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sábado, 21 de outubro de 2017

M 31 - A Grande Galáxia de Andrômeda

             

         Por uma daquelas coincidências que nada tem a ver com as leis fundamentais do Universo eu fotografei, pela primeira vez com alguma dignidade, a Galáxia de Andrômeda (M 31) as vésperas da divulgação do primeiro registro visual de uma junção de duas estrelas de Nêutrons. Tanto a galáxia como a junção têm relações diretas e são responsáveis por muito do que sabemos sobre as tais leis fundamentais. E são dois marcos históricos de gigantescas proporções para o que hoje sabemos sobre o universo em que habitamos e para outras questões que parecem nos acompanhar desde sempre e provavelmente para sempre (Tipo: De onde viemos? Para onde vamos? A Vida, o Universo e Tudo Mais...). Quando compreendemos as implicações do entendimento de tais estruturas e suas relações com o universo entendemos porque a resposta para tudo isto não é 42. Embora a piada seja boa... ( http://www.independent.co.uk/news/yes-the-answer-to-the-universe-really-is-42-1351201.html )
                Mas enquanto observar a colisão de Estrelas de Nêutrons e confirmar a  existência de ondas gravitacionais (e a relatividade) seja algo inalcançável para astrônomos amadores (dá para tirar uma casquinha aqui:  https://www.ligo.caltech.edu/page/press-release-gw170817 ) , ,mesmo que milionários, M 31 é um alvo ao alcance de qualquer mortal. Mesmo sem telescópio ou sem residir no meio de um deserto. A Galáxia de Andrômeda é o objeto mais distante visível a olho nu de nosso planeta para 99,99% da população. Uma pequena parcela dos outros 0,01% vão se digladiar entre M 83 e o par galáctico formado por M 81 e M 82. Difícil acreditar. M 33 que é apenas um pouco mais distante que M 31 é possível, mas, somente em locais extremamente escuros, para olhos bem acostumados e que saibam onde e pelo que procurar (evidentemente sendo você um membro da parcela realista daqueles 0,01 % da população mundial e que já gastou inumeráveis noites tentando capturar M 83 a unha).
                Mas como em fim consegui um registro fotográfico aceitável de M 31 (as coisas estão ficando difíceis para astro fotógrafos amadores “duros”. Sem sistema de acompanhamento e sem câmera dedicada tá complicado de acompanhar a evolução da coisa...) resolvi aproveitar as coincidências e apresentar uma das Grandes Damas do Céu. Confesso que há tempos aguardava por esta oportunidade. Não sem receio. M 31 é um marco para qualquer amador e uma das mais longas histórias que habitam o céu. Uma dama que merece respeito e completude.
                Durante a primavera o horizonte norte do céu conta uma das mais conhecidas e belas histórias nos legadas pelos gregos. Não à toa já foram realizados diversos remakes Hollywoodianos da mesma. Recordo-me garoto da imensa fila que peguei para ir (creio que pela primeira vez sozinho) ver no Cinema Leblon a versão de 1981 de “Fúria de Titãs”.  Neste uma versão pouco fiel da mitologia é contada. Na lenda grega original Cepheus (da bela “Estrela Carmim” Mu Cephei) se vê obrigado a dar sua filha Andromeda em sacrifício para salvar seu reino do terrível monstro Marinho (na versão cinematográfica o Kraken) que é representado pela constelação atual de Cetus (de M 77 e Mira) devido as bobagens e ofensas feitas por sua mãe, Cassiopéia (uma constelação cheia de aglomerados abertos e muito baixa no horizonte do sudeste do Brasil...)  às Nereidas (Filhas de Poseidon). Perseu (constelação lar de M 34) desafia Poseidon para salvar a princesa e no caminho mata a Medusa (representada nos céus pela estrela variável Algol) amansa o Cavalo Alado Pegasus (outra constelação cheia de galáxias escondidas) e salva Andrômeda.

