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domingo, 30 de setembro de 2012

Celestron Skymaster15X70 e o Paradoxo de Newgear



Existem certas coincidências que parecem ser um efeito colateral das Leis mais Fundamentais do Universo.
Depois desta bombástica declaração eu gostaria de apresentar como prova disto o fenômeno  batizado de “O Paradoxo de Newgear”.

O “Paradoxo de Newgear” consiste em que sempre que alguém adquire uma ferramenta que vai permitir ampliar o conhecimento astronômico deste mesmo alguém o universo conspira para proteger seus segredos. O fenômeno é assim: sempre que algum tipo de equipamento óptico destinado a observação astronômica chega as mãos de um astrônomo o clima do planeta conspira para que este não consiga observar nada por um longo período.

Evidentemente isto se trata de uma coincidência que não tem relação nenhuma com leis fundamentais do universo. Ou ainda pode ser associado a um problema causado por um projeto descrito na obra magna de Douglas Adams . 

 O Paradoxo de Newgear aguarda ainda uma prova definitiva.

Enquanto isto não acontece  podemos rebaixa-lo a uma simples maldição...  Teria sido lançada por um padre obscuro convidado a olhar os satélites Jovianos no sec. XV.

De qualquer forma, com a chegada de meu novo Binóculo, o Paradoxo de Newgear e a maldição do padre obscuro marcaram uma reunião aqui no Rio de Janeiro e eu fiquei a ver navios.

O Celestron Skymaster 15X70 mm chegou em uma tarde de segunda feira. Foram exatos 20 dias desde a encomenda. Creio que seria justo dar creditos a loja virtual que realizou a operação. Ela tem o nada poético nome de “AdoroComprarOnline.com” e pode ser acessada em www.adorocompraronline.com. Para fazer justiça foi a loja brasileira que ofereceu o melhor custo beneficio na operação. O preço do binóculo, sem frete, é de R$ 239,69 pagando-se a vistahttp://adorocompraronline.com/produto/Bin%F3culos-Celestron-Skymaster-15x70-Gigantes-com-adaptador-trip%E9.html.
Um pouco mais de US$ 120,00.  Seu preço na Amazon é de US$ 82,99.  Como a Amzon não entrega binóculos no Brasil percebi que um novo tipo de negócio vem proliferando pela Internet. Um camarada que tem um “primo” residindo nos E.U.A .Compra equipamento em lojas americanas  ,envia para  o endereço de seu primo , em geral Miami, e este despacha a bagaça de lá. Não sei com lidam com a alfândega brasileira.
Com ou sem jeitinho meu binóculo chegou embalado (poderia estar mais bem embalado) e em perfeitas condições.
O pacote é bem grande. Com o auxilio de um estilete abro e boto os olhos na peça.
Vem acompanhado de uma valise de lona e com uma correia relativamente fina. São itens da barganha. A alça terá de ser substituída por uma mais larga a menos que deseje ter um corte em seu em seu pescoço após uma sessão mais longa.
O Celestron Skymaster 15x70 é o que se chama de binóculo gigante. Seu caráter astronômico é obvio.
Trata-se de um Binóculo porro-prismático. (Bak-4) Suas lentes e prismas são “multicoated”. Com uma saída pupilar de 4.7. Um eye relief (descanso visual seria uma opção a este anglicismo. Mas não seria tão exato...) de 18 mm ele é bom amigo de quem usa óculos. Imagine que se trata de algo semelhante a dois telescópios com 300 mm de distancia focal calçando oculares de 20 mm. Ele pesa “apenas” 1361 gramas.  Não chega a ser pesado se você ver o tamanho do bruto.  Com este tamanho ele cabe direitinho em minha mochila e acredito que será um bom companheiro de viagens e visitará céus bem escuros...
Pesquisei bastante antes de comprar este binóculo. Afinal é provavelmente o ultimo que pretendo comprar. E como já possuía três binóculos “pequenos” (um Vanguard 10x50, Um Sumax 10X50 e Um Zenith 20X50) era obvio que eu queria algo para substituir meu antigo“Trucuçu”. Este um Binóculo gigante de 80 mm. Com lente ‘Mercúrio Cromo coated” eu dei ele de presente para meu tio.
Ele é o binóculo mais vendido na Amazon e em todos os reviews que vi ele foi considerado o melhor custo beneficio que existe com boa margem de vantagem.  Mesmo com o “custo Brasil” ele não chega a ser caro. E eu não queria pagar 300 reais e depois ficar com aquele sentimento de que rasquei dinheiro. E como eu já possuo um telescópio de 70 mm não haveria porque buscar por um telescópio nesta faixa de preço e tamanho. Se um dia comprar outro refrator será muito mais caro que isso...
O bino é “Multi- Coated”. Isto significa que ao menos uma das suas principais superfícies ópticas é recoberta por diversas camadas de Fluoreto de cálcio ou de magnésio. Isto garante um excelente tratamento antirreflexivo e um aumento da transmissão de luz. Lembrando que se trata de um binóculo barato...
O Celestron revelou-se bem versátil. Devido ao Paradoxo de Newgear me peguei observando gaivotas e urubus em sua jornada diária em volta do Morro dois Irmãos. Com um campo de visão de 4.4º ele é muito mais versátil que 20x50. E apresenta imagens mais claras e é muito mais confortável devido a seu eye relief.
Agora vamos falar de peso. Um binóculo gigante (maior que 60 mm) é sempre lembrado como um monstro que só funciona com o auxilio de tripés. O Celestron vem com um adaptador plástico para permitir seu uso com tripés fotográficos. Não é um adaptador “top de linha”, mas faz seu serviço. E de qualquer forma o binóculo é perfeitamente utilizável sem tripé. Na verdade utilizando-se ele com alguma forma de apoio ou mesmo utilizando-se uma cadeira de praia ele é perfeito para o uso se tripé. Mesmo minha filha, com nove anos, é capaz de mira-lo com eficiência. Em sessões mais longas é necessário um pouco mais de força. Eu possuo 92 kilos e 1,80. Sou capaz de utiliza-lo em pé e por mais de 30 minutos sem sofrimento.
Quanto a seu eye relief o Skymaster é o melhor equipamento que possuo. Nunca consegui observar bem utilizando meus óculos. Com ele é moleza. Seus 18 mm de eye relief são mais que suficientes.  Este ponto é definitivamente um ponto fortíssimo no binóculo. É, disparado, o aparelho mais confortável para se observar que já usei.
Não observei nenhuma aberração cromática com o aparelho.
Sua parte mecânica funciona de maneira satisfatória e o foco tanto na ocular como no anel central se revelam suaves e precisos. 
Ha diversos casos de pessoas que reclamam da colimação do Skymaster 15X70. Existe inclusive um tópico a respeito no (incompleto) manual que acompanha o produto. Eu não tenho do que reclamar. Tudo no esquadro...
É claro que o brinquedo possui algumas limitações. Afinal com 250 reais não se pode ter tudo.    
A imagem nas bordas se torna levemente fora de foco.
A corrente que acompanha é péssima. E o adaptador para tripés e bastante sofrível. O manual é muito incompleto. Conta-se que é de difícil colimação. E a garantia só é valida nos E.U.A. e Canadá.  
Mas não achei nada que comprometa. Os últimos itens são evidentemente formas encontradas pela fabrica para locar recursos em partes mais importantes do pacote.
Na categoria "binóculos baratos” este é um seriíssimo candidato a premio de melhor custo-benefício.
Li um review realizado por Phil Harrigton, autor da coluna Binocular Universe durante anos e agora no Cloudy Nights, comparando o Skymaster com um Fujinon 16X70. Embora o Fujinon tenha vencido em todos os quesitos o próprio Harrington diz que não se trata de um massacre e que levando-se em conta os preços os Celestron não deveria deixar de ser considerado .Um Fujinon 16X70 esta custando US$712,00 na Amazon. E mais de US$1000,00 em outras lojas...
Agora vamos ao que mais importa.
Apesar do Paradoxo e da maldição fiz o primeiro uso do binóculo na noite de 27 de setembro. Uma noite medonha.
Mas consegui, ainda que por pouco tempo, dar uma passeada próxima a Achernar.
Já no primeiro vislumbre percebi muito mais estrelas do que normalmente. Afinal 70 mm é muito mais que 50... E assim estrelinhas que normalmente não dão as caras se apresentaram prontamente.
Fiquei um tempo com Achernar ali parada. Como se trata de uma estrela bem brilhante fiquei passeando com ela pelo campo para tentar perceber alguma aberração cromática ou distorções de algum tipo. Tudo perfeito.
A partir de Achernar segui o Rio Eridanus. Mesmo sendo uma constelação com estrelas relativamente tênues com os 4,4º de campo e com os 70 mm de diâmetro nunca tinha navegado tamanha extensão dele a partir de minha janela. Achernar é sempre bela, mas com o 15X70 é um campo interessantíssimo. Ela fica emoldurada por diversas estrelas de cerca de 6 mag. que são muito claras com 70 mm. E suas parceiras são bem avermelhadas oferecendo um belo contraste com o brilho branco azulado de Achernar uma gigante, ainda jovem, da classe B.  
Apesar da noite e de Newgear ter soltado os cachorros ainda consegui fazer um rápido tour por Phoenix Apesar de ser uma constelação menos conhecida ela apresentas muitas estrelas interessantes.  Mas por hoje basta dizer que o melhor da noite foi Beta Phoenix. A posteridade é ingrata com ela, pois apesar de bem brilhante lhe deixaram sem nome próprio. Ela faz um belo par alaranjado (ótico) com BSC HR 299. 
Depois disto ainda tentei algo, mas finalmente o Newgear fez um ultimo esforço para confirmar sua teoria e a primeira noite acabou por ali. 
Passam-se dias e finalmente o tempo abre pelo Rio de Janeiro. E aí a Lua é cheia.
Mas o Skymaster se mostra a altura do desafio. Não se esqueça de acrescentar a já natural poluição luminosa das 19h00min a tal Lua Cheia.
Escorpião vai alto ao céu e em boa posição para ser inspecionado de minha janela.
O Campo de Provas


