois patinhos na Lagoa. Eu confesso que perceber um cisne negro em M18 está além de minha imaginação. De qualquer forma isto empresta o apelido de "Aglomerado do Cisne Negro" ao nosso aglomerado. O próprio O´Meara ressalta que o nome tem um que de duplo sentido devido a proximidade de M 17 .
                O aglomerado é fisicamente pequeno cobrindo algo como 6 anos luz . Contam-se 40 membros e muitas das pequenas estrelas são na verdade estrelas de fundo.
                Este descreve bem também a nobre localização  de M18:
"Pequenos aumentos ( eu gosto de observar a área com meu 10X50)  apresentam M 18 em uma luz bem favorável.  Com o rico cisne ( M 17 ) ao norte, uma bela peça de nebulosidade ( IC 470) ao noroeste e a Pequena nuvem de Sagitário ( M24) ao sul. Esta pequena e parecendo insignificante  de magra luz estelar é cercada de desconcertantes gigantes cósmicos. "
                Realizei poucas fotos de M18.
                As condições eram péssimas, o alinhamento polar deixava muito a desejar e confesso que sou um astrofotografo bastante preguiçoso. Acho que nunca irei realizar uma foto com horas e horas de exposição. Um registro honesto e que revele segredos que escapem a minha visão junto a ocular são o ordem do dia. 
                Desde criança eu sonhava em tirar fotos de objetos astronômicos. Naqueles tempos isso era algo quase impensável para um amador duro. E assim quando as coisas se tornaram mais fáceis e  eu menos duro fiquei bastante feliz em conseguir registros fidedignos da maior parte do DSO´s que arrisco. Com pretensões galácticas sei que terei de me tornar mais paciente e focado. Mas mesmo assim não me vejo realizando fotos em narrow band ou mesmo LRGB . É possível que com o tempo venha a me dignar a guiar minhas fotos. Mas serão raras estas ocasiões. Sou um tipo de pirata que gosta mais da batalha do que do saque. E assim gosto de abordar vários alvos em uma única viagem.
                O diário de bordo nos diz o seguinte a respeito da derrota fotográfica:
" Foram realizadas 8 fotos de M18 com 25 segundos de exposição em ASA 3200. destas foram aproveitadas 7. Foram empilhadas no DSS. Posteriormente seguiram seu rumo em direção ao Photoshop onde o Nivel e a s curvas forma mexidas. O Alinhamento polar não foi acurado ".

2X Drizzle


                                                                              
1 exp. de 25 Segundos ASA 3200
                O registro é  fiel ao que se observava. Apresenta mais contraste e certamente mais estrelas. 
                As fotos foram feitas com o Newton ( um refletor de 150 mm f8) em noite de lua e com forte poluição luminosa na "Stonehenge dos Pobres" ( também conhecido como "O Observatório mais Urbano do Mundo".). Se localiza na laje de um condomínio no Leblon. No Rio de Janeiro. Posicionado a sudoeste deste no momento da captura M 18 desafia as luzes de um Shopping. É um DSO valente e bem brilhante como deve-se perceber.
                As estrelas mais quentes de M 18 são do tipo B3. Isto nos revela que trata-se de um aglomerado bem jovem e com menos de 40.000.000 de anos.  Esta a 4.900 anos luz de nós.
                Ha quem o chame de " O Cisne Negro" . Mas habitando em Sagitário esta mais para patinho feio.... 

                

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Riders of the Storm: Transparência e Astrofotografia