                Ao olhar-se para o horizonte norte no mês de outubro um dos asterismos mais evidentes será o “O Quadrado de Pegasus”. Formado pelas estrelas Markab, Scheat, Algenib e Alpheratz (esta é na verdade Alfa Andromeda) é fácil perceber a nordeste da última um pequeno esfuminho. Uma “pequena nuvem”. É M 31.  Não é difícil imaginar uma linha ligando as estrelas que formam a constelação de Andrômeda como o penhasco onde nossa pequena e branca dama se encontra acorrentada e entregue a seu destino. E menos ainda o Cavalo Alado se aproximando por cima deste com Perseu indo em seu resgate. Bem... Talvez seja necessária alguma imaginação. Mas com o tempo você vai se acostumar. Há milênios boa parte da humanidade o faz. É interessante ressaltar que a princesa embora branca era de onde hoje se encontra a Etiópia. Jodi Bowker a representou na versão primeira do cinema.

                A história de M 31 é uma das linhas mestras por onde evolui tanto a tecnologia como o conhecimento astrofísico da humanidade.  
                Embora seja evidente que em tempos pré-telescópicos (e antes da luz elétrica) a pequena nebulosa era claramente visível e deve ter sido percebida por nossos antepassados desde a pré-história não existem registros evidentes destas na maior parte das culturas e civilizações antigas.  
                As descrições e explicações antigas dos fenômenos astronômicos e/ou celestiais eram em parte mito em parte teologia. Os céus eram vistos como um playground dos Deuses. Em quase todas as culturas as constelações, padrões de estrelas brilhantes e planetas eram Deuses ou Entes Mitológicos lá colocadas por ordem de um Deus maior. No Caso de Andrômeda por Zeus... Neste cenário nebulosas, novas e supernovas fogem muito do status quo e da ideia de um céu eterno para serem levadas em conta.  E assim M 31 ficou relegada a apêndice ou nem mesmo a isto entre os “primeiros astrônomos” (que eram mais conhecidos como astrólogos...).
                Antes da invenção do telescópio mesmo nos grandes “observatórios” (como Uraniborg de Tycho Brahe) ninguém podia ter uma visão ampliada da Lua e suas crateras. Júpiter era uma “brilhante estrela” que caminhava de forma errante pelo firmamento, mas não possuía luas. Vênus não apresentava fases...  O céu era limitado ao que os olhos podiam ver. A grosso modo (e para 99,99% da humanidade) isto significa estrelas de até 6a magnitude.  Um local pequeno e nebuloso de 4a magnitude não seria exatamente foco de muito debate ou de vários registros.
                Além do gregos diversas culturas nos deixaram registros de estarem familiarizadas com a região do céu aonde habita nossa grande dama. Em petróglifos de diversas etnias indígenas norte americanas as regiões que incluem as atuais constelações de Perseu, Cassiopéia, Pegasus Leão e consequentemente Andrômeda apresentam registros. Os chineses, egípcios e outras culturas pré-históricas também conheciam bem a região e deixaram registros disto. Mas da nebulosa em si não. 
                Há, entretanto, uma possível referência a esta em uma taboa babilônica datada de algo entre 2500-3000 A.C. Nesta existe fala-se de uma constelação semelhante a um veado ou a um cavalo. Isto parece semelhante a Pegasus. Esta tabua então faz referência a “estrelas empoeiradas que estão nas tetas do Cavalo” Supõe-se que esta seja a primeira referência conhecida de M31. E que o cavalo visto pelos babilônicos era uma égua...
                Embora os gregos tenham criado a lenda não existem descrições ou relatos gregos sobre as constelações ou sobre a nebulosa.  C.M. Bowra, diretor do Colégio Wadham em Oxford, no seu “A Experiência Grega” ressalta que os Gregos, que deram a humanidade os seus mitos mais bem imaginados, tornaram-se eles próprios quase um mito... Quase tudo quanto é helênico foi tão transfigurado, através de séculos inteiros de louvores, que é difícil ver os gregos com um olhar puro ou conhecê-los como realmente foram. O processo começou na altura em que os Romanos, conscientes de seus princípios, um pouco rudes, elevaram os Gregos à categoria duma raça de artistas e de filósofos e não foram capazes de ver que a arte e a filosofia não podem ser totalmente compreendidas, separando-as das condições que a criaram.
                Desta forma a donzela de nosso mito tem sua descrição Grego Romana feita provavelmente por um romano e não por um grego...  O Poeta Festus Avienius (circa 400 A.C.) fala de uma constelação acorrentada e cita que nuvens finas amarram seus braços com nós torcidos”. Avienius traduziu para o latim o texto de Aratus (270 A.C.)  “O Céus e Previsões do Tempo” onde este apresenta todas as constelações. Mas apesar de apresentar claramente as Plêiades nada é dito sobre M 31 embora toda a constelação seja citada.
Al Sufi