Aponto para Antares focalizo o binóculo. Poucos segundos e percebo M4 claramente. Mesmo com visão direta. E o Skymaster faz seu primeiro ponto.
Vou me dirigindo para a cauda e paro para dar uma namorada na bela dupla Mu Scorpio. Ambas esbranquiçadas e de magnitude semelhante.
Seguindo rumo a leste e a curva natural na cauda do escorpião chegamos a uma das áreas mais interessantes do céu. Uma coleção de aglomerados abertos se esconde entre Mu  e Zeta Scorpio. A partir de Mu o Skymaster vai identificando Ngc 6242. Este não chega a se resolver, mas é bastante evidente e creio que resolva-se em parte em condições um pouco melhores. Na verdade chego a resolver algumas estrelas individuais com visão periférica. Depois o falso cometa se apresenta e é possível se deliciar com o conjunto formado por Trumpler 24 e Ngc 6231(O falso cometa.). Zeta Scorpio é também uma interessante dupla e facilmente percebida mesmo a olho nu. No Skymaster a separação é enorme. 
Seguindo a ordem natural das coisas os próximos DSO´S a serem visitados são M7 e M6.
M7 e M6
M 7 foi feito para o Skymaster. Se resolve e cabe perfeitamente em seu campo ocular . M6 se resolve parcialmente. Mas se percebe o seu característico “shape” borboleta. Muito bonito. E de novo o Skymaster certamente conseguirá resultados melhores em condições mais dignas.
Depois disso pego meu bom e nem tão velho Vanguard 10X50 e faço exatamente o mesmo tour.
M4 não deu as caras. E o resto se mostrou bastante sem graça e em menos de um minuto e estava com Skymaster de novo nas mãos e inspecionado outras áreas do céu.  A foto abaixo deixa bem clara a diferença ...
Celestron Skymaster 15X70 e Vanguard 10X50
Mesmo com Alpha e Beta Centauros bem baixas já no horizonte o Skymaster vislumbrou, embora sem resolver nada, diversos aglomerados abertos bem modestos que se escondem por perto da dupla. Ngc 5617, 5316,5281 e 5662. Todos apenas como condensações. Mas claramente presentes. 5662 bastante obvio. Uma agradável surpresa.