         
               Vem chegando sexta feira e depois de passar o dia lutando contra um comerciante que envergonharia a classe mesmo em um mercado no Oriente Médio acabei por conseguir retirar meu novo veiculo automotor e ainda fazer o seguro do mesmo.  Lógico que pretendo ir para Búzios aproveitar a lua  quase nova. Depois de arrumar mala ,cuia e todos os "quéri queris" astronômicos vejo  que,q apesar das ideias homicidas, valeu a pena insistir com o picareta da concessionária e retirar o veiculo ainda a tempo de aproveitar o fim de semana. Agora toda a tranqueira cabe com sobras na mala do veiculo automotor.       
                Astronomia não é para os fracos e  chegando no portão da casa já pronto para começar os trabalhos descubro que minha querida filha ( uma aborrescente puro sangue) deixara  a chave na outra mochila dela. Achar o caseiro , ressuscitar o cabra e finalmente conseguir entrar em casa. Lógico que o céu já ia fechando. A terrível maldição da sexta feira 13 parece se comprovar. Mas como é uma tradição astronômica lutar  contra as trevas e a superstição monto todo o circo  e depois de algum tempo estou com a buscadora alinhada. Curiosamente utilizei M 42 para tal. Nunca tinha alinhado uma buscadora utilizando um DSO como referência...
                O alinhamento do go-to foi difícil. Com nuvens entrando e saindo e com mais de 70% do céu encoberto as estrelas oferecidas pelo "Synscan" ( é o aparelho que comanda o o mecanismo de acompanhamento e de busca de  da montagem. Me refiro a ele tanto como Synscan como simplesmente  "go-to") e pelo céu propriamente dito não chegavam nunca a um armistício. Depois de muita luta e blasfêmias que chocariam  até um marinheiro russo bêbado em um prostíbulo em Santos  eu acabo conseguindo alguma precisão utilizando Sirius e Aldebarã como ancoragem. Em um ato de sensatez incomum decidi que nem tentaria montar o set up para astrofotografia. Com o mar de nuvens e observando "o que desse" nos buracos que se abriam nestas   apontava o "Newton" ( Um telescópio 150 mm f8) hora ao sul , hora ao sueste e raramente para horizonte norte . Eu sabia que fotografar seria uma tremenda perda de tempo. 
                E assim pilotando por aparelhos calculava qual o  DSO que iria se encontrar com os buracos nas nuvens e mandava o Synscan se dirigir para o destino e ficava aguardando com um olho na buscadora e outro na ocular. 
                Aprendi  que a escala de transparência deve ser uma escala aberta . Não ha limites para quão ruim pode ser a transparência atmosférica e quão obcecado pode ser um astrônomo amador.  Desta forma em uma escala de 0 a 10 eu observei M 42 , M41 e Ngc 2244 com a transparência em -2.   M 41 eu observei literalmente escondida nas nuvens. O no aglomerado de Tau Canis Majoris eu percebia a estrela matriz claramente e o aglomerado em si de forma muito discreta com estrelas "flicando" ao seu redor. Mesmo assim somente com auxilio de visão periférica. .  Como muita sensatez torna as coisa muito chatas eu tentei ainda M 78. A duplinha que se esconde na nebulosa eu percebi. Mas a nebulosa já era querer demais.
                Apesar das condições extremas e talvez por causa delas me dei por feliz e realizado. As 3:00 eu estava dormindo...
                No dia seguinte acordei as 9:30 e bem disposto. Nada como não encher o pote na véspera.  Depois de fazer as compras para o "almo jantar" a família parte para a praia.
                Camarão ao alho e óleo, Anchova na Brasa e um Sauvignon blanc me separam de uma nova luta.
                O céu se apresenta menos encoberto . Mas a transparência continua na parte negativa da escala...
                Começa a batalha. O go -to se recusa a colocar algo dentro do campo até mesmo da buscadora. Eu sei que devemos respeitar alguns pré-requisitos na escolha das estrelas do alinhamento do mesmo. Mas nada parecia resolver tirei um pouco de chumbo do contrapeso. Nada. Virei o telescópio. Nada ainda. Descobri que estava usando Peacock em vez de Alnair e assim mentindo para a maquina. Mesmo assim nada. Só me resta melhorar o alinhamento polar que era apenas um sentimento devido as péssimas condições da noite anterior.
                As 22:55:53 eu estou com Achernar cruzando o meridiano e  um alinhamento polar digno de nota foi obtido. Novamente utilizando Sirius e Aldebaran como faróis consigo algum sucesso. M 41 aparece centralizado na ocular de 25 mm. Yessssss!!!!
                A foto de Sirius  ( a que abriu este post...) com um "Halo Lunar" ao redor demonstra bem o conceito de escala de transparência aberta. - 2 ou -3...
                Mas resolvo fazer algumas fotos de meu velho conhecido Aglomerado de Aristóteles ( M 41) . Não chega a ser de tirar o folego. Mas astrofotografia é a melhor diversão. Depois o mesmo com M42. Dois manjados show pieces que sobrevivem a nebulosidade. Esta estava tão forte que impossibilitava observar até mesmo Tuc 47. O Horizonte sueste era o que apresentava as condições mais aceitáveis . E assim decido realizar  umas fotos de um desconhecido. Ele deve  ser bem interessante em condições menos desumanas. De qualquer forma Ngc 2244 , o aglomerado do satélite é uma nova aquisição e um fardo a menos na minha auto imposta e quixotesca missão de observar "' tudo que existe".
                Depois disto fico lutando com Ngc 2477 .Começo a achar que o go-to enlouqueceu novamente. Mas como 2477 fica muito próximo de Ngc 2451 ( os dois cabem no mesmo campo com meu 15X70) eu rapidamente descubro que a luta contra as brumas esta sendo perdida.  Encerro a sessão e parto para dentro dos restos de bebida que existe pela casa e coloco Riders of the Storm ( uma versão remix do Snoop Dog) para rolar.
                 Já de volta ao Rio me preparo  para tratar as imagens obtidas. Monto um play list que desfia Charlie Parker, Herbie Hancock, Ella Fitzgerald e todo o "Take Five" do Brubeck. Sei que deverei ser paciente.   O material não é exatamente de primeira... A transparência era muito baixa e as imagens que fiz de meu velho conhecido M 41 deveriam indicar quase uma magnitude a menos do que seria normal... M 42  que visualmente se apresentava de uma das formas mais discretas que já vi ( e trata-se de  uma vedete...) nas fotografias não chegava a ser inspiradora. Ngc 2244 aparece como um aglomerado aberto  bem modesto. Estranho para um aglomerado apresentado com  apelido no Stellarium e membro do catalogo Caldwell. Perceber a Nebulosa da Roseta que habita em seu entorno ( Ngc 2237) seria considerado um caso de delírio grave e invocara cuidados psiquiátricos urgentes...
                A primeira série a ser empilhada foi M 42. Aprendi que nebulosidade além de apagar as estrelas e as nebulosas se traduz em ruido na imagem final... Depois de passear pelo DSS , Fitswork, Photoshop e Noiseware o resultado melhorou um pouco . Mas ficou muito aquém de suas possibilidades. Curiosamente as péssimas condições tornavam fácil fotografar o "Trapézio" de estrelas no centro de M42. Ele em geral fica muito super exposto. com o filtro de nuvens ele se apresentava facilmente mesmo em exposições mais longas . E com exposições mais curtas era praticamente a única estrutura de M42 que se apresentava claramente... As condições estavam tão precárias que a companheira M 43 não chega a se revelar claramente nem nas fotos.  Foram empilhados 21 frames de 25 segundo de exposição , 7 dark frames e 7 Bias. E em outra versão não foram utilizados bias frames. . O ruido ficou menor sem estes... 
Quase 9 minutos de exposição costumam revelar muito mais coisas em M42. Na verdade já realizei fotos com 30 segundos melhores do que isto...