                Para desespero da bancada evangélica o primeiro registro acima de qualquer dúvida de M 31 cabe a Al-Sufi (astrônomo muçulmano...) em seu “Constelações de Estrelas Fixas” (964 D.C.) Em sua representação da Constelação de Andrômeda ele inclui a nebulosa como as narinas de um peixe. Ele chama M 31 de “pequena nuvem”.
                Posteriormente na versão latina (a versão original não a cita) do Almagesto de Ptolomeu uma mulher e um peixe são novamente utilizadas para representar a constelação e M 31 é representada não pelas narinas do peixe, mas como uma pequena mancha logo abaixo do nariz.   
Almagesto Latino

                Durante a Idade média a região foi diversas vezes citada como “um local nebuloso”. Um mapa holandês de 1500 destaca sua existência, mas nada é dito a respeito. Hodierna, Astrônomo da corte do Duque de Montechiaro, carrega a honra de ter redescoberto a Galáxia de Andrômeda e ter escrito o que pode ser considerado o Primeiro catalogo de Nebulosas da Humanidade. De Admirandis Coeli Characteribus. Neste ele divide as nebulosas em três categorias: Luminosae, Nebulosae e Occultae. M 31 se situa na terceira.  Isto em 1654.
                A primeira observação telescópica de M 31 é anterior a Hodierna e a “pole-position” vai para Simon Marius na noite de 15 de dezembro de 1612.  Sua descrição é bem acurada e semelhante ao que se percebe em atuais telescópios de origem suspeita e pequenas buscadoras.  “parece com a luz de uma vela sendo difundida através de um chifre (pratica comum na época) ...assemelhasse a uma nuvem consistindo de 3 raios esbranquiçados, irregular e tênue.” A descrição é bem descritiva e precisa.  
                A história segue seu ritmo com o avanço da tecnologia e dos telescópios Cada vez se percebem mais detalhes em M 31. Mas nada sobre sua real natureza.
                Halley a observa em 1716 e nos diz: “nada além de luz vindo de um extraordinariamente grande espaço no éter, através do qual um meio luminoso é difundido e brilha com seu próprio esplendor.”
                Depois disto chegamos a La Gentil em 1742 que destaca a existência da sua pequena vizinha e que virá a ser M 32.
                Messier finalmente a inclui em seu catalogo em 3 de agosto ,1764. Nasce M 31. Em sua descrição podemos perceber que já trata-se de uma nebulosa de grande reputação e bem conhecida: “A linda nébula na cintura de Andrômeda, na forma de uma agulha de fiar; M. Messier a examinou com diferentes instrumentos e não identificou nenhuma estrela: Recorda dois cones ou pirâmides de luz opostas por sua base, o eixo das quais se orienta na direção de Noroeste para sudeste; as duas pontas ou vértices se encontram afastados 40 minutos de grau. E a base comum das pirâmides 15 min.  Esta nébula foi descoberta por Simon Marius em 1612. M. le Gentil nos deixou um desenho desta no “Memoirs de L´academie” de 1759. Foi reportada no “Atlas Inglês” (?)”. 
                       Por "Atlas Inglês" eu suponho que Messier se refira ao trabalho de Flamsteed " Atlas Coelestis"´de 1729. Realmente existe uma pequena marca no local onde habita a galaxia. Muito discreta e não esta nomeada. Na verdade o único DSO nomeado  nos mapas de Flamsteed é M 45 (As Plêiades). 
Logo a direita de v andromedae já fora do desenho da Princesa. 
                       Cabe uma duvida se Messier não se refere neste momento ao mais raro Uranographia Brittanica onde também esta claramente marcada a nebulosa. E é fato notório que Messier teve acesso a este devido a citação posterior em M 35 sobre o raro Atlas. 
               