Mais tarde  Tuc 47 e Ngc 362 mostraram sua cara no horizonte sul. Sempre mais escuro que os outros aqui na área. Tuc 47 se apresentou claramente e enorme mesmo com visão direta. E 362 , mesmo mais modesto, também não foi difícil de se perceber com direta. 

Testado apenas longe de condições ideais o Skymaster atendeu a todas as expectativas que eu tinha e mostrou-se exatamente o binóculo que eu queria. Acredito ter completado meu quiver binocular com a nova aquisição e espero ansioso a oportunidade de usa-lo sob céus verdadeiramente escuros.

Por fim eu acrescentaria  que o Skymaster é um excelente binoculo e que apresenta uma relação custo beneficio difícil de ser batida por qualquer equipamento astronômico. Apresenta muito poder de fogo para um binoculo e ainda assim não é pesado demais para impedir seu uso sem um tripé. É lógico que dependerá muito do observador e de sua condição física mas não creio que nenhum adulto saudável tenha problemas para utiliza-lo sem um suporte por curtos períodos de tempo. 
Sua capacidade de magnificação permite resolver muitos DSO`S que seriam apenas pequenas nuvens de luz em aparelhos menores. Claro que isto também devido ao diâmetro de 70 mm de suas lentes. 
Um excelente aparelho.




quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Uma Noite Nada Escura , Dois Binóculos e uma Galáxia


           

            Estou em espera. Um péssimo sentimento.
Encomendei um binóculo novo. Trata-se de um Celestron 15X70. Algo que seria chamado de um binóculo gigante. 
Sempre achei interessante observar com binóculos. Certos DSO´S foram feitos sob medida para eles. Logo de cara me ocorrem as Plêiades , Mel 111  ( o aglomerado da Cabeleira), IC 2602 ( As Plêiades do Sul), as Hyades, M 44 .
Como já falei esperar é um sentimento cruel. Me lembra uma criança na  véspera do Natal , da Páscoa , do Dia das Crianças . Trabalho de parto também me parece  um outro paralelo possivel .
Mas  é sentindo-me assim que  lembro de que a lua é quase nova e que já fazia tempos que não observava nada. E ha  mais tempo ainda que não tentava uma sessão mais séria e dedicada com meus binos. 
Mesmo com a Lua muito jovem as condições são bem extremas. Eu considero assim um  céu apresentando, na escala  Bortle,  notas entre  8 e 9  ( algo entre 3.45 e 4ª mag. a olho nu).
Depois de apagar todas as luzes que posso aguardo um pouco e com os olhos já mais aclimatados faço um rápido tour pelo horizonte sul do Rio de Janeiro. Achernar é a estrela mais evidente. Ainda bem baixa no horizonte Canopus não me inspira tanto. As discretas estrelas de Hydra se apresentam de forma muito tímida. A estrela mais tênue que percebo com certeza (e com visão periférica) é Beta Dorado. Com uma magnitude visual de 3.75 fica bem claro que a caça de DSO´s será feita em braile...
Mas a contrario da crença popular é possível “cavar bem fundo”.
Com a cabeça no novo binóculo eu pego dois de meus antigos da prateleira. Meu Vanguard “gringo” 10X 50. E minha “peça de antiquário”. Um Zenith 20X50.
Com um rápida consulta aoStellarium eu resolvo o que caçar. Quando observando longe de condições ideais é importante planejar bem sua derrota a fim de valorizar seu tempo. E no meu caso a janela que possuo para observar. E Janela , no caso , é mais que uma figura de linguagem. 
Como já possuo uma ideia do que me espera acho melhor começar a navegação de algo bem brilhante.   Meu primeiro farol será Achernar.
Binóculos são um desafio diferente. Com alguma experiência você vai sempre ter seu DSO ( Deep Sky Objects) dentro do campo. Se você vai ver é outra história. Novamente a experiência vai ajudar muito. Algo que é muito comum quando se observa com binóculos é confundir DSO pequenos com estrelas. E assim acabar não vendo um objeto que na verdade você viu. As pequenas magnificações binoculares podem enganar.
Usando o Stellarium existe uma ferramenta que vai permitir calcular a distancia angular da estrela original até onde você deve ir. Sabendo o campo de visada de seu binóculo é um chute relativamente simples se você tiver algum senso de orientação espacial. Como o programa não é uma representação perfeita do céu recomenda-se bom senso e algum sentimento. Observar o céu é legal porque mesmo sendo uma ciência  ainda assim  permite algo próximo a que se chama de" chute"... Ou você pode “setting circles”. Com uma cabeça equatorial que nem a minha (EQ 3-2) eu te desejo sorte. Nunca adaptei meu binos a nenhuma cabeça equatorial...A palavra que me vem em mente é torcicolo.

O campo do Vanguard cobre uma área de 7º graus. E assim parto em busca de meus primeiros ataques. Tuc 47 e Ngc 362.
O método é simples. Eu faço uma rápida avaliação no Stellarium, meço as distancias e saindo de Achernar pulo dois campos oculares para baixo e 1,5 campos para direita.
Eu sei que não é assim que se fala. Então vamos fazer direito. Desloque o binóculo dois campos para o sul e depois 1,5 para oeste.    
No caminho terei passado por Alpha Hydrus e Beta Hydrus.  Tuc 47 é sempre obvio. E no mesmo campo esta 362. Um pouco de atenção e lá estão os dois. É interessante ver dois globulares no mesmo campo e cada um apresentar aspectos  tão distintos. A comparação irmão maior e irmão menor seria de uma falta de imaginação tremenda. E uma injustiça.