 
8 segundos de exposição...
                M 41 apesar de mais apagado que de costuma pareceu sofrer menos com a nebulosidade. Na verdade estava em uma brecha de céu privilegiada e assim não  foi necessário tanto pós processamento. É um de meus DSO´s favoritos e com uma bela estrela vermelha em seu centro é sempre um bom parâmetro sobre as condições do céu. No caso eu não percebia nenhuma cor observando visualmente .  Foram realizadas 11 exposições de 25 segundos com 1600 ASA, 7 darks e 4 bias

                Ngc 2244  se apresentou praticamente entre nuvens . E  ruido presente revela isto. Após muito processar a imagem ele ainda se apresenta bem aquém de sua possibilidades. Visualmente era mais com um ajuntamento de estrelas do que como um aberto . Poderia passar facilmente por um asterismo.  7 exposições de 25 segundos 1600 ASA , 4 darks e dois bias.
Depos de muito passear pelo Photoshop ... Levels , Curves , Brilho e saturação . Ruido removido tanto no Fitswork como no Noiseware...

                Como falei eu abandonei a batalha derrotado por Ngc 2477. Mas sabia que estava no lugar certo. Por desencargo de consciência  fotografei 2541 ( apenas um frame) só para confirmar que não estava sendo enganado pelo Go-to. Um velho conhecido que achei difícil até mesmo reconhecer tão desfigurado se encontrava pelas brumas. Uma violência... Mas o "Astrometry" fez a analise de DNA e confirmou sua identidade.  
 

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Ngc 6940: O Aglomerado de Mothra



          O habito de dar nome a DSO´s é um ato lúdico e que nos aproxima de objetos que na verdade habitam uma escala que de outra forma seria inimaginável para simples criaturas baseadas no carbono como nós . A grandiosidade das estruturas cósmicas que o astrônomo amador visualiza em seu telescópio são enganosamente pequenas junto a ocular. Isto permite associarmos estas estruturas a coisas que habitam o nosso cotidiano. De muito longe elas até se parecem com coisas próximas a nós...
            Ngc  6940 é um pouco conhecido aglomerado aberto que habita a pouco visitada constelação de Vulpécula, a pequena raposa. É importante ressaltar que pouco conhecido especialmente pelos observadores austrais. Mais provavelmente devido a ausência de cultura astrônomica e de "autores observadores" clássicos como Webb, Smythe, Burnham, Houston e cia. ltda. 
            Foi  através de um autor mais contemporâneo que cheguei até 6940. O´Meara , em seu " Hidden Treasures", lista este aglomerado aberto como o tesouro escondido de no 101. E nele exercita o lúdico habito de apelidar as maravilhas celestiais. E o apelido que ele dá a Ngc 6940 demonstra bem o tamanho e a natureza deste grande aglomerado aberto. O Aglomerado de Mothra.
            Para os mais jovens convém informar que Mothra é um monstro fictício , arqui-inimigo do Godzilla. Uma gigantesca mariposa que foi retratada pela primeira vez em um clássico do cinema de ficção classe Z realizado pelos estúdios Toho em 1961. Eram os primórdios dos animatronics e esta gigante e docil criatura que era tratada como uma deidade pela tribo de uma ilha perdida no Pacifico parecia muito com uma marionete ...
            A nossa mariposa , como dito anteriormente, reside na constelação de Vulpécula . Vulpécula passeia baixa no horizonte norte do Rio de Janeiro e é mais lembrada como porto para  a Nebulosa do Haltere (M 27) e do asterismo travestido de aglomerado conhecido como "O Cabide" ou o Aglomerado de Brocchi.
            Apesar de que para burocracia astronômica o CEP de Ngc 6940 indicar que esta reside na Raposa a pratica nos leva a associar a mesma a mais manjada constelação de Cygnus , o cisne. Eu mesmo a registrei fotograficamente e como não tinha certeza de quem era a criatura fotografada batizei esta como "Aberto em Cisne" antes de investigar de fato quem era o elemento.  Localize 41 Cygnus e você estará muito perto de seu alvo...


            Um belo , grande e colorido aglomerado que foi registrado sob fortíssima poluição luminosa e disputando brilho contra as antenas no alto do Morro do Sumaré. E toda zona norte carioca brilhando ao fundo. Mesmo assim ele se destacava contra o brilho dos vapores de  sódio e mercúrio e chamou-me  atenção.
            Como falei o aglomerado é pouco conhecido por estas bandas mais devido a ausência de literatura especializada do que por culpa própria. Ngc 6940 é um dos 400 de Herschel e reside em diversas listas observacionais.
            Trata-se de um belo aglomerado galáctico que se espalha por 30´de arco no céu ( uma lua cheia) e possui varias dezenas de membros visíveis com qualquer auxilio  óptico . É uma descoberta original de William Herschel ( o pai) , o maior observador visual de todos os tempos. É a entrada H-VII 8 de seu catalogo . Este foi a fundação que posteriormente embasaria o Ngc organizado por Dreyer.  Ele descreve o Aglomerado de Mothra da seguinte forma :
" (observado em 17 de Julho de 1784) Um  muito rico e bonito aglomerado de pequenas estrelas de tamanho similar espalhadas. 20´dimaetro".
            Ngc 6940 foi alvo de um interessante estudo realizado por astrônomo holandês T. Belloni e por seu companheiro italiano G. Tagliaferri. Neste eles utilizaram o atual defunto satélite ROSAT para estudar a atividade coronal de estrelas em Ngc 6940. Aglomerados abertos são mantido juntos por fraca gravidade e são fadados a se desagregarem e desaparecerem. Os mais antigos conhecidos sobrevivem cerca de 5 bilhões de anos juntos. A atividade coronal em aglomerados depende , crucialmente . da rotação estelar. Esta tende a diminuir com a idade devida o redução  da atividade eletromagnética. Em Ngc 6940 ainda existe atividade coronal. mas restrita a estrelas tardias e especialmente em binarias tardias. Isto revela um idade na casa de 1 bilhão de anos. Uma idade avançada para a maioria dos aglomerados abertos... Utilizar atividade coronal para datar aglomerados abertos é uma técnica interessante e uma novidade para mim. Vivendo e aprendendo...
            O aglomerado possui cerca de 170 membros e com 1 bilhão de anos apresenta o ramo gigante já bem desenvolvido. O colorido é evidente.
            O´Meara percebe claramente a gigante Mothra e com sua descrição não é difícil ( para quem viu o filme...) entender o apelido:
"... a estrela dupla junto ao centro do aglomerado, nas costas gigantes da imensa mariposa, são ( evidentemente) as duas fadinhas irmãs e  telepáticas que galopam nas costas de Mothra e que cantam apelos a sua deusa sempre que precisam".


