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terça-feira, 13 de setembro de 2016

M 30 : A Cara de Capricórnio

            
                 Ao ler-se o  "Mémoires de l´Académie Royale" para 1771 (publicado em 1774) o cidadão vai se deparar com a primeira versão do Catalogo Messier.  Esta famosa lista de "cometas impostores" possuía aí apenas 45 entradas. É incrível ler ao diário onde Messier revela a construção de seu Catalogo. Parece realmente que você esta no Observatório da Marinha em Paris ao lado do Ilustre astrônomo.

                Seguir os caminhos percorridos por Messier na noite de 3 para 4 de agosto de 1764 é um roteiro interessantíssimo.
                Eu de forma desavisada acabei por percorrer este exatamente 252 anos e um mês mais tarde que Messier. E na noite de 3 de Setembro de 2016 coloquei meus olhos pela ´primeira vez em M 30 e revisitei M 31 e M32 (A Grande Galaxia de Andrômeda e sua pequena companheira) . A grande diferença é que quando Messier enquadrou M 30 em seu telescópio gregoriano com 150 mm de diâmetro e 104 X de ampliação  ninguém nunca o tinha feito antes. M 30 é um objeto original de Messier. Uma descoberta sua.
                Ele escreve: " A noite de 3 a  4 de agosto 1764  ,  descobri uma nebulosa abaixo da cauda de Capricórnio e muito próximo de uma estrela de 6a  "grandeza" . A quarenta e um desta constelação segundo o Catalogo Flamsteed : é difícil  ver esta nebulosa com um telescópio comum de três pés (distancia focal)  ; ela é arredondada e ali não vi nenhuma estrela: Eu a examinei  com um bom telescópio Gregoriano que amplia 104 vezes ( esta é uma frase recorrente no texto de Messier. Parece ser seu telescópio favorito), ela pode ter um diâmetro de 2 minutos.  Eu comparei seu centro a estrela Zeta de Capricórnio , de 5a magnitude, & determinei sua posição...  Esta nebulosa foi marcada  sobre a carta  do celebre Cometa de Halley  que observei em seu retorno em 1759."
                Sua descrição é rica em detalhes e demonstra claramente como seus equipamentos eram modestos. Embora M 30 não se resolva no Newton ( um telescópio newtoniano de 150 mm de diâmetro , o mesmo que  Messier) com 120X de aumento algumas estrelas comparecem. Especialmente as de seus cornos.  Este me parece ser um dos mais interessantes traços de nosso globular. Ele é um Globular "com chifres". Não poderia estar mais bem parado do que em Capricórnio. Ele é , indubitavelmente, o "DSO simbolo" desta constelação.
                Smyth em seu "Cycles of Celestial Objects"  e com equipamentos quase cem anos mais desenvolvidos ( ele possuía Refrator Tulley  de 5.9 polegadas) já fala em "duas linhas ou colunas de quatro ou cinco estrelas " pertencentes ao globular.
" Um belo aglomerado branco e pálido, sob a barbatana caudal  da criatura e a cerca de 20o oeste-noroeste de Fomalhault, aonde precede 41 Capricorni , uma estrela de 5a magnitude , a menos de 1o. Este objeto é brilhante e a com  fluxos dispersos de estrelas na sua borda norte , possui um aspecto elíptico, com forte brilho central: existem outras estrelas envolvidas e algumas "outliers". "
                Smyth ainda destaca que o aglomerado foi primeiro resolvido por William Herschel em 1784 utilizando um Newtoniano de 20 pés (Distancia focal) .
                Posteriormente diversos autores mais modernos percebem  os "fluxos dispersos " da banda norte. São os  chifres de M 30.   Hartung os chama de dedos ( fingers) e posteriormente O´Meara se refere a chifres ( horns). 
                Em seu "Deep Sky Companions; The Messier Objects" O´Meara coloca M 30 como residente de Sagitário. Deve ser  um erro de impressão.
                Neste ele destaca que perceber os "chifres" de M 30 visualmente é o grande desafio a ser enfrentado por amadores em modestos telescópios.

                Localizar M 30 não chega a ser muito difícil.  Mas   Capricórnio não tem estrelas muito brilhantes e achar Zeta Cap pode ser duro em regiões com poluição luminosa. Desta localizar 41 Cap não é tão complexo com auxilio óptico. E dai para M 30 é mais um passo... Sua magnitude é de 6.9.
                Com pequenos aumentos M 30 é apenas uma área esfumaçada sem nenhuma resolução. O observei em noite de transparência bem ruim e não o percebi pela buscadora ( 8X50) .  Com 46X eu começo a desconfiar que ele pode ser resolvido. E com 120X percebo os chifres mas não consigo resolver o aglomerado completamente. Como M 30 sofreu um colapso em seu núcleo suas áreas centrais são muito povoadas e resolver sua parte central é tarefa dura mesmo pra grandes telescópios.
                M 30 cresceu muito desde aquela noite em agosto de 1764. Hoje em dia ele tem 12´ de diâmetro aparente. Os espelhos e lentes melhoraram bastante desde então.  E assim estando ele a  26.700 anos luz este se espalha por 93 anos luz de diâmetro. 

                Fotografei  M 30 sem grandes compromissos mas ele e seus chifres se revelam mesmo com umas poucas exposições curtas em noite de transparência ruim.  
                M 30 é a "cara" de Capricórnio. E um dos mais ingratos objetos para quem realiza Maratonas Messier. Você terá que lutar contra o sol nascente...



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