Tuc 47 é o segundo maior aglomerado do céu. Mesmo visto com pequenas magnificações ele possui um tamanho considerável. O maior problema da poluição luminosa é diminuir o contraste entre o DSO observado e o céu no fundo. Mas utilizando-se de visão periférica o aglomerado se apresenta com mais de 20´ de arco.
Já Ngc 362 é percebido, com periférica, como pouco mais que uma estrela.  Com olhar atento percebo um leve esfumaçamento em suas bordas. Ele foi descoberto por uma figura recorrente neste post . Dunlop. James Dunlop.
Com o Zenith eles se tornam um pouco mais óbvios. Mas a imagem escurece muito e o pouco eye relief dele me irrita um pouco.
Como foi tudo bem resolvo tentar a sorte com outro brilhante globular. Ngc 6752. Com uma magnitude aparente de 5.4 eu acredito que ele será facilmente percebido.
Doce ilusão.
Voltado para o horizonte sudoeste e disputando o céu com as luzes do Vidigal ele consegue mostrar sua cara. Mas é apenas uma modesta aparição.
Ngc 6752 é, possivelmente, o DSO mais injustiçado de todo o firmamento.  Ele é o terceiro aglomerado mais brilhante do céu e cobre uma área de mais de 20´. Localizado em Pavo é um objeto bastante evidente e mesmo assim pouquíssimo comentado. Ele supera em muito M 13 e mesmo M 22. Fosse ele um pouco mais ao norte e seria cantado em prosa e verso.  Mas por um mistério para mim insondável ele só foi “descoberto” por Dunlop (olha ele aí de novo...) já no século XIX. Mais precisamente em 1826
É facilmente localizado se partindo de Alpha Pavo.
Novamente prefiro o Vanguard sobre o Zenith. È inegável a melhor ótica do Chinês...
A descrição de Steve Gotlieb através de um telescópio de 18 polegadas:
“... a 128 X este globular visível a olho nu (?) parece resolvido integralmente com incontáveis estrelas densamente agrupadas em uma grande região. Correntes no halo se estendem fazem da área superior a 20´. A região central é extremamente comprimida em um núcleo muito brilhante. Há um forte efeito tridimensional na região do núcleo... Este foi um de meus objetos favoritos da visita à Austrália.”
Agora já mais tarde e com o meus olhos bem adaptados tento fazer uma inspeção pela GNM. Mas sem nenhum sucesso. Nem mesmo a Tarântula  (Ngc 2070) eu consigo perceber. Ainda muito baixa no horizonte os efeitos do oceano e da poluição luminosa se combinam e tornam os objetos na Grande Nuvem impossíveis para os modestos 50 mm de meus binóculos.
Mas é evidente que a noite já vai mais escura. Já passou de 00h00min. E percebo que fazendo alguns malabarismos na janela eu posso tentar algo que é, em tese, uma perda de tempo.
Nasci sem medo de altura e graças a esta insensatez me debruço sobre a tela de proteção de meu apartamento (15º andar) e com o corpo todo para fora atinjo uma posição que me permite avistar Ankaa. Alpha Phoenix.  E consequentemente o Aglomerado de galáxias de Sculptor.
Galáxias são talvez os DSO´s que mais sofrem com a poluição luminosa. Talvez sejam nebulosas de reflexão. Mas não importa. A ideia parece ser errada. Mas como que não arrisca não petisca...
 O meu Plano é bem simples. De Achernar a Ankaa e depois um pouco além. Ngc 55.
E ela aparece claramente. Refaço o percurso diversas vezes e a pequena “estrela” enevoada se apresenta no mesmo local com consistência.  Três estrelas entre 6 e 7 magnitudes que apontam para a galáxia garantem a observação. São Elas Tyc 7524-793-1, Tyc 7524-756-1 (a mais brilhante das três) e Tyc 7524-qualquer coisa-1. São também conhecidas pelos singelos nomes de HIP 2001, HIP 1795 (a mais brilhante) e HIP 1667.

Com bastante concentração, uso de visão periférica e uma paciência de Jó a bela galáxia revela alguma coisa. Consigo perceber um esfumaçamento leve ao redor do seu núcleo estelar. Especialmente ao norte deste, em fotos fica bem obvia a razão disto... Ao sul percebe-se algo mais tênue. O efeito final recorda uma nebulosa planetária bipolar. É claro que se trata de um golpe.  Ngc 55 é uma bela galáxia irregular barrada... Burnham a compara a uma versão reduzida da Pequena Nuvem de Magalhães.

Tradicionalmente associada ao grupo de galáxias de Sculptor Ngc 55 é uma das galáxias mais próximas que não fazem parte do chamado Grupo Local.
É outra descoberta de Dunlop em 1826.
Apresenta uma magnitude de 8.00 e cobre uma área de 32´. Isto representa um brilho de superfície de 13.7.
O seu brilho de superfície é que a torna um desafio para os astrônomos urbanos.
Mas como pude descobrir e ao contrario do senso comum é possível observar-se galáxias em uma are de forte poluição luminosa e com o uso de binóculos 10X50.
5 graus 
O Zenith 20X50 não resolveu. Talvez também por ser mais difícil de conviver com um campo de apenas 3º sem o uso de tripé. O Zenith possui ainda um  eye relief muito pequeno é é necessario trabalhar com a ocular muito próxima a seus olhos . Isto além de incomodo leva a um acumulo de gordura e também a muita condensação. O Zenith é um binoculo mais adequado ao uso diurno.  
Depois de tudo só restava aproveitar a felicidade de ter localizado Ngc 55 e praticado algo tão comum em ciencias. Ir contra o senso comum é , muitas vezes , como ela avança. E assim aprender uma coisa nova. É possivel avistar galaxias , com binoculos, na cidade grande e por uma janela...
Abri um um Chardonnay californiano e bebi em homenagem a Dunlop. 