            Posteriormente Herschel a observa e denota que “as estrelas que estão espalhadas sobre a mesma parecem estar atrás da mesma e perdem parte de seu brilho ao passar pela nebulosidade”. O grande Herschel não captura a verdade. As estrelas de campo são membro de nossa galáxia e encontram-se muito a frente desta.
                Finalmente Lorde Rosse, antes ainda de seu “Leviatã de Parsontown”, faz em 1871 o primeiro desenho onde percebe-se claramente uma região central envolta em braços espirais.
Lorde Rosse desenho.

                Então, no final do século XIX, a forma de M 31 emerge e juntamente com esta as “nebulosas espirais” que vão ser palco de muita controvérsia e pedras fundamentais para o entendimento das dimensões e forma do nosso universo como hoje o conhecemos. M 31 será a mais fundamental destas pedras. É a “Nebulosa Espiral” mais próxima. É bom realçar que neste momento ela ainda não é entendida como uma galáxia.
                Até 1920 ainda não se tinha certeza ou prova que o universo não consistisse de apenas uma galáxia. No caso a nossa Via Láctea. A idéia de universos ilhas já caminhava entre nós a muito tempo. Giordano Bruno que o diga. Mas as mais consistentes idéias em defesa de que o universo era muito mais amplo do que imaginavam os astrônomos do final do século XIX e começo do XX (e quase todos antes disto) foram formuladas por Kant em seu “História natural universal e Teoria do Céus”. Neste ele defende que muitas de nebulosas que existiam nos céus eram sistemas iguais ou semelhantes a nossa Via Láctea. Isto em 1755. Kant é profético em suas previsões e propõe a existência de planetas além de Saturno 27 anos antes de descobrirem Urano. Sua ideia de Universos ilhas como outras galáxias só se confirma nos anos de 1920... Não é à toa que muitos consideram seu “Crítica da Razão Pura” (1781 e depois 1787) o livro mais importante já escrito no Ocidente.
De qualquer forma no final do século XIX era consistente com as observações acreditar que o universo era composto por uma única galáxia e que a equação “Via Láctea= Universo” seria verdadeira.
Na verdade, a Teoria de Kant foi batizada de “Teoria dos Universos- Ilhas” por ninguém menos que Edwin Hubble. Foi este que acabou de vez e provou que o universo era composto de diversas galáxias e que este era muito maior do que jamais sonhou a vã filosofia.  E M 31 esteve na linha de frente de todo este processo.
Mas de volta ao final do século XIX William Herschel foi um dos primeiros a realizar um estudo intensivo sobre nebulosas (juntamente com sua Irmã Caroline descobriu mais de 2400 DSO´s) e entre estas estava M 31. Inicialmente ele concordava com a maioria e acreditava que todas as nebulosas eram constituídas de estrelas e dado o equipamento necessário seriam resolvidas em estrelas (uma ideia que perseguiu a muitos desde Galileo). Eventualmente ele concedeu que talvez algumas nebulosas fossem parte gás. M 31 seria um destes casos. Mas mais importante ele calcula uma distância para a “Nebulosa de Andromeda”. De acordo com ele esta não estaria mais distante que 2000 X a distância de Sirius (Alfa Canis Majoris), a estrela mais brilhante do firmamento. 
Smith, em seu “The Cycles of Celestial Objects – Volume II- The Bedford Catalog” de 1881 dedica 3 páginas a M 31. Numa destas ele nos fala: ...Sir William Herschel, o Príncipe entres todos os examinadores da construção dos céus, nos dá um rígido escrutínio sobre este fenômeno e conclui que esta é a mais próxima de todas as grandes nebulosas. “Sua parte mais brilhante” ele nos diz, “ aproxima-se da nebulosidade resolvível e começa apresentar uma tênue coloração vermelha; a qual após diversas observações da magnitude e coloração da nébula me faz acreditar que indica que a parte mais colorida não exceda 2000 vezes a distância de Sirius”. Que não exceda esta distancia! Isto é tão distante de nós que a luz viajando190.000 milhas em um segundo de tempo ou doze milhões de milhas em um minuto vai requerer mais de 6000 anos para atravessar tão medonho intervalo. Para as velocidades terrestres, tão comumente citadas, a bala de um canhão , com seu passo de 500 milhas por hora não teria a chance de percorrer tal espaço e menos de 9 ou dez milhões de anos.   O que tão esmagadora ideia nos dá sobre a surpreendente mente do Todo poderoso.
Apesar de infinitamente pequena a distância calculada por Herschel é um aumento tão grande para a percepção geocêntrica e cristão do final do século XIX que chega a chocar. As distancias universais começam a ser medidas em anos luz no lugar de milhas ou quilômetros... O universo começa a expandir-se novamente.
 
