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sábado, 14 de maio de 2016

Ngc 4945: A Galaxia da Pinça

               


              Patrick Moore , embora pouco conhecido no Brasil , foi um dos maiores divulgadores da astronomia de todos os tempos . Pilotou o o "The Sky at Night" ( um programa sobre astronomia ) durante 56 anos.  Isto faz dele um membro do Guinnes e sonho inimaginável no Brasil. Imaginem um programa devotado a astronomia na Globo e indo ao ar durante mais de meio século...
                Especialista na observação lunar ele criou um Catalogo de DSO´s em 1987.  Como ele não poderia batizar suas entradas com a letra M ( propriedade de Messier desde o sec. XVIII) ele utilizou o nome de familia de sua muito chegada mãe. Nasceu o Catalogo Caldwell. Sendo este um popstar viajou pelo mundo todo e diversas de suas entradas são joias da coroa austral.
                Ngc 4945 é também C 83.  Trata-se de uma galaxia espiral barrada (SBcd) que habita na constelação de Centauros. Apresentado-se quase de perfil para nós e com uma magnitude de 8.5 ela é um alvo fácil para telescópios amadores. Ou pelo menos deveria ser. Com um diâmetro aparente de quase 20´ as coisas não são tão fáceis como parecem. Seu brilho de superfície de 14.0 percebe la visualmente é algo viável somente em céus bem escuros. Debaixo destes ele será percebida mesmo com pequenos binóculos.
                Observar e fotografar 4945 foi uma aula digna de Sir Patrick para mim.

                Localizar a galaxia não chega a ser difícil já que a mesma se encontra no mesmo campo ocular de Xi Centaurus. Esta é uma fácil estrela dupla e como ambos os membros são facilmente separados ( bem separados...) e percebidos mesmo em pequenas buscadoras   chegar a nosso destino é simples. Um pequeno dever de casa com auxilio do Stellarium ou qualquer outro programa garantirão que você chegou a seu destino.
Dever de casa


               Uma vez com tudo dentro do quadro e no esquadro cabe a você perceber a discreta  e grande área levemente diferente do fundo do quadro. Talvez em céus mais escuros que o céu bortlle 7 que observei a maravilha ela seja mais evidente. Em céus suburbanos claros ela é pouco mais que um gradiente entre o céu e o céu...
Um unico frame de 25 seg sem nenhum tratamento. É próximo do que você vai ver na ocular. Depois de se concentrar bastante...

                A primeira lição:  Galaxias não são alvos fáceis. Você muitas vezes esta no lugar certo e com estas no campo da ocular mas não as percebe. Sua observação esta no região do cérebro responsável pelos sentimentos e não pela visão...
Esta foto foi incluída anos mais tarde neste post. Com o tempo aprendi a lidar melhor com o DSS. Mas foi o PixInSight 1.8 que extorquiu os maiores detalhes aqui percebidos.  

                Certo de possuir ela em campo e com um " felling" de que algo mais habita a região do espaço que estou vendo além de estrelas eu decido fotografar.
                Com Xi me ajudando a garantir o foco programei a câmera ( usando o Canon Utilities) para realizar 40 exposições de 25 segundos com 3200 asa. Logo na primeira foto percebo que ela esta lá. Mas ainda assim discreta.
                A galaxia é enorme e cobre mais de um quarto do campo de sensor da Canon T3 ( 63´X 42`) .
                Depois da captura e certo do que estou vendo volto para a ocular e com minha 17 mm .  Com  70 X de aumento percebo melhor sua presença visualmente. Depois de um bom tempo namorando e com os olhos bem adaptados começo a perceber alguma coisa. . A região que poderia ser a piteira do charuto  surge mais brilhante e talvez com algum indicio de núcleo. E onde habitaria o brasa seria um charuto quase apagado. Uma discreta região mais escura comparece como se o charuto estivesse  rasgado próxima a brasa.   Tudo isto  sendo capturado em uma parte do cérebro desconhecida.Seu apelido (creio que invenção de O´Meara) é "The Tweezers Galaxy". A Galaxia da Pinça. Eu acho ela mais parecida com uma guimba de cigarro mal apagada. Mas não poderia usar isto como título do post...
                Ngc 4945 é uma das galaxias do Grupo de M83. Temos visitado e registrado a região com uma certa frequência nos últimos meses aqui no Nuncius Australis. Outra parceira do grupo é Centauros A . Sua relação com esta foi responsável por  mais uma daquelas história quixotescas na astronomia que encantam ao autor. Talvez devido aos meus tempos de escalador  ou a uma identificação espiritual os "Conquistadores do Inútil" são sempre vistos com simpatia por aqui.
                Um dos meus livros de cabeceira é " Astronomy: the Structure of the Universe". do Kauffman II. Minha edição é de 1977. Foi presente de um grande amigo meu e Doutor e Professor de fisica  da PUC R.J. Naqueles tempos o nosso Dom quixote ainda lutava contra moinhos , o Big Bang , Hubble e o quase todo o resto da comunidade científica... Seu nome : Halton "Chip" Arp.
                Em um dos capítulos finais do livro de Kauffman ( para lá de datado...) ele fala o seguinte: " Correndo o risco de severas criticas de seus colegas , este escritor vai apresentar  o contorno de uma série de observações e teorias que são chamadas alternativamente  por outros de lixo , insanidade , _________*, astrologia , as forças do mal ( termo na época utilizado para o "lado negro da força") e heresia.
                Ele se refere as ideias de Narlikar , Hoyle e Arp.
                Estes defendiam que o redshift de quasares (ainda não existiam AGN´s ") eram intrínsecos e não resultado de suas distancias. Galaxias ejetariam quasares e estes se tornariam galaxias. Matéria surgiria assim . E matéria jovem tem um redshift associado. Nada de Big Bang.
                Ngc 4945 teria sido "ejetada" de Centaurus A. Esta uma radio galaxia e um parente de quasares  para nossos caçadores de borboleta.
                Arp era um mestre do mistério e achava que toda galaxia "diferente" que encontrava tinha um quasar debaixo da capa.  Ela localizava filamentos de gás conectando  radio galaxias ( ou quasares) a galaxias ditas "normais" milhões ou bilhões de anos distantes . Segundo a hipótese existiriam galaxias mais "comuns" que outras.  Radio galaxias como Centaurus A criariam galaxias...  Ngc 4945 seria "filha de Centaurus A.  Arp determinou que jatos de raio X nascedouros em Cen A apontavam diretamente para 4945.  Mas ambas são parte do mesmo grupo e possuem redshift semelhante.
40 frames 20seg 3200 ASA. Rot n Stack +fitswork e photoshop