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Ngc 6231- A Caixa de Joias do Norte


Ngc 6231


  
Ascensão reta
16: 54(h:m)
Declinação
-41 : 48 (deg:m)
Distancia
5.9 (kly)
Magnitude aparente
2.6 (mag.)
Tamanho
15 (arc min)
Remexendo em meus arquivos achei uma foto que tirei há algum tempo atrás: Ngc 6231. Lembrei-me que jamais havia me dedicado , de fato,  a ele aqui no Nuncius Australis.  Espero reparar este equivoco horroroso neste post.            Localizado na dobra da cauda do Escorpião é um belíssimo aglomerado aberto. Um dos mais brilhantes do céu e um excelente alvo para qualquer tipo de equipamento. Me recordo até hoje do dia que fiz a  foto...

 O aglomerado foi primeiramente registrado por Hodierna antes de 1654. Mas como seu catalogo ficou perdido por muito tempo (seu trabalho só foi redescoberto  nos anos 1980´s) 6231 foi "achado" e listado em diversos outros. Halley o registrou em 1678, de Cheséaux entre 1745 -46, e o Abbe Lacaille o inclui em seu catalogo Sur les étoiles nebuleuses du Ciel Austral publicado em 1755. John Herschel ( o filho) o inclui em seu catalogo e assim ele acabou no "New General Catalog" e adquiriu seu  seu nome atual.  Posteriormente foi ainda batizado como Dunlop 499, Mellote 153, Collinder 315. O grande Patrick Moore o inclui em sua lista de maravilhas do céu profundo com o numero 76. 
Não acho que nem um dos fundadores da ciência astronômica tenha tido a intenção de negar a descoberta a Hodierna . Mas nos tempos pré-web a informação não circulava tão facilmente. Imaginem então antes do telegrafo... 
O tão formoso DSO é conhecido também como “Caixa de Jóias do Norte” devido à forma triangular que pode ser percebida em suas estrelas mais brilhantes.
Ngc 6231, em conjunto com Trumpler 24, forma um dos "falsos cometas” mais evidentes dos céus. Facilmente percebidos como uma nebulosidade a cerca de 30´   da espetacular dupla Zeta Scorpio (Zeta se encontra muito mais perto. Não faz parte do Aglomerado OB). Realmente uma das regiões mais espetaculares dos céus austrais.
 É aqui que reside a associação OB de estrelas super jovens de Escorpião.  Estrela do tipo O e B são as mais brilhantes , quentes e azuis que existem no universo. São também as de vida mais curta. Como falamos recentemente a respeito de evolução estelar podemos utilizar Ngc 6231 como exemplo de aglomerado ultra jovem. Ele não deve ter mais que 3.5 milhões de anos. Com mais de70 membros na classe O ele  pode até ter um pouco menos. Sua estrela mais brilhante é HD 151804. Uma das mais brilhantes conhecidas. calsse espectral O 8. 
O aglomerado reside no núcleo  e excita a gigantesca região H-II Gum 55.  Todos juntos no  braço espiral de Sagitário- Carina. Uma área extremamente dinâmica da Via Láctea.

É um dos primeiros DSO que observei. É facilmente percebido logo a lado de Zeta Scorpio e sua localização é bastante fácil. É um excelente alvo para astrônomos iniciantes e para pequenos telescópios. É um alvo facil para astrofotografia , já que seus membros são tão brilhantes que tornam o foco pelo viewfinder da câmera relativamente simples. 
O registro abaixo consiste de uma única exposição de 30 segundos. E algum tempo de Photoshop. Quanto ao  alinhamento polar ... 



Toda a região em volta de 6231 é salpicada por interessantes objetos. Imaginando o aglomerado como a cabeça do cometa que percebemos a olho nu, Trumpler 24 será a cauda. É um interessante aglomerado comprido. Flanqueando Trumpler esta uma nebulosa, IC 4628 e no outro flanco se percebe a nebulosa escura Barnard 48. Ngc 6242 também habita a área e seria sempre lembrado como um aglomerado espetacular caso habita-se outra vizinhanças. A área é perfeita para passeios binoculares.

As estrelas de Ngc 6231 são tão brilhantes que se localizadas a mesma distancia que as Plêiades                oito delas brilhariam mais que Sirius. Isto é um fato.
 Depois de contar os fatos  é dever contar as lendas.
 Reza a lenda que causariam sombras nas noites de lua nova...  
           

Bibliografia recomendada:
Bo Reipurth


quinta-feira, 6 de setembro de 2012

M 007 : Mais Evolução Estelar




No ultimo post do Nuncius Australis falamos sobre M 16, a Nebulosa da Águia. E sobre evolução estelar.  Apesar de o Nuncius ser devotado, sobretudo, a astronomia observacional achei que deveria aprofundar um pouco o tema. Afinal o assunto é fundamental para o entendimento de tudo que você observa.
Um péssimo habito que percebo em astronomia é a especialização em uma determinada área e tornar um pedaço da brincadeira na brincadeira toda.
 Acho que é importante que você leia o post sobre M 16 (clique aqui) antes de enveredar por este aqui. Afinal este aqui foi escrito porque devemos pincelar mais o assunto. E estes serão complementares. .
             É uma historia muito interessante.
             Agora evolução estelar...
            Os astrônomos vêm observando o céu há muito pouco tempo. Afinal em escalas cósmicas 10.000 anos e nada são valores muito próximos. Se considerarmos o uso de aparelhos científicos nesta equação o período que observamos é ridículo.
            A duração da história humana é incrivelmente curta quando comparadas ao tempo que estrelas demoram a evoluir.
            Mas apesar disto os astrônomos podem aplicar as leis da física sobre o que ele observa e com isto entender o ciclo de vida das estrelas. Graças a esse entendimento sabemos que os diversos tipos de estrelas que observamos no céu noturno são intimamente relacionadas. Elas parecem diferentes por se encontrarem em diferentes estágios evolucionários. Elas têm idades diferentes.
            Os diagramas H-R (vejam o texto sobreM 16) são a ferramenta certa para se entender como os astrônomos descobriram a história que nos conta a evolução estelar.
            Com a intenção de entender a evolução estelar é vantajoso que os astrônomos desenhem diagramas H-R com estrelas que tem aproximadamente a mesma idade. E isto é possível em se desenhando diagramas H-R de Aglomerados estelares individualizados. Um para cada aglomerado. Seriam como quadros extraídos de um filme e através deles entenderemos o filme todo.  O homem é o exercício que faz.
Aglomerados consistem de numerosas estrelas formadas na mesma região do espaço, da mesma nuvem de gás e com aproximadamente a mesma idade.
De posse destes diagramas de diversos aglomerados os astrônomos podem fazer um “composite”.  Esta é a melhor forma para se expressar os resultados finais da observação de diversos aglomerados.
No diagrama abaixo os diagramas H-R de diversos aglomerados são sobrepostos depois que eles têm sua sequencia principal alinhada.