3X Drizzle no DeepSkystacker+PixInSight 1.0+Photoshop
A foto que abre o post tem o mesmo tratamento mas somente 2X Drizzle no DSS. ( Não mais... A foto atual é fruto de um pós processamento realizado com o PixInSight 1.8. ) 
Astrônomos hoje em dia referem-se a M 31 como a Galáxia de Andrômeda. A M 33 como a Galáxia de Triangulo. A M 83 como “A Galáxia do Cata-vento Austral. E não mais como Nebulosas. Entre as ideias de Herschel, a constante de Hubble e o universo em expansão aconteceram alguns fatos notáveis.
A primeira delas foi a descoberta por Henrietta Leawitt da relação entre período e luminosidade de uma classe de estrelas conhecidas como “Variáveis Cefeídas” que permitiu que se pudessem medir distância estelares que estavam muito acima do método por paralaxe. Este pode até funcionar para objetos próximos como Sirius. Mas não para as “nebulosas espirais”. Na verdade, sua descoberta vai selar a sorte deste termo e transformar estas em galáxias...  A tecnologia e os telescópios neste momento ainda não tinham poder de fogo suficiente para resolver estrelas em Andrômeda. Mas ela consegue perceber variáveis nas muito mais próximas nuvens de Magalhães. E descobre que quanto maior é o período entre o brilho máximo e o brilho mínimo e variáveis Cefeidas, maior é o brilho absoluto da mesma.  Resta descobrir a distância de uma cefeida próxima o suficiente para se utilizar o paralaxe e “shazam” ...  Temos uma vela padrão para medir distancias estelares maiores que as permitidas até então.
Em 1920 0correu o “Grande Debate” entre Curtis e Shapley. Um (Shapley) defendendo uma imensa Via-Láctea enquanto o outro apoiava a ideia de universos ilhas. Shapley alega que se distantes estrelas (novas) forem de fato conectadas as nebulosas e possuírem brilho semelhante as estrelas de nossa galáxia isto implicaria que M 31 teria de estar ao menos 1.000.000 de anos luz de nós e esta possuiria ao menos 50.000 anos luz. Ele considera os valores impossíveis.
Ele não poderia estar mais errado. Embora o debate não tenha sido conclusivo a tecnologia ia resolver a questão e sendo a astronomia uma ciência a observação e a tecnologia iriam resolver de vez a questão.
George Hale foi o nome por trás da construção do Telescópios de 60 e 100 polegadas de diâmetro localizados no Mont. Wilson. Hubble pôs as mãos nestas belezinhas durante os anos 20. Sua dissertação era sobre astrofotografia e nebulosas. Ele se beneficiou da evolução das películas bem como do maior poder de fogo do telescópio de 100 polegadas concluído em 1917. Somando-se isto aos céus do Monte Wilson na época e as cefeídas de Henrietta não demorou muito para ele fotografar estrelas na “Nebulosa de Andromeda”.  Em outubro de 1923 tirou uma foto com 40 min de exposição de M 31.  Achou ter descoberto mais uma Nova e marcou com um “N” ao lado da foto. Depois o fato foi se repetindo e em vez de marcar com um “N” ele marcou com “Var”. (Variável). Fotografou as primeiras cefeidas em uma nebulosa espiral. Estas viraram galáxias e o universo se expandiu muito. Apesar de um erro de cálculo posteriormente corrigido Hubble descobriu que M 31 se encontrava a pelo menos 900.000 anos luz. Era uma nebulosa extragaláctica. Ou melhor, outra galáxia. Anos se passaram, as contas foram melhorando, a tecnologia também e Hubble descobriu que o Universo não só era maior do que se imaginava como estava se expandindo. E tudo começou fotografando M 31.
63 exp. X 3 seg + 1 Exp 1 min 1600 ASA. A foto foi processada no DSS sem drizzle e posteriormente teve seu gradiente de fundo melhorado no Pix In Sight bem como curvas foram aplicadas. convertido de TIF para Jpeg no Photoshop. Tratamento bem simples . É a foto mais semelhante a o que se deve esperar ver em uma ocular de cerce de 32 mm. 