            Ele evidentemente se refere a duas pequenas fadas gêmeas que sempre acompanham Mothra. As gêmeas são consideradas semi-deusas pela tribo local que irá lutar para defende las. Dependendo do filme elas terão diversos títulos . Entre eles " The Cosmos"... No mais recente " A Volta de Mothra" seu papel é ampliado e elas ganham os nomes de Lora e Moll. E uma irmã malvada chamada de Belvera.


            Foi uma curiosa experiencia o pós processamento das fotos realizadas do Aglomerado de Mothra. Talvez devido a seu parentesco cinematográfico eu testei varias formas de processamento .  Talvez também devido aos nefastos efeitos da poluição luminosa nas capturas iniciais. As diversas fotos apresentadas tem como matriz 20 fotogramas de 25 segundos de exposição realizados com uma Canon T3 . 3200 ASA. O telescópio utilizado foi um refletor de 150 mm f8 montado em uma HEQ 5 pro. O alinhamento polar ficou a desejar...  Os resultados são os mais diversos . Infelizmente onde se consegue um menor ruido se perde o colorido. Foram utilizados diversos programas e métodos na série de fotos abaixo apresentados. Os principais foram:
Deep Sky Stacker , Fitswork 4, Maxim DL, Photoshop e Noiseware...










            Infelizmente nem eu sei exatamente qual foi a peregrinação que foi realizada por cada um dos resultados. Trata-se de uma degustação as cegas. Após a captura das imagens e durante o processamento foram consumida duas Garrafas de Casillero Del Diablo Devil´s Edition e uma de um Pinot Noir da Miolo...  Assim como batizar DSO´s beber vinho também faz parte do corpo lúdico da astronomia amadora... 

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

M15 e M2 : Cinema-Novo e Astrofotografia

         
         Estive o inicio da primavera afastado da astronomia. Me vi envolvido com a busca pelo vil metal e acabei engajado em um projeto cinematográfico de caráter altamente experimental dirigido por um antigo diretor cuja a história inicia-se  nos tempos do Cinema Novo.  Não bastasse que o texto e as ideias  remontassem loucuras que,  embora não fossem glauberianas, eram da mesma estirpe. O projeto ainda apresentava dois fotógrafos nem tão experientes quanto nosso "herr director" e nem tão de acordo um com outro  . A Primavera tornou-se uma estação do ano que se passava dentro de um cenário maior que o estúdio que o continha e com três sóis iluminando o mesmo apartamento.

            Geralmente quando as coisas ficam neste pé eu começo a beber e fumar demais e o casamento começa a azedar. Ao terminar nosso projeto eu me sentia pronto para passar alguns dias pendurados em um cabide.
            Mas me lembrei que astrofotografia é sempre a melhor diversão e que depois de três sóis fotografar dois aglomerados globulares que não conhecia seriam uma boa ideia para voltar a realidade . E assim parti atrás de M 2 e de M 15.
            Depois de tantas aventuras  a la " nouvelle vague" continuidade tornou-se  uma palavra sem sentido . Resolvi que vou apresentar os dois na ordem inversa da sua entrada no catalogo Messier.

                M 15 é conhecido como o "Grande Aglomerado de Pegasus". Visualmente é como um gêmeo de M 2. O termo "grande" no título demonstra claramente como  os habitantes de latitudes boreais mais elevadas são inustiçados em matéria de aglomerados globulares.
            Apesar de sofrer quando comparado com maravilhas como Omega Centauro , Tuc 47, M22 e outros aglomerados visíveis mais ao sul da terceira rocha a partir do Sol M 15 é cheio de surpresas e atrações cosmológicas. Uma das grandes atrações do horizonte norte no Rio de Janeiro durante a primavera.


Esta foto teve u tratamento diferente da de cima. é a primeira vez que utilizo o fitswork para empilhar as fotos . Na foto superior o empilhamento foi realizado no Deep Sky Stacker. O  fits oferece muito mais possibilidades para o pós processamento . Mas ainda prefiro o DSS para realizar o empilhamento e alinhamento inicial.