Podemos perceber que alguns aglomerados, como Ngc 2362 e H e x Persei possuem a maioria de suas estrelas na sequencia principal. Já aglomerados como M67 e Ngc 188 apenas as estrelas de pequena massa e frias se encontram na sequencia principal enquanto muitas estrelas se encontram na região do diagrama dedicada os gigantes vermelhas. Já aglomerados como M 11 e as Hyades parecem se encontrar entre estes dois extremos. Eles possuem a maior parte das estrelas ainda na sequencia principal, mas já possuem membros entre as gigantes vermelhas.
O astrofísico alemão Rudolph Kippenhahn, professor no instituto Max Planck, tem provavelmente um dos mais belos trabalhos sobre a evolução de aglomerados (e consequentemente de estrelas...) que conheço.
Com auxilio de computadores (nos anos 70...) o Dr. Kieppenham examinou cuidadosamente um grande numero de modelos estelares possuindo uma grande diversidade de massas. Essencialmente ele usou as leis da física para criar um modelo teórico de um aglomerado estelar.
Este aglomerado teórico ganhou o sugestivo nome de M 007. Utilizando-se de intervalos de tempo pré-estabelecidos o Dr. Kieppenhahn parava os cálculos em seus pré-históricos computadores e olhava o que acontecia em M 007. Aí então ele pedia gentilmente para aquela maquina que imprimisse a temperatura de superfície e a luminosidade de todas as estrelas de M 007.
E de posse destes dados o Dr.Kippenham realizou diversos diagramas H-R que podemos ver abaixo:





Quando as estrelas estreiam no nosso diagrama 1 elas se apresentam com um fiapo vertical na área correspondente as gigantes vermelhas. Na verdade não são estrelas ainda. Elas apenas se condensaram de nossa nuvem de gás teórica e não apresentam reações termonucleares em seus núcleos. Elas são protoestrelas. Prontas para iniciar sua “ contração Hayashi” ( leia o post sobre M 16...) . É importante notar que a distribuição das protoestrelas por nosso fiapo vertical acontece de acordo com sua massa.  As protoestrelas mais maciças e mais brilhantes mais em cima e as menos maciças e mais apagadas, mais embaixo.
Depois de 5000 anos as protoestrelas mais maciças estão prontas para iniciar a queima de hidrogênio em seus núcleos. Como podemos ver no diagrama 2 elas se encaminham rapidamente em direção a sequencia principal. As outras estrelas ainda estão se submetendo a “Contração Hayashi”.
Quando M 007 atinge 100.000 anos (diagrama 3) as estrelas mais maciças finalmente adentraram a sequencia principal. Elas são as estrelas mais quentes, brilhantes e azuis que existem. Elas são estrelasdo Tipo “O”.  Devido a sua imensa massa elas atingem a temperatura e a pressão necessárias para iniciar reações termonucleares em seus núcleos de forma rápida e fácil. Elas queimam hidrogênio em seus núcleos de uma forma que deixaria qualquer cantor de reggae morto de inveja.  Já as protoestrelas de massa um pouco mais modestas estão se aproximando da sequencia principal. Em breve elas também iniciarão as reações termonucleares em seu núcleo. Já as estrela de baixa massa parecem não terem feito nada ainda. Elas ainda estão se submetendo a Hayashi de forma bem lenta. Estão apenas um pouco menos brilhantes do que 100.000 antes.
Nosso próximo gráfico mostra o andar das coisas 3.000.000 anos depois. Todas as estrelas mais maciças se encontram na sequencia principal. As estrelas do tipo B e A se reuniram as gigantescas estrelas O no processo de queima de hidrogênio em seus núcleos. Mesma estrelas menos maciças começam a se aproximar da sequencia principal. As temperaturas em seus núcleos se aproximam de 10.000.000 K e em breve a queima do hidrogênio vai se iniciar.  Compare este diagrama do imaginário M 007 com o diagrama apresentado no post sobre M16 a respeito de NGC 2264 e 6611. È assim que determinamos que ambos os aglomerados citados anteriormente possuem apenas alguns milhões de anos...