                Para o astrônomo amador que reside em local de forte poluição luminosa M 31 vai se apresentar junto a buscadora como um grande globular sem nenhum sinal de resolução. Na verdade, você vai perceber somente seu núcleo. Mas este é muito resistente a poluição luminosa e será facilmente percebido mesmo em locais de extrema poluição luminosa. Esta será percebida a olho nu mesmo em subúrbios claros (Bortle 7). Navegar até ela é muito fácil e com o auxilio de qualquer programa planetário ou atlas celeste mesmo o iniciante chegará facilmente a esta mesmo em cidades grandes. É um alvo ótimo para binóculos.
                Entre as observações modernas de M 31 a que mais me agrada e que considero a melhor e mais realista foi apresentada por Luginbuhl & Skiff no seu “Observing Handbook e Catlogue of Deep Sky Objects” (1990): “M 31 é um a grande, muito brilhante galáxia do Grupo local. É visível a olho nu mesmo em noites medíocres e com a luz do luar. Em locais escuros sua extensão apresenta um incrível contraste com o primeiro plano estrelado. Uma muito tênue estrela (6.9) na sua ponta sudoeste é um excelente teste para adaptação ao escuro e qualidade do céu. Em condições ideais a galáxia se estende além desta; o que implica em perceber-se uma extensão de 3 ½ o. Com um telescópio de 6 cm apresenta-se um halo de 135´, mas o halo externo é fraco e não possui limites definidos. O halo contém algumas fracas condensações, mas o núcleo se apresenta liso e bem concentrado. Com 15 cm revela-se um halo de 120´´X20´ com um pronunciado núcleo com 10´ de diâmetro. Uma faixa escuro a noroeste do centro pode ser vista sem dificuldade com alguma bruma além desta. Com 25 cm o halo possuirá 140´X40´. A região central do núcleo é bem circular e parece opaca no centro como outros objetos que não se resolvem e com grande brilho de superfície ( ex. M 87 em virgo) . A faixa escura do lado NO é mais distinta conforme passa pelo núcleo mas é claramente visível se estendendo par sudoeste e passando por duas estrelas alinhadas NE-SO. Cerca de 15´do centro. Duas faixas mais indistintas são perceptíveis. Uma mais a NO e outra ao longo do lado SE.” A descrição continua com um aparelho de 30 cm..., mas esta parte eu vou passar. Começa ser possível percebere-se diversos globulares de M 31. Bem com agrupamentos estelares e regiões HII. Ngc 206 é o mais evidente destes e ao alcance de telescópios mais modestos.
Desafios em Andrômeda. 
                     Não poderia deixar de apresentar como prova de que M 31 é um alvo perfeito para qualquer mortal sua apresentação no delicado "Astronomy with an Opera Glass" de Serviss. Neste ele nos fala: " Esta é a mais antiga ou a primeira a ser observada nebulosa e , colocada de lado a Grande Nebulosa de orion (M 42), a maior visivel deste hemisfério (norte). Claro que não muito deve ser esperado de um binóculo de ópera  na observação de tal objeto; e ainda assim um bom binóculo , boas condições climaticas e a ausência da lua faz desta um belo espetáculo. Olhando de rabo de olho a nebulosa pode ser vista como uma tenue e fina luz muito alongada de ambos os lados de seu nucleo. " Curiosamente serviss fala também da supernova de 1885 mas afirma que esta não poderia estar fisicamente relacionada a nebulosa em si.