            Ele é um dos seis globulares visíveis a olho nu a partir de latitudes boreais mais elevadas , ainda que necessitando de condições excelentes para este feito.  ( os outros são M2, M 3 ,M 5 ,M 13 e M 92)  .
            M 15 é facilmente localizado a partir do "Grande Quadrado" que forma o corpo de Pegasus. A partir deste siga para as estrelas que formam o pescoço e a cabeça do mitológico cavalo e estendendo-se a linha que liga Biham a Enif mais 4o você chegará ao aglomerado. Uma pequena estrela de 6a magnitude habita a oeste de M 15 e juntamente com este simula uma estrela dupla. mesmo pela buscadora você perceberá que uma delas é uma impostora... Esta é M 15.
            M 15 nos conta uma história comum as entradas do Catalogo Messier . Este DSO foi primeiro observado anteriormente por alguém , catalogado posteriormente por Messier e foi resolvido e determinado como um aglomerado globular  por uma observação realizada por Herschel... No caso foi descoberto por Maraldi II em  7 de setembro1746 , incluído no Catalogo Messier em 3 de junho de 1764. Herschel o observou em 1783.
            Messier o descreve da seguinte forma: " Nebulosa sem estrelas entre a Cabeça de Pegasus e Equuuleus. É circular e com centro mais brilhante. Sua posição foi determinada em relação a 8 Equulei. Maraldi menciona esta nebula no Memoires de l´Académie 1746..."
            Curiosamente Maraldi II descreve a nébula como uma brilhante e nebulosa estrela composta de pequenas estrelas. Uma visão muito mais exata do que nos descreve Messier anos mais tarde.
            Como a maioria absoluta dos globulares M 15 é um membro ancião do conselho do universo e possui mais de 12 bilhões de anos. Mas apresenta características que o tornam único . É possivelmente o mais denso aglomerado globular de nossa galaxia. É um dos 21 globulares de nossa galaxia a ter passado por um processo conhecido como colapso de núcleo ( existem mais candidatos a terem sido submetidos a este processo...) e assim apresenta um núcleo central muito pequeno em comparação ao tamanho do globular como um todo. M 15 se espalha por mais de 175 anos luz e sua parte mais central se concentra em menos de 2 anos luz. Mais da metade da massa de M15 se reúne  em um raio com menos de 10 anos luz. É duvidoso se isto ocorre devido as estrelas serem tão concentradas ou se isto é a prova da existência de um buraco negro em seu núcleo. Foto realizada pelo Hubble parece desacreditar a existência do mesmo...
            Não bastasse tantas peculiaridades M 15 é um dos 4 ( os outras são M22 , Pal 6 , e Ngc 6441) globulares a possuir entre seus membros uma nebulosa planetária. embora fora do alcance de Telescópios amadores ( mesmo grandes) Pease 1 habita entre as estrelas de M15 . Foi levantada a suspeita da existência de mais um NP entre suas estrelas em 1976 por Petterson mas estudos posteriores levaram a sérias duvidas sobre a natureza deste  objeto.  
            Não bastasse tudo isto M 15 é também um dos globulares com o maior numero de estrelas variáveis e possuidor de uma bela coleção de pulsares. Alguns motorizados por estrelas de nêutrons duplas ( PSR 2127+11C). Um prodigo da natureza e um colecionador de raridades cósmicas. Antes que me esqueça: esta a 33.600 anos luz de nós

            Agora vamos a M 2.
            Este é bem mais difícil de se localizar que o anterior. Habitando a apagada constelação de Aquarius. " O Jarro" é um asterismo que ajudara você a localizar a peça. Procure ao Sul de Enif ( que é a estrela que marca o nariz de Pegasus) . Com a ajuda de um atlas estelar tente perceber uma ponta de lança formada pelas estrelas Pi Aquarii , Zeta Aquarii, Sadachbia e Sadalmelik. O conunto da obra aponta para M 2. Tenha paciência. É importante em quase tudo que faz...

            M 2 assim como seu companheiro neste post é um aglomerado bem denso e não espere resolver estrelas no seu núcleo com menos de 300 mm de telescópio...
            É um desafio para ser observado a olho nu mas ele vai se revelar com qualquer auxilio óptico. è um interessante objeto binocular e escanear a região em busca deste com um destes pode ajudar em muito localiza-lo com telescópios.
            Assim  como M 15 ele foi descoberto por Maraldi , catalogado por Messier e resolvido por Herschel. Uma daquelas coincidências que nada tem a ver com as leis fundamentais do universo : Maraldi descobriu M2 exatamente 14 anos antes de Messier redescobri-lo de forma independente e cataloga-lo na noite de  11 de setembro de 1760...
            Messier o descreveu assim:
"Nebulosa sem estrelas na "cabeça de Aquarius. O centro é brilhante e cercado por uma nebulosidade circular. Recorda a bela nebulosa que repousa entre o arco e a cabeça do Sagitário. É claramente visivel com um  telescópio de 2 pés. No mesmo paralelo que a Aquarii. " Ele comenta que Maraldi observou a mesma nebula quando em busca do cometa de 1746.
            Penso e não chego a nenhuma conclusão do  porque ele citar M 22 na descrição e este ser uma entrada tão posterior em seu catalogo... Mesmo porque reza a lenda que ele somente decidiu-se a realizar um catalogo de nebulosas a não serem observadas depois de descobrir M 3...
            Um pouco mais distante que o aglomerado anterior este reside a 37.500 anos luz de nós. Se espalha por 175 anos luz e possui cerca de 150.000 membros. classificado como do tipo II na escala Shapley ele é extremamente denso.
            Apesar de não possuir a mesma riqueza de "estranhezas" de nosso convidado anterior neste post ele apresenta sua quota de variáveis: 42.  Uma de suas características mais notáveis é apresentar uma excentricidade orbital elevada. Assim ele pode se encontrar a menos de 30.000 anos do centro galáctico em um momento e a mais de 150.000 em outro. Momento, em escalas astronômicas, é um período de tempo bastante longo...
            M 2 e M 15 são semelhantes na forma. Tanto que devido a método de captura utilizado durante a sessão e provavelmente herdado do cinema-novo eu cheguei a achar que as fotos de um eram do outro. Felizmente venho desenvolvendo o habito de realizar uma rápida visita ao site  "astrometry" para descobrir se ha alguma novidade ou estrela curiosa nas capturas . E assim não misturar alhos com bugalhos.