Com 30.000.000 de anos (gráfico 5) percebemos que as estrelas do tipo O desapareceram. Elas “fumaram” seu hidrogênio todo. Seus núcleos se contraíram e suas atmosferas se expandiram Elas são agora Gigantes vermelhas que consomem Helio em seus centros. As estrelas de massa intermediaria finalmente atingiram a sequencia principal. Estrelas do tipo F e G se reuniram as B e A na queima do hidrogênio. E as estrelas menos maciças estão quase atingindo a sequencia principal.
Neste ponto os antigos computadores do Dr. K não têm mais potencia para lidar com as estrelas que passaram da fase de gigantes vermelhas. Depois que nossas gigantes mais gigantes acabaram de consumir o Helio o modelo do Dr. K simplesmente as joga fora... Ingrato.
Quando M 007 atinge 66.000.000 de anos as estrelas tipo B são as gigantes vermelhas (gráfico 6). Todas as restantes residem na sequencia principal. Perceba ainda que a sequencia principal esta queimando que nem uma vela. Conforme o aglomerado vai se tornando mais velho e mais velho a sequencia principal vai ficando mais curta conforme as estrelas mais maciças vão se tornando Gigantes vermelhas.
Tudo isto se torna bem aparente quando analisamos os últimos dois gráficos. Quando vemos o gráfico de 4.250.000.000 de anos até as estrelas do Tipo F já estão indo para o saco...
A partir deste estudo teórico os astrônomos realizaram que a aparência dos diagramas H-R de um aglomerado nos conta sua idade.
Agora vamos voltar ao nosso diagrama H-R COMPOSITE e comparar com o que aprendemos com M 007.
Ngc 2362 e o Aglomerado duplo (H e X) em Perseus são comparativamente jovens. São provavelmente elementos com apenas 10.000.000 anos.
No caso das Plêiades e de M 11 a sequencia principal já fumou as estrelas O e B. Logo eles têm pelo menos 100.000.000 de anos.
As Hyades até mesmo as estrelas do tipo A já estão se apresentando como Gigantes vermelhas. 1.000.000.000 de anos. M67 as do tipo F já se apresentam como gigantes vermelhas. E assim 5.000.000.000 de anos E no vovô Ngc 188 até as estrela do tipo G já estão prontas para crescer. Ngc 188 tem que ter pelo menos 10.000.000.000 de anos.
Agora entendemos como as estrelas vivem. Espero um dia contar para vocês como elas morrem. Os computadores atuais parecem já suportar a temperatura e a pressão envolvidas no processo...
Para acabar recomendo que você monte seu telescópio e observe NGC 188, M67, Ngc 752, M44, Hyades, Aglomerado de Berenice, M 11, M 41, Plêiades, O Aglomerado duplo em Perseus (este difícil para os Australis) e NGC 2362.
Nesta ordem. E assim você vai mostrar seu respeito pelos mais velhos.

Bibliografia:
Astronomy ; The Structure of the Universe- W.J. Kaufmann
              Richard L. Bowers, Terry Deeming, "Astrophysics I: Stars", Boston 1984
       Rudolf Kieppenhahn, Alfred Weigert, "Stellar Structure and Evolution"


quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Evolução Estelar e M 16 - A Nebulosa da Aguia

M 16 e Ngc 6611


M 16 é uma das mais belas nebulosas do céu. Localizada na constelação de Serpente (Cauda) é conhecida com a Nebulosa da Águia.
Suas nuvens escuras ,em contraste com a nebulosa em si, dão seu nome.  Ela foi descoberta por de Cheseaux em 1745 ou 46. Messier a redescobre de forma independente em 3 de Junho de1764.


detalhes de M16- (Hubble)

É um DSO riquíssimo.
Herschel o inclui em seu catalogo.
A nebulosa em si é denominada M 16. Mas o aglomerado que se encontra envolvido é denominado Ngc 6611.
Existem algumas controvérsias que o aglomerado não teria sido incluído no New general Catalog tendo sido incluído apenas em 1908 no Index Catalog (IC) como IC 4703 (segundo a Wikipédia).
Me parece tolice... Ngc  6611 é o aglomerado associado a M 16.  E IC 4703 já  é M 16. O NGC 2000.0 classifica erroneamente 4703 como um aglomerado independente.
Localiza-los não é difícil.
Partindo do Asterismo do Bule em Sagitário e seguindo a Via Láctea você irá percebê-la até a olho nu em locais escuros. Outra opção é achar Gama Scutum e Nu Ophiucus. A nebulosa fica entre estas estrelas e é facilmente localizada pela buscadora. Em locais de muita poluição luminosa você vai perceber apenas o aglomerado Ngc 6611.
O Aglomerado é muito jovem e não tem mais que 5.5 milhões de anos. Sendo assim é uma área de intensa formação estelar. Localizada a cerca de 7000 anos luz do sol a nebulosa habita o Braço de Sagitário – Carina na Via Láctea.
Observada por pequenos Telescópios M16 não é tão proeminente com a Nebulosa da Lagoa ( M8) e o aglomerado é bastante chamativo. Com grandes ampliações se suspeita os “Pilares da Criação” . É uma bela imagem com minha ocular 17 mm (70X).
Smyth a descreveu da seguinte forma em 1835:
“...Um aglomerado disperso porém bastante grande , nas margens do Escudo de Sobiesky ( antigo nome de Scutum) . Na galáxia. Descoberto por Messier em 1764 e registrado como uma massa de pequenas estrela envoltas em tênue luminosidade. As estrelas estão dispostas em diversos pares circundados por pontos evanescentes com componentes se espalhando por vários minutos...”
Bem poético .  

Mas o mais interessante em região de M16 é que podemos ter uma lição bastante esclarecedora sobre evolução estelar.
Os Pilares da Criação
Uma foto famosa, feita Pelo Hubble Space Telescope em 1995, apresenta  a região . Foi batizada como “Os Pilares da Criação”. O nome não poderia se mais bem dado.
As nuvens negras que dão nome a nebulosa são um berçário de estrelas. São nelas que surgem os embriões para que surjam  protoestrelas . É onde se inicia o trajeto da matéria para tornar-se uma estrela.
  São nestes pilares frios e escuros que acontece um dos maiores espetaculos da natureza.
Vamos pensar um pouco sobre estas nuvens frias e escuras. Estas nuvens moleculares não são completamente homogêneas.
E nestas irregularidades o gás é um pouco mais denso do que as áreas vizinhas na nuvem escura. Como esta irregularidade vai conter um pouco mais de matéria que suas áreas circundantes ela vai possuir um campo gravitacional levemente mais forte. E assim esta irregularidade vai atrair o gás próximo. Desta forma esta irregularidade começa a crescer. E o ciclo se repete. Finalmente aquela irregularidade atraiu trilhões de toneladas de gás e possui diversas vezes a área de nosso sistema solar. Esta formado embrião de uma estrela.  
            É importante notar que o processo através do qual a irregularidade cresce vai ocorrer apenas se a temperatura na nuvem for muito fria. Algo com 10 K ou menos. Caso contrario a velocidade nos átomos do gás será alta demais para que a condensação comece a ocorrer. E assim a irregularidade não seria capaz de conservar o gás que ela atraiu.
  È curioso, como quase tudo na física, que vá um pouco contra o senso comum que as fornalhas estelares venham do frio. Astrofísica é quase sempre assim... E irregularidade(s) é uma palavra chave para diversos processos naturais.   De uma olhada em "Instabilidade de Jeans"...
            Conforme este embrião começa a se contrair e se comprimir a pressão, densidadee temperatura  começam a crescer. Formou-se uma protoestrela. Finalmente a temperatura no núcleo da protoestrela atinge tal extremo que os núcleos de hidrogênio estão viajando rápido o suficiente para a fusão ocorrer. Estes processos estão ocorrendo no interior dos Pilares da Criação. E diversos termos desenvolvidos por cosmos físicos são utilizados para denominar as diversas partes deste processo. EGG´s, Glóbulos de Bock e etc... 