                Observando de Búzios em céus bastante poluídos pela iluminação publica a faixa escura a noroeste é juntamente com o núcleo a parte mais óbvia e o detalhe mais difícil discernível. O núcleo é grande e liso. É curioso Herschel ter achado este no limite da resolução. Mesmo Hubble não conseguiu este feito. Isto coube a Walter Baade já em 1944. Que se aproveitou de novas emulsões fotográfica bem como dos apagões causados pela segundo guerra mundial. Há males que vem para bem... 

                  M 110 é facilmente percebida visualmente. M 32 também, mas mais próxima a matriz e com alto brilho de superficie demanda atenção para não ser confundida com uma estrela de campo. Ngc 206 é apenas uma suspeita nas fotos. 


                Minhas fotos aqui apresentadas são bem mais modestas embora se aproveitem de tecnologias digitais que seriam impensáveis na época de Hubble.  Com 32 minutos de exposições de 30 segundo somadas consegui algum detalhamento mesmo sob céus bastante medíocres durante o último feriado. As fotos aqui apresentadas foram realizadas na sexta feira 13 de outubro de 2017. O equipamento utilizado foi uma Canon T3 e uma lente Canon EF 75-300 mm @250 mm. Montada sobre uma cabeça equatorial HEQ 5 pro da SkyWatcher. Foram realizadas 63 fotos com 30 segundos de exposição e 1 com 1 minuto ( um total de 32 minutos de exposição) com ISO 1600 em RAW. Foram realizados também 15 dark frames para calibração das imagens. E diversos softwares foram utilizados no processamento destas (quase todos freeware) . Isto prova que M 31 apesar de toda sua importância histórica e cosmológica (e também por isto) é um alvo ao alcance da maioria dos mortais. Mesmo fora daqueles 0,01 % da população já citada. Céus escuros tem muito mais peso que a dimensão de seu equipamento (evidentemente respeitando as leis da física e o bom senso).  

         Espero revisitar M 31 em condições ideais ainda nesta primavera e realizar mais exposições e de maior duração. A vantagem de utilizar uma lente no local de meu telescópio é que os 1200 mm do "Newton" demandam alguma forma de acompanhamento. Já com 300 mm um bom alinhamento polar e um acompanhamento feito a moda antiga (utilizando o telescópio para guiar) exposições bem longas serão viáveis. Além de que cobrindo mais de 4 graus de firmamento meu telescópio não engloba  toda galaxia e suas satélites.

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