            As fotos são resultado de pouco mais de uma dezena de frames de cada um dos DSO´s em questão. Todas com 25 segundos ( 3200 ASA)de exposição e realizadas sobre forte poluição luminosa na "Sobreloja da Stonehenge dos Pobres". Acrescentei 5 dark frames e 5 Bias . Nenhum flat.  As fotos foram empilhadas no Deep Sky Stacker e posteriormente visitaram o Fitswork onde tiveram seu gradiente reduzido e alguns outros processos básicos foram aplicados. As imagens apresentam mais detalhes do que você deve esperar ver junto a  ocular . Utilizei o Newton na captura e na observação ( Um refletor de 150 mm f8).  Creio ser o mais perto que se pode chegar ao lema  "Uma ideia na cabeça e uma câmera na mão" quando se trata de astrofotografia. 
            

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Ngc 6322 , o Cinturão de Gould e o Photoshop

                
                 Ngc 6322 é um interessante aglomerado aberto pouco visitado. Habitando a rica região junto a cauda do Escorpião  é quase sempre esquecido em nome de outros aglomerados galácticos muito mais conhecidos.  
            Buscando por informações sobre o elemento eu acabei descobrindo fatos bastante interessantes não só sobre ele como sobre aglomerados abertos em geral.
                Depois de muito pesquisar não achei nenhum paper especifico sobre nosso DSO investigado.
                Sua localização denunciava que ele deveria fazer parte da grande aglomeração OB Scorpio -Centauros (também chamada de aglomeração OB1 Scorpius)  onde habitam outros abertos mais famosos. Ngc 6231 é um deles.
                Uma daquelas coincidências que nada tem a ver com as leis fundamentais do universo , minha queda pelo conhecimento inutil e a imaginação me levaram até um obscuro e interessantíssimo  paper de 2009 ( F. Elias, E.J. Alfaro e J. Cabrero-Caño) "Hierarchical star formation: starsand stellar cluster in the Gould Belt". Apesar de ser um texto científico sério e todo formatado para tal é uma leitura leve e interessante. 
                Entre os diversos aglomerados utilizados na amostragem estava lá o elemento detido. Ngc 6322. Havia sido   detido somente para averiguação já que poderia ser um asterismo. Tinha localizado o mesmo no Catalogo Collinder e este possui muito equívocos semelhantes.
                Antes de esmiuçarmos a vida de nosso aglomerado acho interessante apresentar algumas informações disponíveis no paper e questão e que não só servirão para levantarmos a ficha de 6322 como para sabermos mais sobre diversos aglomerados galácticos que habitam a o disco galáctico e/ou suas cercanias .  
                Ngc 6322 é uma descoberta de John Herschel.
                Não por acaso o chamado Cinturão de Gould ( Gould Belt) é uma estrutura galáctica descoberta por John Herschel e Benjamin Gould no seculo XIX.  Trata-se de um sistema de estrelas brilhantes inclinado em relação ao plano da galaxia.  A maior parte da associações OB próximas fazem parte do cinturão de Gould. Como já falei desconfiava que 6322 fazia parte da mesma a associação OB de 6231 ( Asociação OB de Scorpio-Centaurus).  O Cinturão é muito provavelmente o mais próximo complexo gigante de formação estelar em nossa região galáctica.
                Era portanto de supor-se que 6322 ser um aglomerado jovem. Estrelas O e B não duram muito.  Aglomerados estelares formam-se em no núcleo de gigantes nuvens de gás e podem ser interpretadas como um resultado inevitável de uma estrutura deste tipo.  Mas aglomerados abertos possuem um altíssimo índice de mortalidade infantil e poucos continuam gravitacionalmente unidos apos 10 milhões de anos. Ngc 6322 tem algo como 7 milhões de anos e apesar de ser considerado pelos autores como  "bound" sua aparência é duvidosa . Mas parece que sobreviverá .. Aglomerados abertos que passam esta idade critica podem sobreviver  ( em média) por 1 bilhão de anos. Evidentemente que dependendo de diversos outros fatores. A locação é uma das  principais...  Muito próximos a centro galáctico e até Globulares são destripados...
                Chegar ao paper em questão foi um longo caminho e só para organizar a história conto como tudo  aconteceu.  Iniciou-se no Stellarium ,passou pelo catalogo Collinder no qual  Ngc 6322 é a entrada 326 , depois ao paper citado e  até os finalmentes aqui apresentados. São estas as coincidências sem nada em comum com a leis fundamentais.
                Agora o conhecimento inútil...
                 Collinder utiliza uma classificação interessante e igual a do Catalogo Lund ( Desta vez devido a uma das leis fundamentais do universo. Ele foi seu orientador...) . Os aglomerados podem ser dos seguintes tipos:  Plêiades , Presépio , m Norma ,Glob , Chain , Neb , nl. . São classificações altamente descritivas e que visam facilitar a identificação.
                E a imaginação...
                6322 tem uma outra semelhança com seu vizinho mais famoso (Ngc 6231) . Eles possuem um formato triangular que remonta ao famoso Ngc 4755 ( A caixinha de joias) . Todos eles são aglomerados  classificados como  do tipo Pleiades por Collinder. Mas eu definitivamente acho que 4755 deveria ter um grupo só seu. Não a toa 6321 é conhecido como " A Caixa de Joias do Norte". Outro aglomerado próximo e de formato semelhante é Ngc  4262. Conheço vários outros no mesmo "esquadro".
                Entre os autores mais "populares" somente Burnham em seu " Celestial Handbook" faz algum comentário a respeito de 6322.  Quando comenta sobre Eta Scorpio ( estrela guia para localizar 6322) ele nos diz:
                "Um pouco mais de 1o distante , em direção ENE,  o observador vai perceber um triangulo quase equilátero de três estrelas de 8a magnitude com aproximadamente 7´ minutos de lado, e englobam dois pares de pequenas estrelas. Este asterismo com formato de piramide e facilmente localizável é Ngc 6322."
                A investigação permitiu declarar o agrupamento como "formação de quadrilha" e declarar acima de qualquer duvida ser um DSO de verdade...