                A imaginação é uma poderosa ferramenta para ciência. Mas não acredite nela cegamente. Sonhar não custa nada...
                Desta vez por uma coincidência que não sabemos se tem algo a ver com as leis fundamentais do universo ocorre que Centaurus A e Ngc 4945 são ambas galaxias Seyfert.  Mas o que não sabia Arp é que existem dois tipos de galaxias Seyfert,Galaxias com núcleo ativo ( como a Seyfert) são denominadas de varias formas . Fruto da posição  destas em relação ao observador. Tudo é relativo..
                Fotos de um tempo que tanto Kauffman quanto Arp não habitavam ( feitas pelo Hubble Space Telescope) indicam que de fato ha uma especie de gasoduto entre ambas. Mas este  fruto de um encontro entre ambas a mais de 100.000.000 de anos. Hoje em dia estudos indicam que estes são mais comuns que  se supõem em aglomerados galácticos densos.  Ngc 4388 e M86 apresentam estrutura semelhante...
Um crop . DSS+Fits+ Photoshop

                Ngc 4945 foi descoberta por James Dunlop  em  1826 durante seu pioneiro levantamento dos céus austrais.
                " Bela é longa nebulosa com cerca de 10´ de comprimento e 2´de espessura formando um angulo com o meridiano cerca de 30(sudoeste) e [ nordeste] sua mais brilhante e larga é mais próxima da extremidade sudoeste que do centro e gradualmente diminui de brilho e largura em direção as extremidades, mas a largura é muito mais definida que o comprimento. Uma pequena estrela junto ao norte e uma menor junto a extremidade sul , mas nenhuma delas relacionada a nebulosa. Eu tenho a forte  suspeita que esta nebulosa é resolvível em estrelas , com uma leve compressão em direção ao centro. Eu não tenho duvidas de ela pode se resolver. Eu posso ver estrelas como meros pontos.  A nordeste de Xi Cenaturus"
                É pouco provável que Dunlop tenha resolvido estrelas em 4945.  Mas assim como eu obtive muito ruido nas modestas fotos imagine ele com um telescópio especular...
                 A outra lição que aprendi com Ngc 4945 é que se esperas detalhe em galaxias deves fazer muitas exposições. Não foram suficiente ainda que tenha conseguido tirar leite de pedra. Com pouco tempo para observar não posso fotografar um objeto por noite. mas 4045 vai receber uma visita mais demorada assim que a vida permitir...
                Outra lição é que o pós processamento de astrofotos não é uma ciência exata. Teoricamente o DSS é um programa muito mais poderoso que o Rot n´Stack. Mas apesar dos meljores resultados foi necessário muito mais trabalho e utilização de outros softs para se chegar até o produto final. Outro programa que estou aprendendo a usar é o IRIS.  Este é uma ferramenta poderosa mas hermética. É um software que demanda curso. Como não sou afeito a isto as coisas vão por tentativa e erro. Um dia eu chego lá. Ao longo do texto apresentei diversos resultados fotográfico e os procedimentos adotados.






                Fiquei muito feliz em perceber que na captura foram registradas Ngc 4945 ( esta parece apenas um defeito nos spikes de Xi cen  (ela se esconde atrás da estrela)  e Ngc 4976 ( a direita e acima de 4045 na foto abaixo). Uma espiral de 10 magnitude que demanda muita atenção para ser percebida visualmente. Se apresenta com uma estrela ( seu núcleo)  mas com bastante atenção e aumento é um alvo visual possível.   

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