            Neste momento acho que devemos apresentar o Diagrama Hertzsprungel – Russel a vocês. É uma das ferramentas mais poderosas para se entender o universo e a natureza das estrelas...
 A outra é a espectrografia. Mas esta vai ficar para próxima.


Em 1911 o astrônomo dinamarquês Ejnar Hertzsprung desenhou um gráfico com a magnitude absoluta em um eixo e com a classe espectral em outro. Dois anos depois o americano Henry Norris Russel fez a mesma coisa. Ele pode ainda apresentar Luminosidade e massa em seus eixos e diagramas com estas constantes (e outras...) serão de enorme valia para a compreensão do universo...
O que torna o diagrama H-R tão importante é que se percebermos é que o gráfico não é recoberto de pontos de uma forma desordenada e totalmente randômica. Na verdade podemos perceber que estas se reúnem em três grupos principais.
            Cruzando o diagrama na diagonal estão as estrelas pertencentes a sequencia principal. Quase todas as estrelas observáveis a olho nu pertencem a ela. A sequencia principal se estende das brilhantes, azuis e quentes estrelas do lado superior esquerdo até as frias, vermelhas e apagadas estrelas no canto inferior direito do diagrama.
            Enquadrando estas temos os gigantes vermelhas no canto superior direito e as anãs brancas no canto esquerdo inferior.
            Quase toda estrela avermelhada que se percebe a olho nu é uma gigante vermelha.
            Não se vê nenhuma anã branca sem auxilio telescópico.

            Aplicando o diagrama H-R ao aglomerado Ngc 6611 que é extremamente jovem e foi criado a partir de protoestrelas dos Pilares que forma M16 podemos aprender mais ainda sobre a evolução estelar.
            Os astrofísicos descobriram que todas estas estrelas recém-nascidas virão a ser membros da sequencia principal.
            Um astrofísico japonês, C. Hayashi foi capaz de demonstrar teoricamente como estas protoestrelas em processo de contração se tornam estrelas da sequencia principal. . Quando estas proto estrelas começam a emitir luz elas ainda são grandes e relativamente frias. Mas apesar de sua posição no diagrama H-R elas não devem ser confundidas com gigantes vermelhas.  Muito rapidamente estas proto estrelas estas protoestrelas diminuem de tamanho e mantém sua temperatura superficial. A curva de Hayashi ou a "Contração Hayashi"( Hayashi tracks) , que estas protoestrelas vão seguir, depende de sua massa. No diagrama abaixo vocês podem ver a evolução das protoestrelas até que assentem na sequencia principal.
Hayashi T 
Coforme uma estrela se aproxima da sequencia principal seguindo a curva descrita por Hayashi as coisas começam a acontecer mais devagar.
Nós vamos poder observar estrelas que estão “quase” atingindo a sequencia principal, ainda no começo de sua vida no nosso aglomerado Ngc 6611.  Elas se encontram na fase pré-sequencia principal. Diversos de seus membros são candidatos ao posto de   serem estrelas pré sequencia principal.
            Este elo perdido estelar pode ser visto aqui.  Este fenômeno também já foi observado em Ngc 2264. Este o aglomerado envolvido com a famosa Nebulosa da Roseta em Monocerros. Veja como as estrelas na Roseta também se encontram logo acima da sequência principal.

. Estas estrelas se encontram nos estágios finais de sua contração e as reações termonucleares em seus núcleos estão se iniciando. Muitas delas são variáveis eruptivas de um tipo batizado como T Tauri. Elas apresentam variações erráticas e rápidas de seu brilho. Provavelmente devido a fato que ainda estão se contraindo. Ainda não atingiram equilíbrio hidrostático.
Ahh! não posso me esquecer . Toadas as estrleas na sequencia principal tem em comum o fato de terem reações termonucleares acontecendo em seu nucleo...
Quando você visitar M 16 você vai observar uma etapa belíssima da vida de diversas estrelas.
Em um paralelo conosco (é sempre assim...) você vai ver a concepção, gestação, infância e adolescência. E algumas das estrelas já estarão adiantadas a caminho a maturidade.
Já na sequência principal. 

Só para não ficar com aquela sensação de que esqueci algo gostaria de apresentar como algumas estrelas vão evoluir . E o passeio que elas farão através do Diagrama H-R. Me foi muito esclarecedor. Espero que seja para vocês também.



Creio que este seja o primeiro post do Nuncius Australis que apresenta bibliografia. Mas admito que apesar de parecerem chatos os textos indicados são bem mais leves do que supõe a vã filosofia. E muito menos ainda se suporem cosmo-física , quimica , diagramas e etc...  

           Mais  sobre evolução estelar em:
http://nunciusaustralis.blogspot.com.br/2012/09/m-007-e-mais-evolucao-estelar.html

Bibliografia :