                O aglomerado é bem esparso e mesmo assim muito bonito. Um alvo fácil para telescópios e mesmo binóculos.
                "Least but not last"  realizei alumas exposições deste debaixo de severas condições de poluição luminosa. Mesmo assim este se saiu bem; Pena um alinhamento polar abaixo da critica.
                Sempre me cabe a duvida de até onde você pode ir com o pós processamento de suas fotos antes destas deixarem de ser suas fotos. Mas confesso que aprendi um interessante e fácil truque para disfarçar o péssimo alinhamento polar. Consiste em duplicar o Layer da foto final no Photoshop e com o segundo layer no modo "darken"  escorregar um sobre o outro. E assim arredondar as estrelas .Pode ser um pouco desonesto. Mas funciona...

Sem Maquiagem e com Maquaigem

                Ngc 6322 é um interessantíssimo e pouco conhecido aglomerado aberto . Do tipo que adoro...


                

domingo, 4 de outubro de 2015

M 28 e os Pulsares

           
                M 28 encerra a saga  fotográfica dos Globulares Messier que realizei durante o inverno.
                Mesmo não sendo o menos brilhante ou  o mais difícil de ser localizado acabou sendo o ultimo a visitar as paginas aqui do Nuncius Australis. Provavelmente a ser um daqueles DSO´s que sofrem muito com  a concorrência . Seu vizinho mais próximo é o gigantesco M22 ( O Aglomerado de Tolkien) e é ainda cercado por "estrelas" mais famosas do catalogo de objetos a não serem observados elaborado por Charles Messier no Sec XVIII.

                Na verdade localizar M28 é bastante simples . Localizado a menos 1o de Kaus Borealis ( Lambda de Sagitário, a estrela que marca o topo do "Bule") o globular é visível  com a maioria das buscadoras óticas. As vezes o brilho de Lambda atrapalha um pouco a percepção do mesmo.
                Messier o descobriu  em 27 de julho de 1764 e o descreveu assim: " Nébula descoberta na parte superior do arco  de Sagitário  a cerca de 1o da estela l e não distante da bela nebulosa ( M 22) que  repousa entre a cabeça e o arco. Não contém nenhuma estrela. É circular e visível apenas com dificuldade com um  refrator simples de 3 e 1/2 pés.  Sua posição foi determinada em relação a l Sagittarii. Observado novamente em 20 de Março de 1781".
                Foi Herschel o primeiro a resolver estrelas no aglomerado e o identificar corretamente  como um globular.
                As estrelas nas bordas de M 28 são facilmente resolvidas com meu refletor de 150 mm f8 mesmo a 48X . Já o seu núcleo demanda mais abertura e ampliação.
                A distancia de M28 é alvo de alguma discussão como é comum em DSO em direção ao centro galáctico devido a grande quantidade de poeira e afins pela região. Mas valores entre 18e 20 mil anos luz são os mais comuns. Como todo Globular M28 é um ancião e possui por volta de 12 bilhões de anos.
                Possui diversas estrelas variáveis de tipo RR Lyrae que possuem uma relação muito estreita com Globulares...
                Sua maior curiosidade cosmológica  foi descoberta em 1986 sendo este o primeiro globular onde foi localizado um pulsar na casa dos milisegundos...  Posteriormente foram descobertos mais 11 destes em M28. Isto faz dele um o terceiro mais popular entre pulsares do tipo por esta bandas. Perde apenas para Tuc 47 e Terzan 5.
                Uma das características que mais me chamam atenção em M28 é um agrupamento de estrelas em seu halo que tem a  forma de uma pinça.Esta pinça já foi percebidas em ilustrações do aglomerado que remontam ao sec. XVIII.


                Sendo o ultimo dos globulares Messier fotografados este inverno eu confesso que ele foi um pouco renegado . Realizei apenas 20 exposições de 15 segundos com um alinhamento polar razoável . E meia duzia de Darks frames. Mas acredito que os registros ficaram bastante realistas e apresentam claramente as estruturas mais marcantes de M28. Alguns autores percebem diferente coloração entre o núcleo e as estrelas da borda. Eu confesso não notar nenhuma...
                Um alvo mais fácil de ser localizado do que propriamente visto. Tente manter l fora do campo. Especialmente utilizando binóculo.
                Na verdade se utilizar binóculo um interessante exercício é tentar enquadrar e "perceber" M 22 , M28 e o discreto Ngc  6638 no mesmo campo. Já consegui "espremer" os três com meu 7X50 mm. Ngc 6638 será uma pequena estrelas desfocada e recomenda-se atenção e céus escuros.  É impressionante como três globulares podem ser tão diferentes entre si e tão próximos .

                

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Stonehenge dos Pobres: A Sobreloja

               

                 Há tempos eu não observava da laje de meu prédio. Normalmente acabo por  montar o telescópio junto a janela na sala de minha casa. Esta é conhecida como " A Stonehenge dos Pobres". Sendo uma janela as estações do ano desfilam por ela e assim esta faz às vezes de observatório, relógio e calendário. Uma versão moderna de diversas estruturas neolíticas que se espalham pelo mundo e das quais Stonehenge é a mais conhecida.
                  A chegada de Mme. Herschel ( uma montagem HEQ5 pro da Skywatcher) me obrigou a esquecer a preguiça e ativar o que eu chamo de  "A Sobreloja". E assim montar toda a estrutura necessária para observar na laje da cobertura de meu edifício. Exatamente acima da janela conhecida como a Stonehenge dos Pobres e/ou " O Observatório mais Urbano do Mundo".  A operação na "Sobreloja" é muito mais trabalhosa e desconfortável.  Apesar de tudo isto e de continuar a sofrer  com terrível poluição luminosa  ( Bortle  8 ou 9 dependendo da lua e do horizonte) ela apresenta qualidades também. Posso observar quase todo o horizonte e o zênite do céu.  Recentemente li uma matéria do Bob Berman em sua coluna na Astronomy Magazine onde ele discorria sobre as diferenças entre céus escuros e céus super escuros.  Em áreas rurais bem escuras ele nos lembra que o " cinturão de Órion ( As Três Marias ) vem cercado de estrelas , a Via Láctea se apresenta como principal estrutura no céu, M13 ( Omega Centauro nem se fala...) é evidente mesmo a olho nú bem como M31 (Galaxia de Andrômeda).  Já quando ele fala de céus super escuros se refere ao norte do Atacama, o Deserto do Saara e o deserto a sudeste de Isfahan no Irã.  Nestas o céu chega a ser opressivo e um show de luz e trevas ... Eu fiquei pensando como ele se viraria com a Stonehenge dos Pobres e com Geribá.
                Montar a estrutura da "Sobreloja" é trabalhoso. Em primeiro lugar preciso subir todo o equipamento de observação. Depois mais dois tripés e um sarrafo para montar uma "tapadeira" de Pano preto  que vai bloquear a luz dos apartamentos do 16 andar do Bloco C de meu condomínio. Não só a luz como os curiosos. Afinal não quero observar sendo observado e nem ficar conhecido como o "Tarado da Laje".  Para montar esta estrutura implica em eu ter que me equilibrar sobre telhas "Eternit" que não suportam bem o meu peso. Isto já me custou algumas quedas , hematomas e escoriações bem como algumas telhas...

Antares

                Apesar das condições menos que ideais no dia 19 de setembro me empolguei e botei meu bloco na avenida. As 16:00 PM comecei toda a operação e quado deu 18:30 eu estava afinando o go-to da montagem. Com poluição luminosa do Rio e a Lua quase em seu quarto crescente o alinhamento polar foi feito de forma aproximada já que era impossível para a buscadora polar sobreviver em meio a tanta luz e localizar alguma estrela do apagado asterismo em Octans que serve para isto. Mais um pouco e austo o foco da câmera utilizando Antares. 
Ngc 6322

                O primeiro alvo da noite é um modesto aglomerado aberto na concorrida cauda de Escorpião. Na verdade uma grata surpresa que me recordou desde o aglomerado de Pi Puppis até a Caixinha de Jóias ( Ngc 4755). Em céus mais escuros deve ser ainda mais atraente. Ngc 6322. Percebo que o alinhamento polar feito somente com auxilio de bussola esta aquém do desejado. Mas prefiro aguardar até as 20:25 para utilizar Peacock ( Alpha Pavo) para melhorar isto.  Vou continuar a brincadeira assim mesmo. Tanto a transparência quanto o seeing não estão grandes coisas e não tenho maiores ambições. Ficarei feliz com alguns registros e um reconhecimento das condições da "Sobreloja" para uma futura expedição  na lua nova.


                Depois disto uma rápida visita a M8 só para confirmar o que eu já sabia. Com a Lua por perto e a Barra da Tijuca iluminando o horizonte oeste por trás do morros  a Nebulosa da Lagoa se apresenta mais "lavada" que uma quadro pintado com giz pastel...
                O horizonte sul é sempre mais protegido da P.L. já que depois do farol na Ilha Rasa e sua lente fresnel produzida pela Barbier & Bernard o próximo local a produzir poluição luminosa é Port Stanley , nas Ilhas Falklands ( ou Malvinas)...

C 93 e/ou Ngc 6752

                C93 ou Ngc 6752 é um belo e grande globular em Pavo. Nunca o tinha visitado e creio que vai se tornar um grande amigo nesta primavera.
6744 Astrometry

               
C 101 ( Ngc 6744) 3XDrizzle


               Como parece que o horizonte sul esta mais generoso me animo a tentar uma galaxia muito próxima ao Globular. C 101 ou  6744. Tivesse insistido mais talvez conseguisse algo. Mas depois de ver M 8 achei melhor aguardar por dias melhores . De qualquer forma ela se apresenta de forma quase "espírita" depois de empilhar 4 fotos de 25 segundos...  Será o alvo principal na próxima lua nova na "Sobreloja". Acho que com uns 60 minutos de exposição ela deve dar seu show... 
                Perco a a hora para melhorar o alinhamento com Peacock. Esta cruzaria o meridiano as 20:25:29. Do jeito que estava o céu a próxima estrela  "boa" para  a tarefa seria Achernar as  01:36:03. Sem chance...
Achernar

                Mesmo com o alinhamento meio tosco o "go-to"  esta bem preciso e assim não retiro sequer a câmera para afinar o enquadramento . Apenas escolho um alvo e utilizo o Synscan para que Mme. Herschel localize a presa.  Depois é só disparar o obturador.
M 15


               
M 2


           
M 18

                  Entre erros e acertos acabo a noite tendo capturado mais M2, M15 , M18 e Ngc 6940. Este ultimo um aberto entre Cisne e Vulpecula e que apesar de já bem baixo sobre as antenas do Sumaré e lutando contra a PL causada pela zona norte do Rio  parece ser um interessantíssimo DSO  pouco conhecido. 
Ngc 6940- Este sofreu na Poluição luminosa e teve que ser muito pós processado. Mas é sem duvida bastante promissor e espero dar-lhe uma nova chance em melhores condições...

                 Com  parte da estrutura necessária e  habitando "escondida" junto a casa de maquinas do prédio  a operação "Stonehenge dos Pobres: A Sobreloja" tende a ficar mais simples. Com as todas as potencialidades de Mme. Herschel para serem exploradas parece que será cada vez mais comum.

                Que venha a lua nova.